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:: 20/mar/2025 . 22:50

UMA IGREJA QUE POUCO SE RENOVOU, COM UMA ELEIÇÃO PAPAL FECHADA

Bem que o Papa Francisco tentou fazer algumas renovações nesses seus doze anos de ministério, mas sempre sofreu a resistência acirrada da ala mais conservadora. Sua marca maior foi levar a julgamento os padres e bispos pedófilos, um dos muitos pecados graves cometidos pela instituição religiosa ao longo desses mais de 2000 mil anos de cristianismo e catolicismo. Outra sua mudança foi a de ser mais compreensivo e flexível para com os homossexuais e gêneros LGBTs. Abriu mais as portas.

O pontificado de João XXIII, através do Concílio Vaticano de 1965, foi até revolucionário em termos interno e externo quando a Igreja se abriu para os problemas sociais e até tivemos os adeptos da teologia da libertação naquela década, cujos defensores foram perseguidos como comunistas e subversivos pelas ditaduras no Brasil e países vizinhos da América Latina. Outro ponto positivo foi mudar a liturgia, com a missa na língua vernácula e de frente para os fiéis.

Além dessas questões que me atrevo a tratar e são polêmicas, gostaria de focar aqui sobre as eleições papais, ao meu ver, fechadas e indiretas, feitas num conclave de 120 cardeais, a maioria já com idade avançada (tem que ter menos de 80 anos) onde o escolhido tem pouco tempo de “reinado”.

Na verdade, o pleito nunca foi democrático. Pelo menos deveria contar com a participação de diáconos, padres, monsenhores, bispos e arcebispos. O indicado deveria ter no máximo 70 anos como forma de colocar sangue novo na Igreja. Em casos mais recentes, o Bento XVI foi obrigado a renunciar e agora o nosso Francisco está convalescente prestes a deixar o cargo.

Como não se trata de dogmas (são 43 ou 49 divididos em oito categorias), os quais não se discute e são como sentenças judiciais que devem ser cumpridas, por que não estabelecer, então, um período de mandato de governo? Por falar em dogmas, sempre tive minhas dúvidas desde quando seminarista. É como a fé que é ministério e não se tem uma explicação exata. É diferente da ciência.

Quem sou eu para opinar sobre assuntos tão profundos e delicados! Assim deve estar imaginando muita gente, mas estamos em pleno século XXI e já se passaram tantos concílios! A Igreja pouco se modernizou e se adaptou às mudanças. Sua maior preocupação é criar mais e mais santos para a adoração de seus fiéis. A religião não é monoteísta. Penso que tenho direito a fazer a minha crítica e colocar o meu ponto de vista.

Até o século IV, os papas eram escolhidos por diáconos e padres. Quanto aos bispos, estes eram indicados pelos católicos. Os tempos atravessaram e tivemos centenas de papas, inclusive um jovem de apenas 20 anos, chamado de Bento IX. Nunca tivemos um papa negro, a não ser um designado assim por ser superior geral da Companhia de Jesus devido ao uso da cor de suas roupas e da ordem.

Por causa das relações restritas com o Oriente, a Igreja teve papas africanos (não foram negros), Vitor I (189/198), Melquíades (311/314) e Gelásio I (492/496), originários da Alexandria, Cartago e Hipona.

A partir de 1975 com Paulo VI, o papa é nomeado por um conclave de 120 cardeais a portas fechadas na Capela Sistina, de acordo com a Constituição Apostólica Universi Dominici  Gregis. Em 1996, João Paulo II oficializou o termo conclave dos cardeais.

É uma votação altamente secreta onde rolam até discussões políticas acirradas pelo poder, conforme comentam os especialistas no tema. Depois da eleição surgem os vazamentos na mídia. Os católicos do mundo inteiro ficam esperando a fumaça branca da chaminé do Vaticano e apenas comemoram com “Habemos Papa”.

Ao longo desses tempos da era cristã e católica tivemos vários concílios que mais serviram para manter o conservadorismo da Igreja, como o de Nicéia (ninfa na mitologia grega), na Turquia, no reinado de Constantino I, em 325, quando Silvestre I era o papa. A maior renovação registrada foi a tomada de decisão de separar o poder político romano da religião, bem como acabar com as perseguições.

Em Nicéia foi confirmada a teologia trinitária, a veneração de imagens e demais dogmas da Igreja, como Deus é o único trino, as verdades da fé, o Pai é o criador, o Espírito Santo é Deus, Jesus é Deus e homem, encarnado, morto e ressuscitado, a virgindade e a divindade de Maria (Concílio de Éfeso, em 431, como imaculada conceição mãe de Deus e sua assunção, o papa como vigário de Cristo e autoridade suprema, dentre tantos outros.

O de Trento, no papado de Paulo III (1545/64) serviu para firmar os dogmas da Igreja e foi um evento provocado para contestar as reformas luteranas. Tivemos ainda os concílios de Roma (382), Hipona, em 393, que estabeleceu o cânon bíblico.

Houve o Edito de Nantes, na França, em 1598, no reinado de Henrique IV que determinou a liberdade religiosa para os huguenotes (seguidores de João Calvino) visando exterminar a perseguição (36 anos – Noite de São Bartolomeu, em 1572) contra os protestantes em geral.

No entanto, esse concílio fortaleceu mais ainda os tribunais da Santa Inquisição, o maior pecado criminoso que mais manchou a Igreja, sem contar a sua participação direta na escravidão africana, inclusive entrando no comércio de escravos.

Por causa do seu conservadorismo, comodismo e restrição na mobilização entre as bases mais populares, a Igreja começou a perder espaço para os protestantes, sem falar na diminuição vocacional dos padres que são impedidos de se casar. A instituição proibiu o casamento de sacerdotes nos Concílios de Latrão, em 1123 e 1139.

O Concílio de Trento (1545/1563) impôs definitivamente o celibato obrigatório em toda América Latina. A prática do celibato já existia no século XI. Neste período, vários papas como Leão IX e Gregório VII reforçaram essas leis devido à degradação moral do clero. Maior degradação foi a pedofilia que existiu também aqui no Brasil. Quando estourava um caso, o bispo transferia o pároco para outra diocese. Era simples assim.

O celibato foi reafirmado pelo Papa Pio XII (1939/58) e no Concílio do Vaticano, em 1965. A Igreja defende porque os celibatários são mais livres e disponíveis. Também porque a vida de celibato separa o clérigo do mundo pecaminoso.

Nesse Concílio de 1965, houve mais uma abertura no sentido de que os padres pudessem deixar o sacerdócio para ser casar. Antes não podia. Muitos que entraram no seminário não tinham vocação e foram obrigados por pais católicos, muito das vezes pela mãe, que faziam promessas para ter um padre na família.

Essas versões são da Igreja, mas existem discussões de que a instituição instituiu o celibato por motivos de herança. Quando um casal falecia, a Igreja não ficava com nada. Seria tudo por causa do dinheiro?

O Papa Francisco já admite que o celibato pode ser revisado. Outra polêmica é a não admissão da mulher na celebração da missão como sacerdotisa. Em toda sua história, a Igreja sempre excluiu o papel da mulher. A própria Bíblia (Antigo Testamento) coloca o sexo feminino num papel inferior ou como se fosse uma ardilosa serpente pecadora. Somente agora a Igreja está abrindo mais espaços, mas ainda de forma tímida.

ELIZÉRIO DA PRAIA DO UNHÃO

(Chico Ribeiro Neto)

Encontro um velho amigo da turma dos Aflitos, que lembra logo dos “babas” no largo, da Praia do Unhão e de muitos que se reuniam à noite na esquina da rua Tuiuti com a rua Gabriel Soares, antes da TV chegar a Salvador.

“Cadê Bandeira, Delmar, Paulo Satanás, Habib, Vilela, Banha, Manteiga e Linhaça, Atum, Tristeza, Mondrongo, Pé de Valsa, Bico de Anum, Leonam e Gaguinho?”

Ele me falou de muito mais gente, e o pior é que eu não lembrava o nome dele. Por último, uma pergunta que me fez reviver muita coisa:

“E Eliziário? Você lembra de Eliziário?”

O velho Eliziário morava numa cabanazinha no meio da encosta da Praia do Unhão. Tinha somente a roupa do corpo, comia peixe cru e nadava muito todo dia. Quando eu ia “dar um fora” (era nadar até mais longe, lá de onde se avistava o Elevador Lacerda), muitas vezes via Eliziário boiando, com sua barba branca, olhando de longe para os banhistas, que certamente deveriam pertencer a uma outra tribo. Eliziário, com certeza, deve ter sido o primeiro hippie da Bahia.

Quando começava o “baba” na praia, Eliziário ficava de cócoras, no meio da encosta e na porta do barraco, espiando atento. Não torcia pra ninguém, apreciava aquele jogo de pernas e a bola correndo. Às vezes até devolvia a bola quando caía perto dele. Falava pouco ou quase nada.

Uma vez, com alguns amigos, tentei chegar perto da cabana de Eliziário. Ele estava na porta, olhando mais uma vez para o mar do Unhão, que ia bater em Mar Grande, mas quando viu que a gente se aproximava, entrou rapidamente na choupana, tão rápido como o bicho do búzio. Ele não jogava pedra em ninguém. Pelo contrário: alguns meninos abusados é que jogavam pedra nele. Se o aborrecessem muito, caía n’água e nadava pra bem longe, até que o esquecessem. Saía da água com a velha calça comprida amarrada de cordão. Esfalfado, comia uma pinaúna crua ou um peixinho garrião que pegava de mão no canto da loca.

Às vezes, a gente estava nadando ou boiando e de repente irrompia aquela cabeça de velho com cara de menino. Eliziário mergulhava muito e aparecia onde ninguém esperava. Não sei se ele morreu ou deu um mergulho mais profundo. Ou até, quem sabe, continua a sorrir pras estrelas, com seu jeito de quem nunca ligou pra esse mundo.

(Crônica publicada no jornal A Tarde em 24/3/1993)

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

MELHOR

De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Melhor não pensar muito

No sentido do existir,

Que somos mortais errantes

Porque você pode pirar,

Siga as ondas do mar,

Deixa o tempo fluir,

Melhor jogar prá lá,

Essa de quem sou,

Ou para onde vou,

Se existe céu e inferno,

O antigo e o moderno,

Se a fé é mistério,

Sem lógica e critério,

Acredite na ciência,

Melhor ter paciência,

Seguir sua mente,

Melhor ser realista,

Do que ser idealista,

Olhe pra frente

Que atrás vem gente,

Melhor não viver na ilusão,

Mas cada um faz sua opção,

A vida não é assim tão bela,

Como natureza em aquarela,

Por que um nasce perfeito,

Outros com seu defeito?

Nunca diga que seu filho,

Vítima da Zica, deficiente,

Foi teu Deus quem te deu,

Assim você xinga Ele

De injusto vingador,

Foi o presidente, o governador

Essa cruel humanidade,

Destruidora do meio ambiente,

De ganância e insanidade,

Que nos traz todo horror.

Seja paz, seja amor.

 

 

A INVASÃO DE PORTO DE GALINHAS

Carlos González – jornalista

Depois de quatro viagens este ano aos Estados Unidos, uma delas na companhia de sua madrasta, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) acionou uma “bomba”, ao anunciar um pedido de licença do mandato – pelo regimento da Câmara ele poderá se afastar, no máximo, por quatro meses – permanecendo, “por tempo indeterminado”, entre os ianques. Como declarou, vai usar esse período para trabalhar, ao lado da extrema direita norte-americana, sob a orientação do presidente Donald Trump, pela queda de Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), o inimigo nº 1 dos golpistas brasileiros. A “operação ´punitiva” deverá se estender aos outros poderes, concluindo o que começou em 8 de janeiro de 2023;

Numa linguagem fantasiosa, carregada de mentiras, uma doença crônica do bolsonarismo, Eduardo gravou um vídeo, infantil e incoerente, revelando que existe um plano, arquitetado por Moraes, para matar seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, ou colocá-lo em prisão perpétua. “Acredito que nunca mais verei meu pai”, exagerou, sendo desmentido pela Procuradoria Geral da República (PGR), mostrando que o ex-capitão circula livremente pelo país. O esvaziado comício de domingo (dia 16), em Copacabana, atesta a verdade dos fatos.

Num país onde o povo deixou de sorrir, salvo em Salvador, onde se pula carnaval o ano todo, usarei também da fantasia para contar como se dará a intervenção dos Estados Unidos no Brasil. Anteontem (dia 17), aqui mesmo neste espaço, meu colega e amigo, o jornalista e escritor Jeremias Macário, usou sua veia humorística para recordar a fuga de D. João VI e da Corte portuguesa para o Brasil, assim que foi anunciado que o imperador francês Napoleão Bonaparte, montado em seu cavalo branco, já se encontrava a caminho de Lisboa.

“Carlota Joaquina, a Princesa do Brasil”, filme de 1995, dirigido pela atriz e cineasta Carla Camurati,  desvenda jocosamente o embarque às pressas do devorador de coxinhas de galinha, o rei D. João VI (interpretado pelo ator Marco Nanini), e a burguesia lusa, superlotando as embarcações. No momento em que as âncoras eram içadas chegaram mais caronas, os vereadores lisboetas, que aqui no Brasil proliferaram como os piolhos que vieram na expedição de 52 dias, obrigando a realeza a raspar as cabeças.  Sem saber o que estava acontecendo, a plebe ficou em terra, travando, dias depois, a Guerra das Laranjas contra o forte exército francês.

Voltando aos dias atuais, criativos membros do governo de Lula imaginam que Eduardo vai assessorar Trump num plano de invadir o Brasil. Mais uma vez a Central Intelligence Agency (CIA) executaria como estratégia o fracassado desembarque na Baía dos Porcos, em Cuba, ocorrido em abril de 1961. Autorizada pelo presidente Dwight Eisenhower e executada pelo seu sucessor John Kennedy , La Batalla de Girón tinha como finalidade retomar o governo de Cuba, devolvendo aos milionários anticastristas as mansões na belíssima Praia de Varadero. Quase 300 mil exilados cubanos participaram dos treinamentos dados pela CIA, na certeza de que teriam o apoio da aviação dos EUA. Mas, na hora “H”, os caças não apareceram. Sem cobertura aérea, o exército de exilados foi dizimado pelas tropas de Fidel Castro.

Temperando as histórias ficcionistas dos petistas, imaginemos que passe em suas cabeças um enorme grupamento de brasileiros, exilados em Miami e outras cidades norte-americanas, desembarcando na praia de Porto de Galinhas, em Pernambuco, próxima ao Cabo de Santa Maria de la Consolatión,  atual Cabo de Santo Agostinha, descoberto pelo navegador espanhol Vicente Yañez Pinzón,  três meses antes de Pedro Álvares Cabral aportar no sul da Bahia. O desfecho da operação bélica fica ao critério de cada leitor.

Vale ressaltar que há possibilidade de uma marcha de religiosos fundamentalistas, empunhando suas bíblias,  se dirigir ao Dique do Tororó, para destruir com bombas, as imagens dos orixás cultuados pelos seguidores das religiões originárias dos povos africanos, e admirados pelos turistas que vêm a Salvador. Em 1986, a revista “Veja” denunciou, após ouvir o então capitão Bolsonaro, um plano para romper a adutora que fornece água ao Rio de Janeiro. Seus autores estavam inconformados com o fim da ditadura militar.

 





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