ENTRE ENGAÇOS E BAGAÇOS (VII)
Na terra de Gregório, boca do inferno, nos embriagamos de vinho,
E com ele divulgar poemas de protesto pelas vias do Pelourinho,
Em oratório de igrejas, e até em quartos de “loucos” em sanatório;
Do erótico, colamos cartazes em bregas e em porta de cemitério;
Rodamos toda velha Bahia e tomamos mais uma na Praça da Sé,
Onde rola mistura de todas as religiões que vão nas pegadas da fé,
Como no canto profundo de Caetano, Capinam, Gil e de Tom Zé,
Que deram voz e força a todo o nosso povo massacrado do Brasil.
Em Salvaboa no trapiche da Gamboa, com a cara da mãe Lisboa,
Fui “Ouro de Tolo” como um besta do interior com o profeta Raul,
Do Seixas de “Sociedade Alternativa”, que me passou suas deixas,
Pra ser um cara libertário e não entrar em conversa mole de otário,
Como ser moleque de Jorge Amado e entrar em “Capitães da Areia”,
Em Dona Flor fui um dos maridos e Tenda dos Milagres um teste;
Rabisquei linhas de Seara Vermelha, Gabriela e Tieta do Agreste;
Me ensinou criar personagens e como sempre faço, dei forte abraço,
No Amado, Mário Cravo, Glauber cinema-poema e artes plásticas,
Deus e o Diabo que transaram na Terra com o Dragão da Maldade.
Ah! Não podia deixar de ir até Ipiaú conhecer a reforma agrária,
Implantada pelo humilde escritor comunitário social Euclides Neto,
Com quem bati um papo reto e com ele e outros arrastei A Enxada,
De um retado nas palavras de Prefeito, a Revolução e os Jumentos;
Corri sertão virado para ver Osório Alves em Santa Maria da Vitória,
A quem dei o meu pitaco lendário na história de Porto Calendário,
E em Bahiano Tietê e na Maria Fecha a Porta Prau Boi não te Pegar;
Passei na Lapa, fiz rezadeira e proseei em Caetité com Anísio Teixeira.
Na capital com morenas Além do Carmo curti em noites fantásticas,
Depois pedi a benção a mãe Menininha da Federação, lá do Cantoá,
Que em seu terreiro me deu reza e patuás para dançar com os orixás,
E ainda brindei um trago do raro cordel com Cuíca de Santo Amaro.
Bahia caraíba-tupinambá de João Ubaldo em “Viva o Povo Brasileiro”;
Com ele comi lagarto, bebi água da bica e uma cachaça em Itaparica,
E fui à grande freira com Milton Santos, o mestre da geografia social,
Que me indicou visitar o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira,
Baiano profundo e conhecedor da Formação do Império Americano,
De Marti a Fidel e de A Casa da Torre de Garcia, indicado ao Nobel,
E de sua biblioteca sai zonzo de tanto conhecimento e pinga com mel.