A chamada “suíça baiana” ainda deixa muito a desejar e está longe de reconhecer, como deveria, a importância identitária da cultura e da religiosidade negra exercida no município de Vitória da Conquista que abriga dezenas de territórios quilombolas, terreiros de candomblé, entidades de capoeira e outras comunidades que expressam suas linguagens artísticas em diversas áreas.

Esta realidade foi ontem (dia 24/11) estampada nas vozes de representantes da etnia negra praticante, principalmente, do candomblé durante a realização da sessão especial da Câmara de Vereadores, que homenageou a Semana da Consciência Negra, com a entrega do prêmio Zumbi dos Palmares e apresentações de cânticos religiosos em louvor à capoeira (Esqueleto) e às crenças afro-brasileiras.

Nesses 500 anos de presença africana no Brasil, as comunidades afrodescendentes clamaram por mais respeito ao seu povo por parte dos poderes públicos de Vitória da Conquista, que até hoje não conta com uma praça representativa aos deuses orixás, nem ruas com nomes de personalidades do povo negro.

O vereador pelo PT, Alexandre Xandó, organizador da sessão especial junto à Mesa Diretora, presidida por Luis Carlos Dudé, fez duras críticas à Prefeitura Municipal que insiste em cobrar IPTU dos terreiros de candomblé. Informou que houve um contato com o poder executivo para que essa taxa fosse dispensada, mas sem resposta. Em seguida, anunciou que está entrando na justiça contra essa cobrança.

Na ocasião, o parlamentar cobrou da prefeitura que abra um sistema de cotas raciais para concursos públicos, inclusive para mestres em capoeira. Xandó também criticou a violência policial contra negros na cidade, dizendo que existe uma matança indiscriminada de jovens. Estiveram presentes ao ato pai Celi (José Carlos) e o mestre de capoeira, Quequeu, que repudiou o racismo no país.

A maioria das falas dos religiosos presentes à sessão (contou com a participação do vice-reitor da Uesb- Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Reginaldo Pereira), como pai de santo Ricardo de Oxossi, mãe Olinda, a pedagoga Elizabete (Beta), se pronunciou em defesa dos negros e pediu respeito ao seu povo.

Em seu pronunciamento, pai Ricardo elogiou a presença de vereadores evangélicos na sessão (alguns faltaram), afirmando que isso demonstrava bons ventos de união e tolerância religiosa. “Todos nós queremos saúde, educação e que se acabe de vez com o racismo. Combatemos o racismo com mais educação e não com leis”. Ele ainda reclamou que estão acabando com a memória cultural do povo negro, apontando que em Conquista não existe uma praça em homenagem aos orixás.

Sobre essa reivindicação, o presidente da Câmara, Luis Carlos Dudé anunciou que está em entendimento com a construtora VCA para criação de uma praça dos orixás em Conquista. Mãe Lene condenou a prefeitura pela suposta intenção de demolição da escola localizada no Quilombo Cachoeira dos Porcos, a qual está em péssimas condições de funcionamento. As comunidades pedem a reforma do equipamento e não o fechamento.

Existem no município 33 comunidades quilombolas que, segundo denúncia de Elizabete, a Beta, estão sendo desmontadas e sem demarcação e titulação. “Tudo para o negro é difícil”- enfatizou. Outro problema dessas famílias é a falta constante de água nas localidades.