Na terra de Gregório, boca do inferno, nos embriagamos de vinho,

E com ele divulgar poemas de protesto pelas vias do Pelourinho,

Em oratório de igrejas, e até em quartos de “loucos” em sanatório;

Do erótico, colamos cartazes em bregas e em porta de cemitério;

Rodamos toda velha Bahia e tomamos mais uma na Praça da Sé,

Onde rola mistura de todas as religiões que vão nas pegadas da fé,

Como no canto profundo de Caetano, Capinam, Gil e de Tom Zé,

Que deram voz e força a todo o nosso povo massacrado do Brasil.

 

Em Salvaboa no trapiche da Gamboa, com a cara da mãe Lisboa,

Fui “Ouro de Tolo” como um besta do interior com o profeta Raul,

Do Seixas de “Sociedade Alternativa”, que me passou suas deixas,

Pra ser um cara libertário e não entrar em conversa mole de otário,

Como ser moleque de Jorge Amado e entrar em “Capitães da Areia”,

Em Dona Flor fui um dos maridos e Tenda dos Milagres um teste;

Rabisquei linhas de Seara Vermelha, Gabriela e Tieta do Agreste;

Me ensinou criar personagens e como sempre faço, dei forte abraço,

No Amado, Mário Cravo, Glauber cinema-poema e artes plásticas,

Deus e o Diabo que transaram na Terra com o Dragão da Maldade.

 

Ah! Não podia deixar de ir até Ipiaú conhecer a reforma agrária,

Implantada pelo humilde escritor comunitário social Euclides Neto,

Com quem bati um papo reto e com ele e outros arrastei A Enxada,

De um retado nas palavras de Prefeito, a Revolução e os Jumentos;

Corri sertão virado para ver Osório Alves em Santa Maria da Vitória,

A quem dei o meu pitaco lendário na história de Porto Calendário,

E em Bahiano Tietê e na Maria Fecha a Porta Prau Boi não te Pegar;

Passei na Lapa, fiz rezadeira e proseei em Caetité com Anísio Teixeira.

 

Na capital com morenas Além do Carmo curti em noites fantásticas,

Depois pedi a benção a mãe Menininha da Federação, lá do Cantoá,

Que em seu terreiro me deu reza e patuás para dançar com os orixás,

E ainda brindei um trago do raro cordel com Cuíca de Santo Amaro.

 

Bahia caraíba-tupinambá de João Ubaldo em “Viva o Povo Brasileiro”;

Com ele comi lagarto, bebi água da bica e uma cachaça em Itaparica,

E fui à grande freira com Milton Santos, o mestre da geografia social,

Que me indicou visitar o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira,

Baiano profundo e conhecedor da Formação do Império Americano,

De Marti a Fidel e de A Casa da Torre de Garcia, indicado ao Nobel,

E de sua biblioteca sai zonzo de tanto conhecimento e pinga com mel.