QUANDO A PALAVRA TINHA SEU VALOR
-Você tem a minha palavra que eu te pagarei a compra no final do mês em tal dia, ou prometo cumprir com nosso trato.
Só a velha geração como eu se lembra desses bons tempos quando a palavra tinha seu valor amarrado no fio do bigode. Alguns mais exagerados selavam até na mistura do sangue. Não estou falando da palavra literária, mas da palavra oral, aquela em que também se baseia o escritor para narrar sua história, fazer sua tese, dissertação e resgatar a memória.
Hoje, meu amigo, é tudo “preto no branco”, ou seja, na tinta escrita no papel e assinada em forma de documento registrado em cartório, com toda burocracia, carimbo e testemunhas. Haja protocolo! Acordo trabalhistas, por exemplo, nem pensar fazer de boca!
Nos tempos atuais, mesmo com documentação e tudo ainda paira a desconfiança porque as pessoas deixaram de ser honestas, para serem trambiqueiras, trapaceiras e malandras. Passar a rasteira no outro é ser mais sabido, astuto e até considerado como sinônimo de inteligência.
O verbo confiar está em pleno desuso, coisa do passado, que só se encontra no dicionário. Quando era menino recordo muito bem do meu velho pai fazendo negócios com seus vizinhos, tudo na base da palavra.
– E aí cumpadi, vamo dividir o roçado meio a meio? Vamos consertar nossas cercas e dividir as despesas? Vou pagar a dívida com 20 sacos de farinha daqui a seis meses.
As conversas eram assim, sem papel e escritura, com aperto de mão. A palavra dada só deixaria de ser cumprida em caso de morte e, mesmo assim, a mulher ou um filho honrava o compromisso para a alma do defunto seguir em paz.
Antigamente, até os coronéis brabos, brutos e cruéis daquela época valorizavam a palavra, e ai de quem desse uma de traidor! Era morte na certa.
Atualmente não basta você dizer que é honesto. Qualquer negociação tem que ser por escrito. Uma aposta tem que ser registrada porque um não acredita no outro.
Por falar em palavra, uma categoria que mais banalizou a honestidade e a seriedade foi a de político. Prometem mil coisas numa campanha eleitoral, mas quando chega ao poder não realiza nem a metade. Na maioria das vezes faz tudo ao contrário. Ainda assim o eleitorado cai em sua lábia.
Ao ver esses exemplos falsos lá de cima, o brasileiro em geral (nem todos) da parte debaixo aprendeu também a ser desonesto e a enganar. Promete votar num candidato e voto em outro. Muitas vezes, infelizmente, recebe dinheiro de um e voto no outro que deu mais.
É isso aí, quando a palavra tinha seu valor, havia mais senso humano, respeito e confiança. Essa questão de se honrar a palavra tem muito a ver com o caráter da pessoa que muito depende da formação familiar e não da escolaridade. As pessoas mais simples e pobres são mais confiáveis do que os endinheirados avarentos e gananciosos.