Estudos de pesquisadores cientistas (matéria da revista Veja) constataram que a inteligência do homem, medida pelo Q.I. (quociente de inteligência) está sofrendo um retrocesso por conta de mais tempo nas telas de televisão e nas redes sociais. Ao invés de nós tornar mais brilhantes, essa tecnologia mal-usada está nos deixando mais burros e nos levando aos tempos primitivos.

No século XX tivemos décadas de avanços, como as de 60 e 70 em plena efervescência da cultura, do conhecimento, do saber, da leitura e da prática das artes em geral. Nesse século passado, conforme reportagem de Ernesto Neves e Caio Saad, os países mais desenvolvidos anunciavam que o Q.I. de seus habitantes só fazia subir.

Agora, nos tempos atuais, com o advento da internet e das redes, a inteligência está dando marcha ré. Isso quer dizer que o homem está perdendo a lógica do debate racional e do diálogo em troca do ódio e da intolerância, com ideias retrógradas ultraconservadoras. Tudo começou a partir dos anos 2000.

Pela constatação, os filhos passaram a ter mentes menos afiadas que dos pais. Isso nos faz cair nesse buraco desprovido de massa cinzenta, como os antivacina, anti-instituições democráticas (apelos pela volta da ditadura) e contra a ciência. É o lado escuro da polarização ideológica.

No livro “A Fábrica de Cretinos Digitais”, o renomado neurocientista francês Michel Desmurget, diretor do Instituto Nacional de Saúde da França, aponta suas baterias para o excesso de tempo diante da tela dos mais variados aparelhos digitais, os quais estão contribuindo para o atual estado de estagnação intelectual.

A questão, de acordo com ele, está no maior número de horas frente às telas. Afirma que o uso de computadores e celulares por pré-adolescentes é três vezes maior para se divertir do que para realizar trabalhos escolares. No caso de adolescentes, o número sobe para oito.

Durante a pandemia esse tempo de exposição diante das telas e dispositivos, como todos nós sabemos, se elevou, principalmente no Brasil. Antes do vírus, os participantes de uma pesquisa divulgada por universidades brasileiras relataram média de seis horas e meia de exposição diária. Durante a pandemia, o número subiu para dez horas por dia.

  Na verdade, o cientista não está anunciando uma novidade (muitos já perceberam esse fenômeno) quando adverte que “internet e aplicativos de redes sociais em demasia afetam negativamente as interações, a linguagem (hoje se fala e se escreve mais por códigos) e a concentração, “os três pilares básicos do progresso cognitivo em qualquer idade…”

Cláudio Serfaty, do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da Universidade Federal Fluminense alerta que, no caso das crianças pequenas, o celular é um entretenimento passivo sem reflexões ou desafios. “Não passa de uma diversão viciante”. Tenho um primo que serve de exemplo. Até certa idade não colocou um aparelho desse nas mãos de suas filhas, mas brinquedos e brincadeiras úteis de crianças utilizados em gerações passadas.

O cientista deixa claro que a tecnologia não é um mal, mas um benefício para todas as áreas e o progresso humano, inclusive no estudo da inteligência. O ruim, no entanto, é o exagero. Esse ramo da ciência neurológica ganhou força no século XIX com o inglês Francis Galton (1822-1911), primo de Charles Darwin.

Para Galton, a inteligência é uma característica hereditária. Em 1884 ele desenvolveu o primeiro método de medida do intelecto. Três décadas depois o alemão Wilhelm Stern elaborou o quociente de inteligência de uma forma mais complexa. Só depois, Lewis Terman, da Universidade de Stanford, simplificou o teste e popularizou a sigla Q.I.

Outros pesquisadores entraram nesse labirinto do cérebro e verificaram que, na década de 70, países mais prósperos ganharam três pontos na evolução da inteligência. Colaboraram para isso as melhorias na medicina, na educação e no pensamento crítico. Passado o apogeu, as conquistas no Q.I. foram descambando, sobretudo a partir do século XXI, e a trajetória segue em queda.

Sobre esse refluxo na inteligência, pesquisadores da Noruega analisaram 73 mil testes de Q.I. em jovens convocados para o serviço militar nos últimos 40 anos. Como resultado, os aumentos anuais dos noruegueses baixaram para dois pontos nos anos 80 e 1,3 para os 90, recuando 0,2 neste século. O mesmo aconteceu no Reino Unido e na Dinamarca.

Os pesquisadores observaram que a imersão constante nos eletrônicos através das plataformas de vídeos, aplicativos e redes sociais alimentam as discussões nas quais crenças se sobrepõem à razão, e a ideologia impede o confronto de ideias enriquecido pelo saber científico.

A conclusão é que a turma mais jovem é presa fácil dos efeitos deletérios do excesso digital. Estudo no Canadá mostrou que crianças de cinco anos ou menos que passam mais de duas horas por dia on-line têm chances cinco vezes maior de apresentar dificuldades de concentração e sete vezes mais risco de exibir transtornos do déficit de atenção.

Fatores comportamentais também influenciam na evolução da inteligência. Na infância, o desenvolvimento intelectual exige interação social, engajamento em brincadeiras, prática de esportes, boa formação escolar e enfrentamento de problemas e discussões que ocorrem fora das telas.

Segundo a psicóloga Chris Frith, da Universty College London, a inteligência não é só bagagem que adquirimos, mas capacidade de interpretar e de se lançar rumo ano novo, ao desconhecido. Sobre o tema, o filósofo grego Sócrates dizia que existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.

Immanuel Kant dizia que, avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar. Para exercitar bem a inteligência, a ciência recomenda fazer arte, explorar o novo, optar pelo difícil, devorar livros e cultivar boas relações.