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:: 25/mar/2021 . 23:54

NA LINHA DE FRENTE

Poema recente do jornalista e escritor Jeremias Macário em homenagem aos profissionais da saúde

Pelas trilhas do curso do tempo,

Como velho curandeiro da mente,

Uma carroça circula lentamente,

No parafuso do trânsito confuso,

Entre o piscar das luzes das sirenes,

Dos socorristas aflitos das pistas,

Com vidas ofegantes não perenes,

Que carecem de sangue na corrente,

Dos salva-vidas da linha de frente.

 

A pandemia acelera a correria,

De macas nas disputas por vagas,

De cilindros divididos de oxigênio,

Em um SUS sem ar onde falta lugar,

E até no particular plano do convênio,

Vale a escolha do menos fraco doente,

Nas divisórias mascaradas dos hospitais,

Onde pacientes choram nos fios dos sinais,

Das mensagens virtuais da linha de frente.

 

Entra o intubado e sai o caixão,

Na dor infinita pela perda da vida,

Como num cenário de filme de ficção,

Na milenar guerra entre ciência e fé,

Tem o Buda, o Cristo e o Maomé,

Também o cego negacionista ignorante,

E os profissionais da linha de frente,

Para dar a ingrata última informação.

 

Quem é essa mortal fera Covid,

Que com tanta intriga nos divide,

Arrasa o pulmão dessa nossa gente,

E também sufoca toda linha de frente?

 

A CULTURA DO LEVAR VANTAGEM EM TUDO

Logo cedo, seis e meia da manhã de ontem (dia 24/03), já estava na fila da vacinação, em frente da Universidade Federal da Bahia. Quando chegamos (eu e minha esposa Vandilza), mais de 40 pessoas em seus carros já estavam ansiosas na espera, o que indica que muitos idosos foram mais adiantados em cerca de meia hora.

Entre oito e meia e nove horas já se podia contar mais de 500 veículos, e os funcionários aos poucos preenchiam os formulários dos cartões para facilitar o processo lá dentro. Pensei comigo que depois de tantos fura-filas, ali estava a minha vez de levar uma agulhada no braço contra a Covid-19, graças à ciência e à fé.

Tudo corria normal e organizado, não fosse o atraso de meia hora para o início da aplicação da vacina pelos prepostos da Secretaria Municipal de Saúde, tendo em vista que o anunciado na programação era para começar às 9 horas. Por que não a partir das 7 horas? Era o que muitos indagavam em conversas na fila. Até ai, tudo bem! O atraso já faz parte da agenda brasileira.

Como forma de fazer passar o tempo, o papo era a questão da pandemia no país em geral, inclusive sobre os critérios de combate da doença onde cada estado e prefeitura adota medidas diferentes, o que tem deixado a população mais confusa. No entanto, o que deixou muitos revoltados na fila foi presenciar a prática danosa e desrespeitosa da cultura do levar vantagem em tudo, ou aquilo do jeitinho brasileiro.

Para surpresa minha e de outros companheiros que estavam ali há mais de três horas, muitos passavam direto e deixavam seus parentes com outros amigos nos veículos que estavam na frente, e depois seguiam seus destinos. Quer queira, que não, são os famosos conhecidos fura-filas, ou individualistas que só pensam em suas comodidades. Os outros que fizeram o sacrifício de acordar mais cedo que se danem.

A partir daquela cena, numa roda de desconhecidos que formaram amizades naquele momento, o comentário passou a ser sobre a índole malandra do brasileiro que já se acostumou a fazer essas coisas como se fossem normais, sem nenhum remorso de consciência, inclusive dormem muito bem quando colocam a cabeça no travesseiro à noite. São justamente essas pessoas que mais xingam os políticos de corruptos.

No quesito da cultura do levar vantagem em tudo, aproveitamos a ocasião de desrespeito às claras contra os outros, para citarmos muitos exemplos de boas condutas, honestidades e pontualidades em países civilizados, principalmente na Europa. Em nosso país, como disse um senhor, o brasileiro só cumpre as leis e se comporta bem quando é vigiado de perto pela polícia.

É uma questão de educação e formação familiar – disse outro, para complementar que é esse conjunto de fatores maléficos e de malfeitos que não tira o nosso Brasil do atraso e do subdesenvolvimento. É claro que existe muita gente boa e consciente dos seus deveres, mas isso hoje é em bem menor quantidade do que há 50 ou 60 anos, o que significa que houve uma deterioração.

A conversa estava fluindo, mas não teve prosseguimento porque cada um entrou em seu veículo para receber a tão esperada vacina, que ainda tem chegado aos tiquinhos. Talvez esse seja o maior motivo das pessoas acordarem bem cedo na fila, com receio de que as doses faltem, como tem acontecido em muitos casos.

 





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