Nas manifestações desta quinta-feira (dia 11/08) em defesa da democracia e do estado de direito, culminando com a leitura de uma carta aos brasileiros no salão nobre da Universidade de São Paulo, no Largo do São Francisco, por que as igrejas, principalmente a Católica, ficaram de fora?

A mídia passou batida neste questionamento. Gostaria de saber se os criadores do movimento tiveram algum propósito em deixar de fora representantes das igrejas, que não são poucas por esse Brasil, onde a Constituição protege a liberdade de religião? Elas são também as maiores interessadas.

Lá estiveram juntos, inclusive nas ruas e praças, o capital e o trabalho, empresários e operários, estudantes e professores, negros e brancos, todos os gêneros, jovens e idosos, estes testemunhas e vítimas da ditadura civil-militar de 1964, mas as religiões não foram, pelo menos, citadas.

Por que o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), pastores de diferentes igrejas e correntes evangélicas, mães e pais de santo do candomblé, babalorixás, islâmicos, judeus e outras religiões não se fizeram representadas nos discursos e pronunciamentos?

Será que são contra a democracia e o estado de direito? Todas estão ao lado dos negacionistas e concordam com as fake news de fraudes nas eleições? Creio que não é o caso. Alguns até são extremistas, mas não expressam a vontade do “rebanho”.

É verdade que existem muitos líderes de igrejas que compactuam com essa trama diabólica golpista, mas a maioria não comunga mais com essa ideia maluca, e nem está mais ao lado dessa psicopatia comandada pelo capitão-presidente.

Sabemos e está registrado na história que em 1964, a Igreja Católica, que mais tarde se arrependeu e até combateu, foi um dos segmentos da sociedade que se posicionou a favor do golpe militar de 1964, imposto na base da força dos tanques, do fuzil e da metralhadora em plena Guerra Fria onde o comunismo era tido como demônio e inimigo maior.

No entanto, a realidade hoje é totalmente diferente, e a grande maioria das instituições religiosas está ao lado da democracia e a favor das eleições livres, mesmo que o sistema eleitoral vigente seja cheio de falhas e buracos onde os poderosos se infiltram para se perpetuar no poder.

A verdade é que ficou um vazio na representatividade das igrejas, de modo a consolidar o processo de repúdio a qualquer intervenção militar e fechar o círculo de que toda comunidade civil brasileira está unida num só pensamento, o de ir à luta, se preciso for, para impedir um possível golpe na democracia e no estado de direito.