Sempre foi vista, até certo tempo, como o quarto poder por ser formadora de opinião, tida por muitos como “o cão de guarda” em defesa da liberdade de expressão e a voz por uma sociedade mais justa e igualitária. Era para ser uma das categorias mais fortes e respeitadas do país, com sindicatos bem estruturados e com grande poder de barganha sobre os patrões.

Claro que estou falando da classe jornalística, que depois de passar por tantas adversidades, como ser censurada durante o regime militar de 1964; fazer história; romper com barreiras; e ser guardiã da democracia quando levanta matérias investigativas sobre corrupção e complôs na política, vive hoje uma crise de identidade, a começar pelo enfraquecimento de suas entidades, sem falar dos xingamentos de um presidente da República que odeia as críticas e abomina a liberdade.

Na minha concepção particular, essa falta de fortalecimento da categoria está no individualismo, naquele egoísmo do cada um cuidando de si para sobreviver. Sempre foi uma profissão mal paga em termos de remuneração e, para preencher essa deficiência, o trabalhador ou operário da notícia (jornalista não gosta de ser assim chamado) tem dois ou três empregos por fora, alguns deles até chamados de bicos. A prepotência é outro mal.

CADA UM QUE SE VIRE

Até hoje ainda persiste aquela ideia fechada de que cada um que se vire no mercado. Quando comecei a atuar na atividade, lá pelos anos 70, ouvia muita essa conversa de que o sindicato só faz atrapalhar. Somente poucos falavam o contrário e me apoiaram quando resolvi me filiar. Outro problema que atrapalhava na busca pelos interesses do profissional era a politização em demasia. Muitos preferiam se afastar.

Naqueles anos ainda existia uma militância mais robusta que foi definhando até os dias de hoje, principalmente com o fim da obrigatoriedade do diploma, por volta de 2009/10, mas a decadência já havia batido na porta bem antes disso. Não são propriamente os dirigentes que são culpados.

Estou falando no geral em termos de Brasil, a partir da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), mas quero trazer esse problema para a questão local, no caso o nosso Sindicato dos Jornalistas da Bahia (Sinjorba), que só consegue arrecadar seis mil reais por mês dos seus minguados associados.

Será que foi a tecnologia da internet e a diversificação do mercado que provocaram esse enfraquecimento? Ou a própria desunião? As redes sociais têm alguma culpa nisso? Atualmente, para ser jornalista é só abrir um site, ou mesmo um perfil na internet. Numa discussão sobre jornalismo, todos se acham entendidos no assunto.

Sem união, uma rede de proteção e uma regulamentação da profissão, os sindicatos tendem a se esvaziar, ficando apenas alguns abnegados na trincheira da resistência. A realidade baiana não é diferente da de outros estados. Aqui mesmo em Vitória da Conquista, faz quantos anos que não se teve uma reunião?

CASA E MUSEU

Não deveria estar falando isso, mas quando aqui cheguei, nos anos 90, a diretoria regional e de outras cidades maiores eram bem mais atuantes. Digo isso porque fui diretor por várias vezes e até vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas. Recordo dos memoráveis encontros onde se discutia e se “brigava” por melhorias. Estávamos sempre vigilantes no combate aos desvios de conduta, os chamados “picaretas”.

Foi nesse idos que juntos conseguimos um terreno, doado pela Prefeitura Municipal, com intuito de construirmos a “Casa dos Jornalistas”, uma espécie de clube onde ali teríamos uma local de reunião e condições de realizarmos atividades culturais, de esporte e lazer. O lote, com planta e tudo, está localizado, isto é, se ainda existe, no Bairro Santa Cecília.

Há muitos anos que não se fala mais nisso, e o Sindicato não se pronuncia a respeito do assunto.  Infelizmente, a classe é desunida e individualista. Outra ideia que nasceu daqueles movimentos de outrora foi a implantação do Museu da Imprensa de Vitória da Conquista, um tipo de resgate da nossa história.