Ainda nas asas do discurso da teologia da libertação da Igreja Católica, nascia na década de 1980 um partido com uma estrela “revolucionária” no peito, mas logo ela foi se desbotando quando se rendeu ao deslumbre das escamas douradas do neoliberalismo capitalista de mercado.

Sua linguagem de mudanças atraia multidões na voz rouca bluseira de um nordestino pau-de-arara, trazendo uma “boa nova” para os pobres e todos aqueles que ficaram largados nessa estrada da justiça e da igualdade social. Por diversas vezes, tentou chegar ao poder, mas foi repelido pelo brutal sistema dono do senhor capital.

Essa estrela, então, resolveu misturar a sua cor com outras diversas, muitas das quais carraspentas e manchadas pela ganância do sempre ter mais, mesmo que sejam por vias inescrupulosas. Para galgar o Planalto teve que fazer o pacto com o diabo, ou aliás, com vários diabos que passaram anos treinando praticar as piores maldades contra o povo na escola do inferno.

Mil maravilhas e muita empolgação na junção de bandeiras diferentes a tremular pelas esquinas, praças, ruas e avenidas deste gigante varonil adormecido. De braços dados com a burguesia, logo o medo se dissipou para dar lugar à esperança e à fé de que logo se chegaria à terra prometida. Nem se questionou que aqueles acompanhantes não passavam de malfeitores.

Para os mais sensatos e analistas do sistema imoral apodrecido, aquele cruzamento com animais diferentes deformados não iria dar certo, e dali poderia gerar um dragão devastador e centenas de outros monstros. Não deu outra, e a estrela, que logo deixou de ser “revolucionária”, foi expelida do ventre de seus “companheiros” cafajestes.

Ao perceber que essa estrela estava se desviando de rota, dos seus princípios fundamentais humanistas e sendo conduzida por uma cambada oligarca de canalhas corruptos, onde os meios justificavam os fins, muitos caíram fora porque as bases foram desprezadas em detrimento de uma governabilidade sem escrúpulos.

As principais lideranças dessa estrela do PT foram os primeiros a se lambuzar na sujeira dos mais espertos que nunca aceitaram distribuir renda para os mais necessitados, e isso é histórico na dialética da humanidade. A elite burguesa sempre foi retrógrada nesse sentido por pensar somente em seus interesses de enriquecimento próprio, inclusive roubando, e não no desenvolvimento da nação como um todo, não sabendo ela que mais igualdade social significa mais crescimento econômico e mais lucros para todos.

A história nos mostra que todas as vezes que a esquerda fez alianças com a burguesia. Como Carlos Prestes com Getúlio Vargas, terminou sendo expurgada lá na frente, e quem mais perdeu foi a classe operária, as camadas mais vulneráveis e toda população. Nesse país, as esperanças sempre vão e voltam.

O partido da estrela passou 20 anos no poder e perdeu várias oportunidades de deixar sua marca revolucionária, como, por exemplo, empreender uma luta pela punição dos torturadores da ditadura civil-militar de 1964. Fez as comissões da verdade, cujas denúncias ficaram no papel. Hoje os generais debocham quando se fala em torturadores.

No entanto, outros governos da América Latina, como Argentina, Chile e Uruguai prenderam os mentores do regime que cometeram atrocidades. As feridas continuam abertas, tanto que os generais, tendo à frente o capitão-presidente, negam a história e ainda elogiam o golpe que, para eles, foi uma revolução.

Por não se redimir de seus pecados, essa esquerda foi destroçada pela negação de seus ideais construídos lá na frente nos tempos da sua fundação. Para arrancar do trono o dragão que criou, agora retorna com a mesma leitura prepotente e os mesmos métodos e táticas autoritárias, fazendo as mesmas alianças com o satanás.

Estamos condenados a assistir o mesmo filme de polarização estúpida de 2018, recheada de mais mentiras, sem a opção de uma terceira via para exterminar os monstros e os fantasmas que saíram de seus túmulos para infernizar a vida dos brasileiros.

Para o bem do Brasil, no quadro atual, a estrela desse partido não deveria ter candidato a presidente da República, principalmente com um vice que comparou o PT, lá no passado, como o diabo saído do inferno. A extrema-direita dos fanáticos terraplanistas só cresce. Como vampiros, se alimentam e se fortalecem exatamente do sangue do ódio e da intolerância. Sem essas substâncias, eles perecem. Vamos ter mais quatro anos de terror, com cenas apocalípticas? Quem viver, verá!

Essa esquerda precisa urgentemente sair de seus gabinetes teóricos e voltar a lidar e a se comunicar diretamente com as bases periféricas e faveladas de milhões de famintos e desempregados. Caso contrário vai dar com os burros n´água ou na lama novamente. Ela não pode entrar nesse laço do radicalismo que só favorece o monstro-dragão.