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RUBEM BRAGA – O MAIOR CRONISTA BRASILEIRO EM CONSTANTE ATIVIDADE

Conterrâneo do cantor e compositor Roberto Carlos, o cronista Rubem Braga nasceu em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, em 12 de janeiro de 1913, véspera da I Guerra Mundial. O menino travesso era filho de Francisco Carvalho Braga e Raquel Coelho Braga. Começou seus estudos no colégio de dona Palmira Wanderley.

Sua biografia, história e crítica são contadas em “Literatura Comentada” por Paulo Elias Allane Franchetti e Antônio Alcir Bernardez Pecora. Tempos depois de muita curtição no interior, de férias na fazenda e na praia, Rubem Braga foi morar em Niterói onde terminou os estudos secundários em 1928.

No ano seguinte ingressou na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, mas em 1931 transfere-se para Belo Horizonte onde concluiu o curso. Trocou a advocacia pelo jornalismo. Seus primeiros ensaios literários foram em “O Itapemirim”, no Grêmio do Colégio.

Em Cachoeiro, manteve uma crônica regular o “Correio Maratimba”, no Correio do Sul, jornal fundado pelo seu irmão Armando.   Em Minas, ainda como estudante, entra em contato com a imprensa e faz suas crônicas na redação do “Diário da Tarde”.

Em 1932, no Governo de Getúlio Vargas, ele já tinha 19 anos e enfrentou uma aventura durante a revolta dos paulistas. Com a Revolução Constitucionalista, Braga é enviado pelos “Diários Associados” para fazer uma reportagem na frente de guerra da “Mantiqueira”, do lado getulista.

Como o jornal era favorável à Revolução, o repórter foi preso em Manacá, sob suspeita de espionagem e enviado de trem para Belo Horizonte onde foi libertado. As notícias referentes às vitórias paulistas eram censuradas e as que expunham insucessos eram barradas pelo jornal.

De Belo Horizonte, Rubem Braga foi para São Paulo e, em fins de 1933 torna-se cronista e repórter do “Diário de São Paulo” onde estavam Alcântara Machado e Mário de Andrade. Segundo um jornalista, “há plantas que nascem e crescem depressa; outras que são tardias e secas”.

A amizade de Rubem com Antônio se assemelha às primeiras, e a com Mário às últimas. Quando Alcântara foi para o Rio de Janeiro, em 1935, convidou o amigo para trabalhar no “Diário da Noite”. Rubem também escreveu para “O Jornal”.

Depois da morte de Alcântara Machado, ainda em 1935, Rubem vai para Recife onde dirige a página policial do “Diário de Pernambuco”. Pela primeira vez consegue publicar uma notícia de suicídio, contrariando a filosofia do jornal. Com o desentendimento, funda a “Folha do Povo”, apoiando a Aliança Nacional Libertadora.

Em setembro vai para Porto Alegre e depois para o Rio onde trabalha no jornal “A Manhã”. Com a reação à tentativa de golpe comunista, o jornal é fechado, e o repórter desempregado. Braga deu a volta por cima. Em 1936, a editora José Olympio edita “O Conde e o Passarinho”, o primeiro livro do jornalista com as melhores crônicas, com boa aceitação.

No mesmo ano retorna a Belo Horizonte e trabalha na “Folha de Minas”. Logo que se casou, voltou ao Rio e depois São Paulo onde fundou a revista “Problemas”. Em 1937, em 10 de novembro é decretado o Estado Novo. Ele acompanha a notícia pelo rádio da casa de Oswaldo de Andrade com o amigo Sérgio Buarque de Holanda.

Em 1938 já está no Rio de Janeiro escrevendo para o jornal “O Imparcial”. Com Samuel Wainer e Azevedo Amaral, funda a revista “Diretrizes”. Perseguido pelo regime Vargas, se refugia no sítio de Carlos Lacerda. Quando Ademar de Barros é nomeado interventor em São Paulo, é para lá que Braga vai. Irrequieto, de lá segue para Porto Alegre, em 1939, onde trabalha no “Correio do Povo” e na “Folha da Tarde”.

Quando começa a II Guerra, Braga entrevista um membro da colônia polonesa que, com júbilo comemora o episódio, entendendo que dessa vez a Polônia teria a oportunidade de esmagar a Alemanha e a Rússia, mas só que ocorreu o contrário. Como comentarista político, chegou a ser preso e enviado de navio para Santos. Acontece que ele consegue desembarcar em Paranaguá, no Paraná, e de lá vai para São Paulo onde trabalha em “O Estado de São Paulo”.

Braga deu uma grande guinada em sua vida e, entre 1941 e 42, passa a vender pedras semipreciosas e a trabalhar em publicidade. Foram épocas de amarguras, ameaças, censuras e temores. Em 1943, Rubem ocupa o cargo de chefe de publicidade do Serviço Especial de Saúde Pública. No ano seguinte publica, em São Paulo, pela Editora Brasiliense, sua segunda coletânea de crônicas “O Morro do Isolamento”.

Nesse ano o Brasil envia tropas para a Itália, para combater os nazistas. Braga foi designado pelo “Diário Carioca”, para fazer a cobertura das atividades da Força Expedicionária Brasileira e seguiu para o front em setembro. Todos acontecimentos foram anotados para suas crônicas de guerra. No final, Rubem volta para o Brasil e publica “A FEB na Itália”, reunindo as melhores crônicas enviadas ao “Diário Carioca”. Com essa obra, Braga se torna um sucesso na nossa literatura moderna.

Em 1946, no “Correio da Manhã” e em “O Estado de São Paulo”, Rubem vai a Buenos Aires cobrir a eleição de Peron. Em 1947 trabalha ao lado de José Lins do Rego no jornal “A Manhã”. Depois, como correspondente de “O Globo”, foi por alguns meses correspondente em Paris.

Rubem escreve seu terceiro livro “Um Pé de Milho”, em 1848. No ano seguinte veio “O Homem Rouco”. Em 1950 retorna a Paris como correspondente do “Correio da Manhã”. Na volta ao Brasil, em 1951, escreve “50 Crônicas Escolhidas”. Em 1952 funda “Comício”. Faz mais uma escala em Paris. A partir de 1953 escreve para a “Manchete”. Em 1954, ano do suicídio de Vargas, o Serviço de Documentação do Ministério da Educação edita o livro de Braga, intitulado “Três Primitivos” (vida e obra de três pintores).

Em 1955, Braga é nomeado chefe do Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil, no Chile, cargo do qual desiste logo cedo. No mesmo ano publica “A Borboleta Amarela”. Em 1956 é enviado aos Estados Unidos pelo “Diário de Notícias” e “Manchete”, para cobrir as eleições do general Eisenhover. Entre 1957 e 60 publica mais três livros “A Cidade e a Roça”, “100 Crônicas Escolhidas” e “Ai de Ti Copacabana”.

Nessa época, torna-se embaixador e vai para Marrocos onde permanece até 1963 quando pede sua exoneração do cargo. Dois anos mais tarde viaja para Índia. Em 1967 funda com Fernando Sabino a Editora “Sabiá” que publicou seu livro “A Traição das Elegantes”. No ano seguinte trabalha no “Diário de Notícias” e “Última Hora”.

Em 1977 escreve “Crônicas Escolhidas” e colabora na coletânea “Para Gostar de Ler”, com Drummond de Andrade, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. Nesse ano começa a atuar na Rede Globo de Televisão.  Morre em 19 de dezembro de 1990, depois de um câncer, como o maior cronista brasileiro de todos os tempos.

 

 

 

AS MORTES E A VACINAÇÃO

 

Infelizmente, em decorrência de um monte de fatores negativos que todos os brasileiros estão cansados de saber, chegamos na fúnebre cifra de mais de 400 mil mortes no país vítimas da Covid-19, enquanto falta vacinas em vários lugares para imunizar a população. Muitas mortes e poucas vacinas. Desde o início do ano que os estados e municípios recebem os tiquinhos de lotes de doses que logo se acabam, sem contar o gasto astronômico que o país tem para transportar pequenas quantidades quando seria menos dispendioso se fossem grandes volumes em poucas vezes. Somente nesses quatro primeiros meses de 2021 foram mais de 200 mil mortes, um pico que coloca o Brasil como o segundo do mundo em número de vidas que se foram, sendo apenas superado pelos Estados Unidos, que estão em declínio por causa da vacinação em massa. Mesmo assim, o Brasil tem as portas abertas para a entrada de pessoas vindas de fora, sem medidas de restrição, enquanto nação nenhuma quer receber brasileiro em seu território, e quando entra, é obrigado a entrar em quarentena. Na “CPI do Fim do Mundo”, que não vai resultar em nada, batem boca, e o povo que se lasque.

O DESERTO E O MAR

Poema de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

O deserto é o mar de mortais poeiras,

O mar é o deserto de águas traiçoeiras,

Eu sou o deserto rasgante incerto,

Você é o mar nas ondas a cortar.

 

Cada um com seu mistério profundo,

O Saara africano é o maior do mundo,

O deserto é o mar seco árido infértil,

Que um dia já foi Crescente Fértil.

 

Temidos pelo viajante aventureiro,

Os dois são muralhas contra invasão,

E o poeta escreveu “Navio Negreiro”,

Em alto mar condenou a escravidão.

 

Novas rotas uniram ilhas e continentes,

Numa procissão de veleiros imponentes,

Com suas surpresas de armadilhas de teias,

Como o deserto com suas nuvens de areias.

 

Os faróis da era acendem seus pavios,

As caravanas de camelos são como navios,

Com suas cargas escravas, virgens e marfim,

Nos horizontes de ouro das linhas sem fim.

 

Engolem vidas e escondem piratas,

Com seus oásis e montanhas de pratas,

O deserto da sede cria visões e miragens,

E o mar a balançar nas galeras selvagens.

 

Sacudidos pelo calor dos testes atômicos,

O deserto foi dos peregrinos islâmicos,

Vias de mercadorias para levar o Alcorão,

E pelo mar, o jesuíta fez o nativo cristão.

 

 

 

E TOME MAIS TRAPALHADAS!

Um diz que tomou a vacina escondida, certamente com receio do chefe saber. O outro ataca novamente a China de quem tanto precisa para comprar medicamentos e insumos químicos. Confunde uma vacina alemã com americana.

O capitão-presidente sai de Brasília com sua tropa para uma cidadezinha, na Bahia, gastando o dinheiro do povo para inaugurar uma estrada de apenas 22 quilômetros que durou quatro anos para ser concluída.  Para provocar o Governo do PT, faz aglomerações para disseminar o vírus e visita um batalhão da polícia.

ESPETÁCULO DANTESCO

Sem máscaras, os seguidores da morte aplaudem, tiram selfies, salivam entre eles, cospem e fazem festas. Que espetáculo dantesco nesses tempos de pandemia de quase 400 mil mortes! Só no Brasil se vê essas cenas bizarras, enquanto o povo passa fome e não tem vacinas para combater a Covid-19.

Todos os dias tem mais trapalhadas no placo Brasil. Na Câmara dos Deputados começam a armar o circo de uma “CPI do Fim do Mundo”, com discursos mentirosos de que estão empenhados em esclarecer e punir os culpados por esse genocídio.

O Renan Calheiro, o homem beneficiário das propinas da Lava-Jato (foi sepultada), com pose de ético e moral, condena os negacionistas, as negligências contra a pandemia e os absurdos cometidos na área da saúde. Pela primeira vez, o filho do Bozó se mostra preocupado com a aglomeração da CPI. Coisa inusitada, merecedora de registro jornalístico. Ele agora não é mais negacionista da ciência!

Tudo não passa de um filme desgastado com mais umas pitadas de horrores, de bruxarias e suspenses. Os feiticeiros são praticamente os mesmos, e os enredos seguem um roteiro macabro com alguns ingredientes extraídos dos ossos de cadáveres que a terra já consumiu.

Cada vez mais o circo vai ficando mais pesado, com apresentações recomendadas só para adultos sem problemas coronários ou de pressão. Zumbis, lobisomens, fantasmas do mal, monstros e outras criaturas dos infernos travam uma batalha entre si onde depois todos se abraçam. É só uma simulação com efeitos especiais como em filmes de ficção.

A plateia ignara e desmemoriada aplaude os personagens atores, como se fosse uma peça nova, e acreditam que novos tempos virão. “A caravana passa enquanto os cães ladram”. Outros nas arquibancadas de madeira, debaixo da lona suja e rasgada, xingam, jogam pedras, atiram cascas de bananas e promete morte aos construtores do circo. Na saída, cada um segue para suas casas, destilando raiva e prometendo vingança. Uns mais otimistas dizem que tudo vai passar, tudo vai melhorar, mas as trapalhadas continuam e parecem não terem fim.

Parece fora de contexto, mas não é. O autor do livro “Uma Breve História do Mundo”, Geoffrey Blainey, cita no final da sua obra, que a religião floresce quando a vida corre perigo e quando existe dor. Ela continua a florescer nas enchentes, nas catástrofes, quando a fome bate nas portas e a morte precoce é expectativa da maioria das pessoas. A religião floresce quando uma colheita é arrasada por pestes, secas e exaustão do solo ou tempestades.

“Monarcas poderosos ganhavam muito ao sustentá-la. A religião oficial lhes permitia proclamar que eram mesmos descendentes de deuses”. Portanto, desobedecer ao rei significava desobedecer aos deuses. No século XX, segundo o autor, ela enfraqueceu por causa da prosperidade e da longevidade. No entanto, ela retorna forte quando ressurgem os flagelos, como agora em nosso país.

MAIS UMA VEZ LÁ SE VAI O NOSSO ENCANTADO E POPULAR SÃO JOÃO

Pela desorganização e bagunça dos nossos governantes, principalmente o federal, pelo negacionismo da ciência, pela falta de consciência do nosso povo, pela falta de uma cultura do distanciamento e isolamento social, por falta de disciplina dos brasileiro e respeito aos outros, mais uma vez vamos ficar sem o nosso encantado e popular São João dos encontros com os amigos e familiares distantes.

É lamentável viver num país sem estratégia, sem planejamento e uma liderança para conduzir seu povo pelo caminho certo. Quando o mau exemplo desce lá de cima, cá embaixo se perde o equilíbrio, a sensatez e a decência. Cada um passa a fazer o que bem entende, com aquele papo furado do direito do ir e do vir, mesmo que se trate de perdas de vidas. É uma imbecilidade. Estamos numa verdadeira nau dos insensatos.

UMA TERAPIA DE VIDA

Tudo indica que mais uma vez vamos ficar nas lembranças das festas juninas da minha querida Piritiba da Bahia, que nos deixam felizes. Pelo menos por uns dias nos sentimos livres de todos os problemas cotidianos da vida corrida. É uma terapia para a mente e o espírito, que supera todas as outras recomendadas por médicos psiquiatras.

Quando lá estou em minha terrinha, me faz lembrar dos tempos do trem cruzando a estação todos os dias, descendo para Iaçu e subindo para Senhor do Bonfim (não propriamente nessa ordem), trazendo e levando passageiros e cargas das mais variadas mercadorias. E o telégrafo com seu tic-tac traduzindo as palavras! As pongas nos vagões e a molecada gritando!

Saudades dos amigos e parentes, como o primo e irmão Roque (já se foi, mas continua entre nós), Leucia, Rossia, Luane e seu marido Dadai, da “diretoria”, Roniere, Diltão, do “dançar pode, fumar não”, Roquinho e sua esposa, Dalmário, João Rico, do poeta, músico e cantor Wilson Aragão, do grande poeta e teatrólogo Carlos Sampaio (meu colega que também se foi), Mirinho, Agamenon, Lane e Margá Barreto e de tantos outros picotando o tempo, jogando conversa fora e tomando umas biritas e geladas.

Minha Piritiba querida onde me fez moleque jogando bola de gude, baba na Praça de terra da “Getúlio Vargas”, esconde-esconde, chicotinho queimado, corridas de cavalo; tomar banho no açude; “furtar” melancia e frutas; andar nos trilhos do trem groteiro; trocar gibis; assistir filme de cowboys; e inventar outras estripulias nas folgas da escola primária da “Almirante Barroso”, ou quando não estava vendendo água em garotes, doces de leite nas ruas e feixes de lenhas nos jumentos. Naquela época ainda era uma Piritiba de terra batida, com luz de motor até às 22 horas, onde poucos tinham o fogão elétrico.

Minha querida Piritiba dos meus pais que possuíam uma terrinha na localidade de “Calderãozinho”, e aos sábados lá íamos nós em tropas para vender a melhor farinha da região na feira. Ela me deu regra e compasso quando fui para outras bandas estudar e ser seminarista, mas sempre lá estava para rever o meu povo; contar os causos; e curtir o melhor São João. Minha querida aldeia da tapioca gostosa de lamber os beiços.

Pois é, tudo leva a crer que mais uma vez (no ano passado não teve festa), essa pandemia da Covid-19 vai adiar nossos encontros memoráveis de muita tranquilidade e curtição, para contar as histórias e as estórias. Não podemos também deixar de citar a pinga catingueira misturada, as corridas de jegues na praça e as quadrilhas que mantém viva a nossa cultura popular.

Alimentam o nosso viver tomar um quentão; comer uma feijoada ou uma carne assada; e até “encher a cara”, sem nenhuma preocupação com o horário de retornar, mesmo andando na fresca do amanhecer. Ah, não posso esquecer da sagrada farofa de Leucia que só ela sabe fazer! Como é bom passar o São João em Piritiba!

UM BRASIL ANSIOSO E DEPRESSIVO

Hoje eu amanheci com o sentimento de que roubaram nossa primavera de flores, de que surrupiaram nossa dignidade e que a nossa pátria não tem zelado bem de seus filhos, os quais se sentem órfãos de pais. Acordei com aquele gosto amargo na boca de quem tem sede de justiça, com a sensação de que o nosso povo tem um futuro incerto num país tão rico e tão pobre onde existe uma exclusão e um extermínio acelerado dos mais fracos.

Levantei com aquele pesar de um Brasil doente, ansioso e depressivo, justamente de uma gente que sempre foi alegre, cheio de criatividade e orgulhoso da sua terra, da sua aldeia e povoado. Vi tribos divididas e se guerreando. A divisão só faz enfraquecer, e a história das nações está aí para comprovar isso.

UM POVO COM MEDO

A fé e a esperança não são as mesmas de anos atrás, e o nosso amanhã não nasce tão sorridente e radiante como antes, por mais que nos esforcemos para disfarçar a tristeza de uma vitória perdida. O nosso povo tem mais medo do que poderá acontecer no outro dia. Com tantas humilhações, não andamos mais nas ruas e nas multidões com cabeças erguidas, com a certeza de um futuro melhor e menos desigual.

Acordei com as imagens embaçadas como se estivesse numa ressaca e vi crianças de pés descalços a andar pelas favelas e morros maltrapilhos em plenos esgotos a céus abertos. Vi senhoras e senhores a chorar por nada ter o que comer meio dia com seus filhos.

Com a cara feia e estômago roncando, vi a danada da fome bater nas portas dos casebres de quase 20 milhões de nossos brasileiros. Vi jovens subindo e descendo os becos das violências com armas e drogas nas mãos, frutos de um sistema das brutalidades.

Nessa manhã, apareceu em minha mente os mais de 14 milhões de desempregados desiludidos por não encontrar um serviço para o sustento de suas famílias. É uma dor que parece não passar. O que mais ainda nos revolta é essa escravidão do trabalhador. Os oportunistas empresários aproveitam essa situação deplorável para explorar essa mão-de-obra faminta, pagando migalhas de até metade de um mísero salário mínimo.

Foram tantas coisas que passaram em minha cabeça nesse acordar, como de brasileiro que aos poucos vai perdendo seus sonhos. Vi os sindicatos esmagados por uma reforma trabalhista tirana capitalista que prometeu mais empregos, mas só fez escravizar os nossos operários que são obrigados a aceitar qualquer oferta na lida de mais e mais horas de trabalho

Como num pesadelo, foram fleches do passado, do presente e do futuro numa manhã nublada de nuvens carregadas. Vi com muita mágoa as chamas arderem e avançando em nossas amadas florestas, escorraçando e matando nossos animais e toda biodiversidade. Vi madeireiros derrubarem as matas de árvores sagradas.

Rezei para que a nossa Amazônia um dia não se transforme num grande campo de pastagens para bois, ou num deserto. Vi garimpeiros com suas pesadas máquinas escavando a terra à procura de ouro, jogando mercúrio no solo e contaminando os rios. Vi um cenário de escombros e de extermínio dos nossos índios, filhos da terra que sempre aqui estiveram há milhões de anos.

Muita gente pode não gostar, mas meu amanhecer foi um lamento que muitos preferem esquecer e não ficar remoendo, mas só os covardes fogem da realidade para não enfrentar a luta. Como gostaria de ver uma educação de qualidade para todos, com pessoas bem instruídas para termos um Brasil desenvolvido, mais igual e mais livre no amanhã.

Vi uma saúde em estado terminal com nossos irmãos sendo jogados como objetos nos corredores dos hospitais, sem o merecido cuidado e tratamento, principalmente nessa mortal pandemia que tarda a deixar o nosso país onde muitos negam a ciência. Por nossa desunião, falta de estratégia e organização, ódio e intolerâncias, ela aqui encontrou terreno fértil para se proliferar.

Em minhas recordações, depois dessa tormenta que parece não se acabar, vi um futuro, não muito próximo, de um Brasil renascido e renovado, como a fênix ressurge das cinzas, como no dito popular de que depois da tempestade vem a bonança. Assim como a Idade Média foi uma passagem para o Renascimento, assim caminha o nosso país para o porvir das novas ideias.

Para que as novas gerações desfrutem dessa mudança, temos que começar a renovar nossos espíritos para a escolha de um grande guia que una toda a nação em torno de um objetivo comum de acabar com as desigualdades sociais e nos libertar desses grilhões que tentam arrancar de nós a liberdade, o dom mais preciso.

Não basta apenas dizer que dias melhores virão e que tudo vai passar, como se uma graça fosse repentinamente cair dos céus. A divisão só faz nos levar à destruição como está ocorrendo nos dias atuais como o nosso Brasil. Será que estamos sendo testados a atravessar esse padecimento, como uma prova para o nascimento?

O LIVRO IMPRESSO NUNCA VAI MORRER

Há 20 anos os “profetas” da internet anunciaram o sepultamento do livro impresso com o advento do chamado e-book pelo tablete e pelo computador. Até agora quebraram a cara, e vão continuar assim porque o livro impresso nunca vai morrer, muito pelo contrário.

Neste 23 de abril, “Dia do Livro”, o que podemos lamentar é que no Brasil, devido ao baixo índice educacional e cultural, se lê muito pouco em relação a outros países, inclusive se fizermos uma comparação com nossos vizinhos da América do Sul, como Argentina, Uruguai, Colômbia, Peru e outros. É até uma covardia colocar aqui nesta lista Estados Unidos e nações europeias.

Uma prova do baixo índice de leitura é a pequena quantidade de editoras e livrarias brasileiras. Nos últimos tempos, as maiores foram fechadas. Não precisamos ir muito longe. Aqui mesmo em nossa casa, em Vitória da Conquista, uma cidade de 230 mil habitantes, só temos dois estabelecimentos, se não me engano, dessa natureza. Para quem quer um preço mais em conta, felizmente ainda temos “ Sebo o Livreiro”, de Rai, no centro (Beco dos Artistas), com 60 mil exemplares. Esperamos que nunca venha a fechar as portas.

PÚBLICO REDUZIDO

Do início da computação para cá, podemos dizer que o livro emagreceu e tornou-se mais enxuto porque o seu público é cada vez mais reduzido. Além da baixa qualidade na educação e o surgimento do sistema eletrônico (redes sociais), outros fatores de valor menos relevantes, como a baixa aquisição financeira da nossa população e a falta de investimentos dos setores público e privado em novos talentos de escritores, influenciaram para a queda na produção literária.

No entanto, o livro vai continuar em seu devido lugar na preferência daqueles que adoram viajar pelo mundo da leitura, não importando se impresso ou na forma do e-book. Quando falavam que o impresso iria desaparecer, sempre respondia que aquele que não desenvolveu o hábito de ler não usa nenhum dos dois formatos.

É verdade que em nosso país o livro já teve seus bons tempos e era um veículo até citado em mesas de bares. Conheci um colega que lia até nos botequins quando estava só. Foi a saudosa época da nossa efervescência cultural, entre os anos 50 e 60, onde não somente o livro estava na onda, mas também outras linguagens artísticas, como o teatro, a boa música, o cinema, as artes plásticas e a escultura.

Nesse meio tempo de acentuado crescimento intelectual, veio o regime ditatorial com suas censuras, prisões e supressão da liberdade de pensamento e expressão. Toda aquela evolução foi interrompida. Não fosse esse triste episódio, talvez teríamos outro Brasil bem mais desenvolvido e menos desigual. Naquele tempo, muitos livros tiveram como destino a fogueira.

Depois disso, veio uma nova geração com outra mentalidade de não dar muita importância para o saber e o conhecimento. A isso, muitos deram o nome de alienação. O baixo nível de ensino também colaborou para essa decadência. Hoje, todo mundo só faz correr atrás do capital e esquece de alimentar o espiritual.

Os estilos e gêneros mais procurados são os livros de autoajuda, os infantis e de ficção. Ainda bem que muitas crianças têm pegado o gosto pela leitura. Nessa pandemia de muitas mortes e incertezas, a ansiedade e a depressão poderiam ser mais aliviadas se as pessoas ocupassem mais o seu tempo com um bom livro na mão, colocando a imaginação para voar. Tenho certeza que o livro é um bom remédio para a mente e o corpo, principalmente nesse período tão conturbado em que estamos atravessando.

Nesse “Dia do Livro” (23 de abril) quero aqui prestar uma homenagem aos grandes escritores brasileiros e estrangeiros, como Jorge Amado, Euclides Neto, João Ubaldo Ribeiros (baianos), Machado de Assis, José Lins do Rego, Lima Barreto, José de Alencar, Suassuna, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, George Orwell, Jack London, Ernest Hemingway e os brilhantes russos Vladímir Maiakóvski, Leon Tolsltói, Dostoiévski, dentre muitos outros.

AS TRÊS AUTORIDADES MÁXIMAS

Quem não se lembra dos tempos Colonial e Imperial no Brasil onde o bispo, o prefeito e o juiz eram as três autoridades máximas da cidade? Pois é, mas depois da  República, com uma nova Constituição, se não me engano em 1891, essa máxima  foi desfeita, pelo menos teoricamente, mas isso ainda está arraigado na cultura popular. Ainda existe até hoje aquele ditado de “vá reclamar ao bispo” quando alguém não consegue resolver um problema no judiciário, no legislativo ou no executivo. Aqui em Vitória da Conquista (foto de Jeremias Macário), a Prefeitura está ao lado da Igreja Católica, e lá “mora” o bispo. O Fórum de Conquista está mais distante, mas em outras cidades essa localização se repete, e o juiz faz parte desse conjunto arquitetônico, geralmente numa praça. No campo espiritual de hoje, quando o Brasil passou a ser “laico”, a autoridade está dividida entre o padre, o bispo, o pastor ou seu pai-de-santo, dependendo de cada religião. No aspecto civil, o juiz e o prefeito permanecem autoridades mais importantes da cidade. Quando nada é resolvido, se diz para se apelar ao papa. Como sabemos, em muitos casos, o nosso país não é totalmente laico. Em nossas cabeças, o prefeito, o padre e o juiz continuam sendo autoridades principais que são mais recorridos. Os vestígios da nossa cultura, por mais que os tempos mudem, permanecem enraizados em nós.

DA GAIOLA MEDIEVAL

Poema inédito do jornalista e escritor Jeremias Macário (macariojeremias@yahoo.com.br)

Da gelada gaiola medieval,

Voam pássaros libertários da igualdade,

Rasgam os véus das linhas do tempo,

Nas asas dos céus do Renascimento,

Para condenar a crueldade escrava,

Curar séculos de inquisição da palavra,

Que só a Igreja ditava o bem e o mal.

 

Da gaiola gelada medieval,

Sai a Bíblia da Reforma de Lutero,

No dote de cada um ser seu sacerdote,

E atira contra as vendas das indulgências,

Que salvam nobres e excluem os pobres;

Calvino em sua pregação é mais severo,

Defende sua tese da predestinação,

E nega as catedrais das janelas de vitrais,

 

Da gelada gaiola medieval,

Partem navegadores e cientistas,

Jesuítas vão levar suas doutrinas,

Nasce a revolução dos grandes artistas,

Leonardo da Vinci pinta Mona Lisa,

Michelangelo faz a Capela Cristina,

Bartolomeu dobra o Cabo da Esperança,

E lança nova rota marítima pra China.

 

Da gaiola gelada medieval,

A imprensa voa como presente divino,

Para anunciar a luz de um novo destino;

Colombo chama o Novo Mundo de índios,

Nas Américas dos incas, maias e astecas;

Vasco da Gama navega até a terra Índia,

E a história troca suas espadas afiadas,

Por uma guerra ainda mais mortal.

 

Da gaiola gelada medieval,

Voa uma florida ave primaveril,

Deusa da ciência e da tecnologia,

Que bebe do saber e do conhecimento;

Faz o invento do vapor e da energia;

Ergue a era das cidades industriais,

E a fome gera a Revolução Francesa,

Com seus ideais pela melhoria social.

 

 

CONQUISTA VACINA NO FERIADO

Ainda bem que a Prefeitura de Vitória da Conquista reviu um pouco o seu comportamento de um ponto fora da curva em relação a outros municípios baianos e realizou vacinação nesse feriado de 21 de abril. As justificativas dos preponentes da Secretaria de Saúde quanto ao não procedimento nos finais de semana não convencem.

O motivo real não seria porque o executivo não quer pagar horas extras para os servidores? Se for essa a razão, não encontra respaldo na sociedade porque trata-se de agilizar um processo de imunização para salvar vidas, e esse objetivo está acima de qualquer coisa. Ora, se a própria prefeita disse que está com a ciência, a decisão de não vacinar nesses dias é contraditória.

Outro paradoxo gritante é afirmar que está do lado da ciência e escancarar a flexibilização numa situação onde os leitos de UTI dos hospitais públicos que atendem Covid estão à beira de um colapso. Conquista já ultrapassou a cifra de mais de 400 mortes desde quando começou a pandemia e está registrando uma média de dois falecimentos diários.

MEDIDS RESTRITIVAS

Será que esses dados não são mais que suficientes para que se tome medidas restritivas, inclusive com o toque de recolher mais cedo, com o fechamento do comércio e dos bares uma hora antes para que as pessoas não fiquem circulando nas ruas até mais tarde?

Não é mais coerente tomar medidas mais duras e acelerar a vacinação para evitar um possível fechamento de todos os setores não essenciais lá na frente, num quadro mais caótico? Não precisa ser infectologista, pneumologista ou médico para reconhecer que essa é a lógica correta.

Com as aberturas que estão ocorrendo em várias cidades e capitais do Brasil, muitos cientistas já estão prevendo um terceiro pico da doença. Se continuarmos no ritmo de mais de três mil mortes por dia no país, ao final do ano vamos atingir o triste e lamentável número de um milhão de mortes. É só fazer as contas de quantos dias faltam para terminar 2021 e multiplicar pelas perdas diárias. Já estamos encostando nos 400 mil.

Então, não é momento de afrouxar e ceder à pressão dos lojistas e empresários, mesmo sabendo que o remédio é bem amargo para a economia. Mais amargo está sendo a demora no tempo que o país está atravessando para sair dessa crise pandêmica.

Outras nações que optaram pelo isolamento social e adiantaram a vacinação da sua população já estão abrindo as portas e se erguendo. Nessa lentidão das vacinas e com essa bagunça das flexibilizações estapafúrdias, para ceder a interesses exclusivos de terceiros, pode estar certo que o Brasil vai ser o último a se livrar dessa peste.

Ouço muito esse papo emocional de dizer que tudo vai passar e melhorar, mas não se sabe quando. O racional seria ter uma estratégia montada para que o povo não sofresse tanto, inclusive com a fome que se alastrou como rastilho de pólvora. Infelizmente, não temos planejamento. É tudo incerto e confuso. Sobra desorganização e falta liderança no Brasil.





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