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:: 21/maio/2021 . 22:29

“A GUERRA NÃO TEM ROSTO DE MULHER” – (Parte I)

Um livro que fala da guerra, mostrando um outro lado desconhecido, não das batalhas heroicas, das vitórias, das estratégias dos grandes generais e dos heróis. É uma obra de sacada jornalística da autora ucraniana Svetlana Aleksiévitch, vencedora o Prêmio Nobel de Literatura de 2015, onde ela entrevista as mulheres russas que participaram da II Guerra Mundial.

Mesmo com a rejeição da editora (aqui no Brasil é da Companhia das Letras), a escritora se manteve em seu propósito de apresentar uma outra face praticamente nunca explorado numa guerra. Essa face é das mulheres com suas cargas de sentimentos, sofrimentos e garras nos campos de batalha. Ela entra também no âmago do ser humano existencial.

Em “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher” estampa cenas e depoimentos chocantes das mulheres, todas jovens adolescentes entre dezesseis e vinte anos, que foram para a linha de frente e resistiram com bravura. Tem também o seu lado de ternura, de muitos choros e até de amor contido. É uma obra que encanta pela sua narração e passagens comoventes, num estilo jornalístico de entrevistas. São mulheres que se transformaram em homens.

“Passei três anos na guerra… E, nesses três anos, não me senti mulher. Meu organismo perdeu a vida. Eu não menstruava, não tinha quase nenhum desejo feminino. E era bonita… Quando meu futuro marido me pediu em casamento… Isso já em Berlim, ao lado do Reichstag… Ele disse: “A guerra acabou. Sobrevivemos. Tivemos sorte. Case comigo”. Eu queria chorar”.

É um dos trechos comoventes do livro, que a editora diz ser impressionante, de uma história pouco conhecida, contada com minucias pelas próprias personagens, incríveis soldadas soviéticas que lutaram com violência, mas sem perder a ternura. Trata-se de “um capítulo obscuro que agora ganha luz do dia e promete trazer novo entendimento sobre um dos eventos mais trágicos da história humana”.

Numa conversa entre a escritora e um historiador, este cita que no século IV a.C, em Atenas e em Esparta, havia mulheres lutando nas tropas gregas. Depois elas participaram das campanhas de Alexandre, o Grande. Segundo o historiador russo Nikolai Karamzin, as eslavas iam para a guerra com seus pais e maridos… no cerco a Constantinopla, em 626.

Na Inglaterra, nos anos de 1560 a 1650, começaram a se formar hospitais militares em que mulheres-soldados serviam. Na I Guerra Mundial, a Inglaterra já aceitava mulheres na Força Aérea Real. Na II Guerra, em muitos países, as mulheres serviam em todas as forças armadas. Nas tropas inglesas eram 225 mil, nas americanas, 450 mil e nas alemãs, 500 mil.

A obra traz narrações de mulheres que prendem o leitor do início ao fim dos depoimentos, como “eu era tão pequena quando fui para o front que, durante a guerra, até cresci um pouco”. “Para nós, a dor é uma arte. Quase do outro lado de lá… Não há por que enganar os outros e enganar a si mesmas”.

Do diário do livro, a escritora afirma que o ser humano é maior que a guerra. Ela mesma diz que não escreveu sobre a guerra, mas sobre o ser humano na guerra, “Não estou escrevendo a história de uma guerra, mas a história dos sentimentos, Construo templos a partir de nossos sentimentos… De nossos desejos, decepções. Sonhos. Não se pode arrancar uma flor sem motivos”.

“Os homens se escondem atrás da história, dos fatos, a guerra os encanta como ação e oposição de ideias, diferentes interesses, mas as mulheres são envolvidas pelos sentimentos”. “A guerra delas tem cheiro, cor, o mundo detalhado da existência. E é ainda mais insuportável e angustiante matar, porque a mulher dá a vida”.

Svetlana ressalta em seu livro que “penso no sofrimento como o grau mais alto da informação, diretamente conectado ao mistério da vida. Toda a literatura russa fala disso. Nela se escreveu mais sobre o sofrimento do que sobre o amor. E é a respeito disso que mais me contam… – destaca.

Em uma de suas entrevistas, a autora ouviu de uma ucraniana a respeito da terrível fome: Já não encontravam nem sapos, nem ratos. Tinham comido tudo. Metade das pessoas do povoado dela tinha morrido. Da família, somente ela sobreviveu porque à noite roubava estrume de cavalo do estábulo do colcoz e comia. Melhor congelado, tem cheiro de feno. Quente não entra.

Para editar o livro, ela confessa que passou dois anos recebendo recusas das editoras. “Procuro pelo pequeno grande ser humano”. A escritora descreve sobre o que a censura cortou da sua obra, mas foi mantido na publicação. Narra sobre a conversa que teve com o censor.

Sobre a Grande Guerra, Svetlana fala de situações chocantes e até dos prisioneiros condenados a trabalhos forçados pelo regime sangrento de Stalin, como nesse trecho: “Quando fugiam do campo de trabalho, eles levavam um jovem para isso… A carne humana é comestível… Era assim que se salvavam…

Existia um decreto que dizia que os soldados soviéticos não se rendiam ao inimigo. Como disse o camarada Stalin, não temos prisioneiros, temos traidores. Os rapazes levaram a mão à pistola… O instrutor político ordenou que os jovens ficassem vivos, e ele mesmo se matou com um tiro. São revelações da autora do livro que deveria ficar de fora.

Em 1943, Svetlana narra de uma testemunha que, quando o exército estava avançando pela Bielorrússia, um menino apareceu de algum lugar gritando: Matem minha mãe… Ela amava um alemão. No começo, os alemães desfizeram os colcozes (cooperativas coletivas), deram as terras para as pessoas.

UMA PROFISSÃO QUE AINDA RESISTE

Em meio ao avanço da revolução industrial do século XVIII, da evolução das civilizações, da tecnologia da informação e do mundo virtual, muitas profissões milenares ainda resistem a todas essas mudanças e insistem em continuar vivas. Elas tiveram suas origens em nossos antepassados, cujos netos e bisnetos agora tentam, com dificuldade, transmitir aos seus filhos, mas somente alguns abraçam a atividade. A grande maioria dos jovens parte para outras carreiras que dão mais dinheiro e visibilidade no mercado. São as chamadas profissões em extinção, e a de alfaiate, entre tantas como a de relojoeiro, serralheiro, sapateiro, ferreiro, amolador de tesouras e facas, é uma delas que ainda é procurada em pleno século XXI.

Como em todas outras grandes cidades, em Vitória da Conquista os alfaiates são contados a dedo, como respondeu Divanei “Sansão”, de 53 anos, que desde os treze anos aprendeu a costurar com seu pai Ausírio Correia da Silva, um dos mais antigos que já faleceu. Seu filho Hélio Correia da Silva, de 70 anos, também fez a mesma caminhada do irmão, mas sua irmã tomou outro rumo. Divanei disse que sua mãe também era costureira. Coisa de família, de pai para filho. Há quanto tempo ainda vamos encontrar um alfaiate no comércio para fazer um terno, uma calça, uma camisa, uma jaqueta ou consertar uma peça que não se ajustou no corpo? Essa pergunta é difícil de responder porque essas profissões estão ficando cada vez mais escassas.

Além da anunciada extinção do alfaiate e outras profissões, a sociedade e o mercado em geral não dão mais valor para elas, e a mídia raramente levanta uma matéria sobre este assunto. Só lembramos do alfaiate, por exemplo, quando precisamos de fazer um conserto ou correção numa peça comprada numa loja. Atualmente, poucas pessoas, somente as mais idosas, compram uma “fazenda”, como se falava antigamente, para mandar o seu alfaiate costurar uma calça, um paletó ou uma camisa. Em tempos passados, quando se encontrava muitos deles espalhados pelas cidades, se dizia “o meu alfaiate é muito bom”, e recomendava o profissional para um amigo. Hoje a pergunta é se ainda existe alfaiate, e aonde encontrar um.

 

 

POEMA DE AMOR

Poema de autoria do escritor e jornalista Jeremias Macário

Você sempre me pede,

Para fazer um poema de amor,

Mas minha veia é nordestina,

De sangue catingueiro da sina,

Que tenta tecer os fios do amor.

 

Você sempre me pede,

Para fazer um poema de amor,

E eu já te amo do jeito que sou,

Seco como pedregulho sertanejo,

Te vejo no meu eu interior,

Com o coração que ainda tem dor.

 

Você sempre me pede,

Para fazer um poema de amor,

E eu sigo como um viajante,

Errante nas asas do Condor,

Não sou do tipo romântico,

Sou mais fechado lacônico,

Mas também fonte de calor.

 

Você sempre me pede,

Para fazer um poema de amor,

Perdão, não sei fazer poema de amor,

Só sei falar dessa injustiça social,

De tanta gente viver desigual,

Na cidade e no sertão sem cor.

 

Você sempre me pede,

Para fazer um poema de amor,

E peço que não me leve a mal,

Sou assim meio bruto e rude,

Talvez seja um sujeito anormal,

Nascido em outro planeta sideral,

Mas que procura cativar sua flor.

 

 





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