Como o próprio título do livro diz, o autor Juan Reinaldo Sánchez revela a vida do el comandante de Cuba, falando de sua dinastia, da escolta, dos guerrilheiros do mundo, a revolução de Fidel na Nicarágua, sua viagem a Moscou, a mania das gravações, a obsessão venezuelana, sua fortuna e Fidel em Angola com sua arte da guerra. Confessa que foi testemunho de tudo, principalmente durante dezessete anos em que foi guarda-costas pessoal do homem que foi um mito. Jura que tudo é verdade.

Sobre sua dinastia, afirma que Fidel casou uma primeira vez com a burguesa Mirta Díaz-Balart, e uma segunda com a professora Dalia Soto del Valle. Enganou a primeira com a bela Naty Revuelta e a segunda com a camarada Celia Sánchez. Ao rol de conquista, acrescenta outras amantes, como Juana Vera, “Juanita”, sua intérprete oficial e coronel do Serviço de Informação.

Fidel viveu anos na clandestinidade e abriu um fosso entre sua vida pública e privada. Diz o autor da obra, que os cubanos só foram conhecer Dália, sua mulher desde 1961, em 2006, quando gravemente doente confiou as rédeas do poder ao seu irmão Raul. Durante as grandes ocasiões nacionais, era Vilma Espín, esposa de Raul, quem aparecia ao lado do comandante, fazendo o papel de primeira dama. Ela era presidente da Federação das Mulheres Cubanas.

Não era um perigoso comunista

Sánchez salienta que seu chefe desempenhava mal seu papel de pai. Fala do primogênito Fidelito, que nasceu em 1949 de Mirta Díaz-Balart, ligada diretamente ao regime de Batista. El comandante ainda era um estudante de direito. Depois de triunfar em 1959, Fidel, ao lado de Fidelito, encenou num canal de televisão norte-americana de que não era um perigoso comunista, mas um bom pai de família como qualquer outro ianque.

Dez anos depois, Fidelito foi para a Rússia com o pseudônimo de José Raul e lá se casou com a bela Natalia Smirnova e teve três filhos. Fez física nuclear e, quando retornou a Havana, em 1970, foi nomeado pelo pai como chefe da Comissão Cubana de Energia Atômica, criada em 1980. Em 1992 foi demitido e rebaixado ao cargo de funcionário conselheiro das questões energéticas,

Seu meio irmão, Jorge Ángel, também nascido em 1949 e fruto de uma aventura amorosa do pai com Maria Laborde, é o mais desconhecido. O comandante, como afiançou Sánchez, sempre manteve distância desse filho. Seu grande amor foi Natália Revuelta, a mulher mais linda da capital. Quando esteve preso, em 1953, na penitenciária Isla de Pinos, ela sempre o visitava. Em 1956, Natalia deu à luz, Alina, única filha mulher do líder. Depois da Revolução, Fidel continuou visitando a bela Naty, como era chamada.

Nos anos 60, Alina e a mãe foram enviados a Paris por ordem do comandante. De volta a Havana, aos 14 anos, mostrou-se rebelde e com a intenção de deixar Cuba. Suas relações com o pai sempre foram tempestuosas. Tronou-se modelo. Certo dia fez um comercial do Rum Havana Club de biquíni.

Filha e irmã fogem de Cuba

O pai ficou furioso. A filha sempre tentou fugir de Cuba e Fidel colocou agentes secretos em sua cola, em 1993. Dois anos depois ela saiu clandestinamente de Cuba, usando uma peruca e um falso passaporte espanhol. Primeiro foi para Madrid. Foi um escândalo, como da sua quarta irmã Juanita, em 1964 (eram seis irmãos).

Depois de Mirta e Naty, veio Dalia Soto del Valle, em 1961, ano da invasão da Baia dos Porcos. Com ela, teve cinco filhos, Alexis, Alex, Alejandro, Antônio e Angelito. O pai nunca gostou do Fidelito, do Jorge Ángel e Alina. Ele teve, segundo o autor da obra, mais quatro outros filhos ilegítimos.

A residência de Punto Cero

Em sua narração, Sánchez também descreve a residência de Punto Cero, um terreno de trinta hectares, onde morava com Dalia e os filhos. Era uma casa senhoril. Ele faz um paralelo sobre a abundância e o luxo da família de Fidel (cozinheiros, empregados e jardineiros) com os tempos difíceis de racionamento de comida dos cubanos. Diz que cada membro da família tinha sua própria vaca para que o gosto pessoal de cada um pudesse ser satisfeito.

“O jantar do comandante compunha-se de peixe grelhado, frutos do mar, frango, ovelha, presunto pata negra, mas nunca carne de gado. Dos costumes, quando um dos filhos queria falar com o pai, tinha primeiro que passar por Dalia, e o marido marcava um horário que lhe conviesse. Os filhos só aproximaram um pouco dele durante sua convalescença, em 2006, quando esteve à beira da morte, e os cubanos nada sabiam. Um sósia fazia o papel do comandante para enganar o povo de que ele estava bem.

Ele conta a história do famoso Roberto Vesco, foragido dos Estados Unidos por ter fraudado o fisco em 200 milhões de dólares. Estava em Cuba. Os ianques descobriram, e Sànchez imagina que Fidel deve ter pedido um bom dinheiro para manter o bandido em Cuba. Mais tarde, o comandante resolveu se livrar do incomodo, condenando a treze anos de prisão. Foi assim que morreu, em 2007, sem os americanos por as mãos nele.

Traição da mulher e sua escolta

Sànchez lembra da viagem de Fidel pelo país, quando cortou as relações com Dalia, dormindo em várias das vinte casas em que possuía. Isto aconteceu porque Fidel descobriu a traição da mulher com um membro da escolta, chamado Jorge, que logo saiu de circulação.

Na verdade, como narra o autor da obra, Fidel considerava sua escolta como verdadeira família. Era com seus guarda-costas que festejava as datas nacionais de 1º de janeiro, 13 de agosto (aniversário de Fidel)  e 26 de julho, o dia do início da revolução anti-Batista. Participavam da festança, entre outros, seu assistente José Pepín Naranjo, Antônio Jiménez, amigo geógrafo e Manuel Pineiro, o grande espião, chamado de Barbarroja.

Sobre o temperamento do chefe, Sánchez declara que era um astuto, obstinado e que tinha uma convicção sólida de que todos os meios são bons para chegar aos seus fins, inclusive com mentiras. Como Stalin, contava sempre suas histórias de vantagens e todos riam e acreditavam.

A segurança do comandante

Depois do triunfo, Fidel substituiu seus guarda-costas guerrilheiros por militantes do Partido Socialista Popular. Foi quando entraram em cena Alfredo Gamonal e José Abrantes. O comandante era bem protegido, principalmente quando viajava para as províncias e para o exterior. Contava sempre com um reforço, além dos guarda-costas, o chamado segundo anel. Eram oficiais da contraespionagem.

Todos os agentes da informação eram mobilizados, inclusive dois que tinham sangue “A negativo”, o tipo do el jefe. e seu sósia (pouco parecido com ele) Silvino Álvarez. Ele foi muito utilizado em 1983 e 1992 quando Fidel ficou gravemente enfermo. O falso Fidel passava na limusine presidencial (banco de trás) nos principais pontos de Havana, acenando para o povo.

Quando Fidel ia diariamente ao Palácio da Revolução, saindo de Punto Cero, o itinerário utilizado mudava no último minuto, de modo que nem mesmo os próprios guarda-costas sabiam o caminho escolhido pelo chefe da escolta. Os três carros do cortejo mudavam o tempo todo de posição, para que ninguém soubesse em que veículo estava el líder máximo.

A frota sempre era renovada. Sánchez conta que ao fim da VI Cúpula do Movimento dos Não Alinhados, ocorrida em setembro de 1979, em Havana, o presidente iraquiano Saddam Hussein ofereceu ao colega cubano uma Mercdes-Benz 560 blindado que trouxera consigo de Bagdá. Um dos veículos tinha uma geladeira com refrigerantes, cervejas, garrafas de água e leite de vaca, um litro de leite de cabra e iogurtes naturais ou de limão, um dos preferidos do jefe. O bagageiro do Mercdes presidencial sempre guardava uma mala preta com uma Kalashnikov AKM, com cinco carregadores de quarenta cartuchos. Esse fuzil era a arma pessoal de Fidel, a qual ele utilizava nos exercícios de tiro e sempre levava para casa à noite.

Em seu livro, revela ainda que era ele, o guarda-costas pessoal, quem alugava casas ou reservas nos hotéis. Com uma mala de dinheiro vivo, “cheguei a comprar algumas casas, especialmente na África, quando julgava que esta seria a melhor maneira de garantir a segurança de Fidel durante a noite”.

Destaca o guarda-costas, que foi promovido a tenente em 1979, a capitão em 1983, a major em 1987 e a tenente-coronel em 1991. “Sempre procurei fazer bem o meu trabalho. Quando me perguntavam o que representava Fidel para mim, se um pai, dizia que ele era um deus. Acreditava em tudo que ele dizia e teria morrido por ele. Seguia cegamente nos nobres ideais da Revolução. Abri os olhos mais tarde”.

Confessa que dentro da escolta, o convívio era excelente, ao menos durante o período do reinado de Domingo Mainet, isto é, antes da chegada, em 1987, de seu imbecil sucessor José Delgado Castro, o mais incapaz dos chefes. Na realidade, “o verdadeiro chefe da escolta de Fidel era ele mesmo”.

Em nosso trabalho, assinalou que sempre analisávamos todas as tentativas de atentados, exitosas ou não contra chefes de Estado ou personalidades, como John e Robert Kennedy (1963 e 1968), Anastásio Somoza (1980), João Paulo II (1981), Indira Gandhi (1984), dentre outros. Naqueles tempos da Guerra Fria, “nossa preocupação era imaginar, prever, antecipar e evitar qualquer tipo de ataque ao el comandante, principalmente nos anos 80 quando Ronald Reagan jurou derrubar o comunismo internacional. De tempos em tempos, um motorista da Unidade 160 era designado para testar a bebida de Fidel”.

Em sua obra, Sánchez fala sobre o apoio de Cuba às guerrilhas no mundo, especialmente na América Latina e na África. Descreve sobre o campo de treinamento de guerrilheiros de Punto Cero de Guanabo, com salas de aula, imóveis residências, cantina para servir 600 refeições por hora e uma pedreira para detonação de explosivos, entre outras instalações. Assegura que 90% dos líderes das guerrilhas latino-americanas passaram por lá. O período de ouro do campo se deu na virada da década de 70 para a de 1980. Recebeu soldados de várias partes do mundo, como militantes terroristas do movimento separatista basco Eta, do IRA (Irlanda), Panteras Negras e da Frente Popular para Libertação da Palestina. A intenção de Fidel, segundo ele, era exportar sua revolução para todo mundo, de acordo com a teoria castrista do foco, o foquismo, popularizada por Che Guevara.

O livro traz também a participação de Cuba na revolução de Nicarágua, que derrubou Somoza em julho de 1979. Foi onde Fidel saboreou uma grande vitória depois de duas décadas de esforços. Um ano depois, Fidel passou uma semana percorrendo toda Nicarágua, na companhia do espião Barbarroja e o escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, como fez outrora no Chile de Salvador Allende. A revolução sandinista foi logo prejudicada por dissensões no governo de Daniel Ortega pelo seu viés autoritário. De 1982 a 87, o país mergulhou numa guerra civil, comparável a que inflamava El Salvador.

Em Angola e seu clã

Sánchez faz outro relato sobre a viagem de Fidel a Moscou, no auge dos anos 80, quando o Reagan financiava os Contra da Nicarágua e, na África, mandava seus soldados para Angola em apoio a Jonas Savimbi, da Unita –União Nacional para Libertação Total de Angola. Cuba e os russos apoiavam o governo marxista. O autor conta que na Rússia a pobreza soltava aos olhos, principalmente no campo, como na época da Segunda Guerra Mundial.

No que tange ao clã de Raul, o guarda-costas afirma que el comandante fazia pouco caso da família e lembra de seu irmão Ramón Castro, diretor do Plano Especial de Valle de Picadura. Seu pai, de descendência espanhola, Ángel Castro, era proprietário de terra e se casou com Lina. Tiveram sete filhos, Angelita, Ramón, Fidel, Raúl, Juanita, Enma e Agustina. Dizem que Fidel e Raúl não tiveram o mesmo pai biológico. Ángel era um pai severo e violento, conforme comentam. Fidel era o mais talentoso, carismático, comunicativo, de visão política e força de persuasão.

Sempre comentavam que Raul tudo fazia para agradar o irmão. Executou traidores e inimigos e presidiu pelotões de fuzilamento. Historiadores falam que ele tinha mais sangue nas mãos do que Fidel. Raul conheceu Vilma Espín ainda na guerrilha quando tinha 27 anos e se casaram depois do triunfo da Revolução.

Mania de gravações e a crise Mariel

Durante todo seu tempo de comando, Fidel tinha mania de mandar gravar tudo, inclusive chefes de Estado, reuniões e eventos políticos. Em seu gabinete, de forma camuflada, havia uma caixa com toda parafernália para gravar as conversas. Em sua obsessão, gravava até suas conversas privadas no exterior. Mandava instalar microfones, câmaras nas casas, apartamentos, carros, gabinetes, fábricas e ruas de Cuba. Tudo era feito pelo Departamento Técnico da Polícia Secreta. Os ministros e generais eram vigiados por ele,

Na obra, Sánchez dá destaque à crise Mariel, em abril de 1980, quando cinco cubanos forçaram a entrada da Embaixada do Peru para pedir asilo político. Sob protesto de Fidel, eles conseguiram, e o comandante mandou retirar a proteção da frente da embaixada. O resultado foi que 750 cubanos e depois 10 mil invadiram o terreno da missão diplomática. A ocupação se transformou em uma crise humanitária de grandes proporções.

Depois de três semanas de queda de braço e negociações com Lima e Washington, 100 mil cubanos receberam autorização para se exilar nos Estados Unidos. Antes disso, Fidel transferiu seu gabinete para dentro do gabinete do diretor da contraespionagem, perto da embaixada, e mandou instalar câmaras para acompanhar tudo. Ordenou a instalação de duas ambulâncias ao lado da embaixada para atender os reclusos que precisavam de cuidados. Metade dos médicos era oficiais da informação. Enviou ao local falsos candidatos ao exílio, que simulavam mal-estar e eram recebidos na ambulância pelos falsos médicos. Eles recebiam as últimas instruções de Fidel, para semear a discórdia entre os refugiados.

Depois de semanas, Fidel autorizou milhares de cubanos a ir ao porto da cidade de Mariel para embarcar para a Flórida. Diziam que ele aproveitou para esvaziar as prisões e se livrar de milhares de pessoas perigosas. Não contente, Fidel mobilizou uma multidão hostil no Porto de Mariel para humilhar os exilados com cusparadas e socos.

Por fim, o guarda-costas descreve sobre a obsessão de seu chefe pela Venezuela e sua amizade com o escritor Gabriel Garcia Márquez, com o qual pretendia transformá-lo em presidente da Colômbia. Com a Venezuela, seu maior desejo era ter o petróleo. Conseguiu ascendência ao se aproximar do coronel Hugo Chaves que galgou o poder em 1999. O autor se reporta à fortuna do monarca, sempre negada pelo comandante. Descreve sobre seus graves problemas de saúde nos anos de 1983, 1992 e em 2006 quando cedeu as rédeas do poder para seu irmão Raul. Com problemas de ordem digestiva, sempre era atendido no quarto andar do Palácio onde ficava sua clínica particular.

O livro, “A Vida Secreta de Fidel” fez um destaque sobre a participação de Cuba na guerra de Angola, de 1975 a 1992, para onde o comandante enviou 200 a 300 mil combatentes. Nos momentos mais difíceis, Fidel comandou seus soldados e oficiais de dentro de seu gabinete, numa distância de 10 mil quilômetros. Cuba apoiava o líder marxista Agostinho Neto, do Movimento Popular de Libertação de Angola. Em setembro de 1975 Agostinho venceu e tomou Luanda. Em 1977, Fidel fez sua viagem triunfal pelas terras angolanas, mas a situação não estava totalmente sob controle. Logo depois veio a guerra civil até 1992.