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“CIGANOS NO BRASIL – UMA BREVE HISTÓRIA” (PARTE FINAL)

AS CORRERIAS E O FIM DO ESCRAVISMO

Fotos divulgação

As “correrias de ciganos” ocorreram por diversos fatores, como o fim do escravismo, quando muitos bandos perderam sua principal atividade econômica, principalmente no Campo de Santana, nas ruas dos Ciganos e no Valongo, no Rio de Janeiro. Com isso, a comunidade foi entrando em decadência. Muitos bandos deixaram o Rio rumo a Minas Gerais, aumentando o número deles no território mineiro. Contribuiu também para as correrias, a crise na lavoura canavieira no Nordeste no final do século XIX, junto com o êxodo de homens pobres para o Centro-Sul. Foram para Minas, ciganos caldeireiros que trabalhavam no conserto de peças e objetos de latão e de cobre nos engenhos.

Diz Teixeira que entre 1870 e 1930, intelectuais brasileiros acharam que deveriam mudar a configuração racial do Brasil. Em alguns casos, eram propostas soluções de eugenia e do extermínio de populações indesejáveis, como indígenas. Possivelmente, segundo o autor, isso inspirou as ações policiais mineiras nas Correrias de Ciganos. Surgiram ideias de integrar certas parcelas da população, tentando ordenar o espetáculo das raças. Para essa gente, formar a raça brasileira significava construir a nacionalidade.

Essas ideologias voltaram com força no governo atual, eleito em 2018. Os estrangeiros, no entanto, achavam impossível construir uma raça a partir da miscigenação. Os ciganos sempre estiveram fora do chamado espetáculo brasileiro das raças. Na Europa, eram vistos como mestiços degenerados, enquanto no Brasil como raça maldita e inferior. “Em fins do século XIX, a perseguição aos ciganos repercutia as transformações ligadas à construção da nacionalidade cada vez mais “racializada”. O projeto higienista associou os ciganos à mais baixa escória, caracterizando-os como horda, malta, manada de facínoras, desordeiros, sujos, preguiçosos e vagabundos.

A inserção dos ciganos na economia

Sobre a inserção dos ciganos na economia, um dos capítulos do livro, eles demonstraram habilidades como empreendedores e encontraram brechas no mercado para atuar na venda de escravos (séculos XVIII e XIX), de animais, arreios de prata, tecidos e roupas, relógios de ouro, consertadores de caldeiras, quiromantes (buena dicha) e até nas atividades artísticas de músicos, ilusionistas, de saltimbancos e circense. Contam que foram os primeiros artistas que atuaram em Minas Gerais. Como comediantes, chegaram a ser denunciados ao Santo Ofício, em junho de 1727, pelo bispo do Rio de Janeiro, D. Frei Antônio de Guadalupe. A acusação dizia que suas comédias e óperas eram imorais, com afronta aos preceitos da Santa Igreja.

Gilberto Freyre faz menção aos ciganos como introdutores de animais exóticos nos engenhos e nas feiras nordestinas, acompanhados de meninos que faziam acrobacias sobre cavalos. Usavam ursos verdadeiros, ou então fingidos, que dançavam ao som de pandeiros. Os macacos e macacas eram vestidos de sinhás, com laços de fitas, que dançavam e faziam graças. No interior mineiro, tornaram-se famosos os ursos ciganos. Geralmente, os ciganos que trabalhavam nessa área circense pertenciam ao grupo Rom, vindos da Europa Central.

Os maiores circos pertencentes a famílias ciganas no Brasil (Kalderash, Robatini e outras da Hungria, Romênia e da Itália) foram Circo Orlando Orfei, Circo Norte Americano, Circo Nova York e Circo México. Conta que a numerosa família Wassilnovitch (trocaram o nome por Silva) chegou ao Brasil através do porto de Salvador, com a família François, na década de 1880. Suas primeiras apresentações foram feitas em praças públicas por falta de recursos. O capitão Zurka Sbano (Kalderasch), residindo em São Paulo, conta que sua família se tornou circense em fins do século XIX. Seu avô mascateava e fazia tachos e alambiques

Eles concorriam com o comércio dos mascates portugueses, judeus, da Itália, do Líbano e da Síria. Estes procuravam atender pedidos e criar demanda. Os ciganos tinham a facilidade de fazer trocas e criar barganhas. Era difícil enganar um cigano. Muitos tinham o truque de transformar pangarés em vistosos cavalos de raça. Por isso, eram chamados de embusteiros e trapaceiros. Eram vistos por viajantes memorialistas em Sorocaba, onde funcionou o maior centro de comércio de muares trazidos dos pampas (Província do Rio Grande de São Pedro do Sul –Viamão). Era um dos principais pontos onde os tropeiros de Minas renovavam suas tropas. Havia o estilo cigano de tratar e montar o animal.

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1964, O ANO QUE NOS SEPAROU

Este texto faz parte do livro “ANDANÇAS”, lançado há pouco tempo pelo jornalista e escritor Jeremias Macário. Como diz o título, trata da maldita ditadura civil-militar de 1964 que prendeu, torturou e matou muita gente. Vamos sempre lembrar desses tempos de chumbo para que ela nunca mais retorne ao nosso Brasil. Vigilância sempre, porque os ditadores não tiram férias.

Até então era a Igreja Católica e a juventude cristã com seus movimentos libertários em defesa da justiça social. Os operários, estudantes e professores pediam melhorias nas fábricas e nas escolas; os camponeses e seus sindicatos queriam mais terras para trabalhar; os marinheiros e outras fardas lutavam para se livrar de seus opressores navios e quartéis; as esquerdas políticas e seus líderes, inspirados nos ideais das revoluções socialistas, defendiam as chamadas reformas de base; e as famílias se uniam para ver seus filhos prosperarem na educação.

As camadas mais conscientes e politizadas da população avançavam e se agitavam no terreno das conquistas. Divergiam nos métodos, mas convergiam nos objetivos, enquanto a burguesia e a elite atiravam pedras. Ai apareceu a cavalaria de 1964 com seus tanques, fuzis, lanças e metralhadoras e nos separou. O governante desistiu de encarar a luta e a grande maioria não acreditou no que estava acontecendo. Com a dispersão, não houve tempo para reunir as forças.

O golpe civil-militar de 1964 foi mesmo o ano que nos separou e nos deixou mais distantes do sonho e da esperança. Foi o ano que empurrou os brasileiros para uma longa noite de trevas e uma tenebrosa separação nos anos seguintes. Foi o ano que criou carrascos para excomungar a liberdade de opinião, prender seus opositores e dar guarida aos apoiadores. Foi o prenúncio da escuridão e o ano em que irmão dedurou irmão.

1964 foi o ano que separou as pastorais dos padres de seus militantes, os progressistas dos conservadores, o bispo do sacerdote; separou os pais de seus filhos, o aluno da sala de aula, o trabalhador do seu ofício; separou os sindicados e as associações de seus filiados, os grêmios estudantis da sociedade; separou a ação do ideal, o pensar do expressar; separou Jonas de Natália, José de Maria, o amigo do amigo, a amiga do amigo, o pedreiro do jardineiro, o soldado da sua farda, o universitário do secundarista; separou os casais e a criança dos braços; separou os namorados e dividiu o companheirismo e a camaradagem.

Foi o ano que espatifou a solidariedade e transformou o amigo em inimigo. Separou o Estado da Nação.  Foi o ano que separou a filosofia da lógica e assassinou a dialética marxista. Separou os avôs de seus netos, a viola da canção, o cancioneiro do palco, o palco do povo e o povo do show. Separou o agricultor da terra, o mestre do ensino e gestou mais de 30 organizações armadas que nasceram anos depois na clandestinidade.

Foi o ano que separou o artista da sua arte, o escritor da pena, o jornal da informação, o jornalista da verdade, a denúncia da página e o fuzil perfurou as notícias nas bancas de revistas. Foi o ano que separou o cineasta das filmagens de protesto, o ator do teatro e o fotógrafo de suas câmaras violadas no país da repressão.

1964 foi o ano que nos separou da democracia e gerou o monstro do AI-5 (Ato Institucional) e nos ofereceu depois uma amarela anistia. Foi o ano que separou o amor da filha do general pelo filho do deputado comunista cassado. Destroçou amizades e criou traidor contra grupos políticos rivais. Foi o ano que separou os anéis dos dedos e o casamento no altar.

Foi o ano que separou a UNE (União Nacional dos Estudantes) do seu povo que ficou órfão de seus pensadores maiores que logo partiram para o longo exílio em terras estrangeiras. Foi o ano em que o rouxinol e o sabiá perderam o canto e as flores amanheceram murchas. Foi o ano que separou, mas uniu os ditadores e tiranos.

Separação faz doer no peito a saudade do ente querido que parte fugido e  nunca mais retorna ao seu lar. É tristeza e melancolia. O ano de 1964 não só separou como desterrou e fez desaparecer. Foi como um cavalo de fogo que transformou a liberdade em brasas. Foi como o rasgo da espora na barriga do animal.

Não se imaginava que aquele ano fosse tanto se prolongar por mais de duas décadas de separações, de encontros e desencontros apressados, de noites sem dormir esperando o outro clarão e que fosse separar a primavera dos raios de luz e fazer as folhas caírem secas sobre o chão.  Foi o ano que nos separou e nos proibiu de marcharmos juntos cantando o hino nacional. Foi o ano que nos obrigou com mão de ferro a nos separar.

EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

Pelas lentes do jornalista Jeremias Macário, o tempo está carregado, incerto e com nuvens sombrias, mas amanhã será outro dia com o sol brilhando, e muita gente nele se banhando, para realizar seus sonhos que, apenas deram uma parada. É como estamos em tempos desse coronavírus, mas as nuvens turvas vão passar e todos vão se abraçar, mas, para isso acontecer, todos têm que deixar de ser individualistas e pensar no coletivo, no outros e nos mais de 50 mil que se foram no Brasil. Lamentavelmente, depois de quase quatro meses, ainda tem gente que não acredita no que está ocorrendo e acha que tudo é mentira. Infelizmente, outros entram em pânico e, de medo piram, fazendo com que a mente adoeça e, consequentemente, o corpo enfraquece e abre a guarda para o danado mortal do vírus. Sempre digo que os mais pobres são os mais vulneráveis a esse tempo pesado e carrancudo. É tempo de ler, meditar, de reduzir o consumo de supérfluos e mergulhar em si mesmo para puder mergulhar nos outros, e respeitar a ciência e os espaços de cada um.

UMA NAÇÃO EM CORRERIAS

Este poema de autoria do jornalista Jeremias Macário é inédito e saiu agora do forno. Fala de um povo que foi e ainda é muito discriminado pelos olhos preconceituosos.

Fotos divulgação

Um dia, uma bela “buena dicha”,

Cigana do Rio Campo de Santana,

Leu as raias da minha mão,

Falou do meu passado e futuro,

E de uma nação em correrias,

De um povo livre Calon e dos Rom,

Origens de várias partes do mundo,

Visto como trapaceiro e vagabundo.

 

Reza a lenda que um grupo do Egito,

Não acolheu o Infante em sua tenda,

Quando fugia com sua Família no deserto,

E aí caiu maldição de vagar como nômade,

Viver sua gente em disparadas correrias,

Forasteira peregrina a pagar a sua sina,

Mas tudo foi engano cigano feito mito.

 

Da Grécia Antiga e dos confins da Ásia,

Na Romênia, a nação Rom foi escrava,

Falseou de imigrantes alemães e italianos,

E da Península Ibérica veio o Calon Kalé,

No galé do navio degredado por Portugal,

Para o Rio como bandidos imundos vadios,

Nos mares negreiros do Brasil Colonial.

 

Para sobreviver, negociou com escravos,

Arreios de prata, cavalos e bestas animais,

Cigano Calon do cobre, zinco e do latão,

Caldeireiro engenho da mata canaviais;

Do Nordeste, de Minas a Bahia nos jornais,

Noticiado como sujo, embusteiro sem etnia,

Pela polícia dessa sádica elite sociedade,

Como desordeiro, preguiçoso e ladrão.

 

Das correrias dos sangrentos tiroteios,

As posturas municipais de torturas,

Acusam ciganos de zíngaros imorais,

A “buena” de bruxa astuta prostituta,

Uma nação com suas marcas culturais,

Sem direito à cidadania do ir e do vir.

 

De tez morena, olhar mágico lógico,

Com seu tempo sem relógio dividido,

Não linear, de labirinto reprimido,

Curtindo na rede, a deusa do ócio,

Como um transgressor das normas,

Herege banido dessa moral religiosa,

Vai a cigana Andaluz a bailar formosa,

Nas batidas sonoras das castanholas,

A sonhar com seu reino mitológico.

 

Essa é a história de uma nação em correrias,

De cidade em cidade, província em província,

Artista amante da dança nas noites de boemias

Que com seu jogral encantou toda Corte Real.

 

 

UMA ATITUDE INUSITADA

Albán González – jornalista

Minha avó espanhola costumava chamar a pessoa idosa, ranzinza, de “velho rabugento”. O prefeito Herzem Gusmão, que parece estar sempre irritadiço, principalmente agora que seu grande adversário é uma criatura invisível, que vem atrapalhando seus planos de passar mais quatro anos na prefeitura de Vitória da Conquista, esquecendo que 70 anos é a idade limite para o servidor público se aposentar. Minha avó Áurea teria mandado nosso alcaide vestir o pijama e voltar a fazer o circuito das emissoras de rádio da cidade, o que lhe dá um enorme prazer

Eleito por aqueles que não suportavam mais testemunhar os mensalões e petrolões, patrocinados pelo PT nacional, e como não havia outra opção, a maioria dos conquistenses, principalmente as classes A e B, elegeu Herzem. Prestes a completar seu quarto ano de mandato, o radialista, que no passado empunhou a bandeira vermelha do Partido dos Trabalhadores, teve o apoio dos irmãos Vieira Lima e do ex-presidente Michel Temer, alvos da Lava-Jato. Em vez de trabalhar pela cidade, acusou seus antecessores por ter colocado em suas mãos um “abacaxi”, que pretende continuar a descascar pelos próximos quatro anos.

Indiferente ao aumento dos números de mortos, contaminados e de leitos ocupados, vítimas da Covid – 19, após a reabertura do comércio e dos templos religiosos, no último dia 1º, pressionado por uma parcela do seu eleitorado, constituída por lojistas e evangélicos – as igrejas católicas permanecem fechadas – Herzem trava uma disputa contra o governo estadual, a Justiça, o Ministério Público, organizações mundiais de saúde, pesquisadores e infectologistas, para manter as lojas abertas e a realização de cultos em recintos fechados.

Segundo Herzem, com bases em estudos técnicos, a Covid -19 está sob controle em Conquista, razão pela qual não vê razão para cumprir a Ação Cível Pública, assinada pela promotora Guiomar Oliveira Neto, pedindo a revogação do decreto que determinou a reabertura do comércio e das igrejas evangélicas.

As autoridades municipais fecham os olhos para as aglomerações no Centro, com filas nas portas dos bancos, lotéricas e estabelecimentos comerciais; à chegada de ônibus clandestinos, vindos de São Paulo, trazendo passageiros contaminados pelo vírus; ruas fechadas, passageiros dos ônibus sob a chuva, caos no trânsito, para que o prefeito possa entregar à cidade o novo Terminal da Lauro de Freitas, seu carro-chefe da campanha pela reeleição. Por último, avalizou a queima de fogueiras e de fogos de artifícios, proibidos por médicos e sanitaristas, no segundo feriado de São João, que havia sido antecipado por decreto estadual.

A crise sanitária em Conquista, causada pelo novo coronavírus, seria melhor administrada se Herzem tomasse como exemplo a conduta do seu novo guru, o prefeito de Salvador, ACM Neto, que deu as mãos ao seu adversário político, o governador Rui Costa, numa frente de batalha contra o vírus. Para ambos, a vida humana é mais preciosa. Contudo, o conquistense prefere a guerra de palavras, levar a doença para o terreno da política, ao modelo do seu mito, o presidente Bolsonaro.

 

 

 

 

A IMPOTÊNCIA DIANTE DO INVISÍVEL

Com o avanço da tecnologia e da ciência; o envio de foguetes ao espaço para descoberta de planetas; a clonagem de seres; construção de armas poderosas de bombas e capsulas destruidoras; e outros artefatos mortais, o homem orgulhoso começou a se sentir o próprio Supremo Criador, com poderes sobre a vida, mas caiu de joelhos diante de um vírus invisível que já matou e infectou milhões no planeta.

Depois de mais de seis meses “batendo cabeça”, essa ciência e essa tecnologia ainda não conseguiram deter este invisível inimigo através de remédios, ou uma vacina, e o “bicho” continua a se propagar e a fazer estragos, embora ainda tenha gente, aqui mesmo no Brasil, que acha que tudo não passa de mentira e exageros da mídia. Como essa gente ainda acredita que a terra é plana, prefere politizar e menosprezar a sua força mortal.

Essa humanidade bestializada com seus inventos, não conhece nem um milésimo dos segredos da natureza, mas, com sua estupidez, avança com sua maldade, depredando e jogando seu lixo consumidor sujo no meio ambiente, que revida aos insultos transmitindo doenças estranhas, germes e pandemias. Pena que essas agressões retornam em forma de tragédias e catástrofes que ceifam a vida nos países mais pobres, em maiores proporções do que contra os ricos.

As maiores vítimas

A falta de educação gera desigualdades sociais, caso específico do Brasil, onde a pobreza é a maior vítima dessa pandemia. Infelizmente, por falta de instrução de uma grande parte ignorante, essa parcela brasileira não se cuida e ainda zomba, fazendo de conta que tudo está normal, e segue desrespeitando e burlando normas científicas. Tudo mais parece com um suicídio coletivo.

Aliado ao fator educacional e a indisciplina, ainda temos a falta de uma liderança do poder central, o qual desacredita no que está acontecendo e cria a desarmonia entre estados e municípios. As aglomerações não param de ocorrer (não existe isolamento social), e o Brasil bate recordes de contaminação no planeta com mais de um milhão de pessoas portadoras do vírus (os números são subestimados).

A impressão que se tem é que esse povo, tão desigual e pobre, não está nem aí para as mais de 50 mil mortes. Como exemplo mais visível, prefere driblar os decretos e regras dos governos estaduais e municipais e festejar o São João, com fogos, fogueiras e muitos convidados em suas casas, como vimos em toda Bahia.

Em Salvador, na Feira de São Joaquim, a população desvairada correu como manda às compras dos produtos e bebidas juninas, como se tudo estivesse na normalidade, sem coronavírus e sem pandemia. Aqui em Vitória da Conquista, no Centro de Abastecimento da Ceasa e, creio eu, em todas as outras cidades do estado, aconteceu o mesmo tipo de aglomeração, para festejar a noite. É um povo que não consegue se conter e se controlar. A sensação que temos é que o Brasil é um caso perdido, enquanto essa gente não adquirir consciência social, política e educacional.

Outra pergunta que fica no ar é aonde essa gente tão pobre e miserável adquiri dinheiro para comprar tantas guloseimas para festejar com seus familiares e amigos? Diante da televisão, mentem quando dizem que a festa vai ser só entre a família. Ao contrário, sabe-se que as casas se enchem de amigos e vizinhos e, do meio da festa em diante, quando a coisa esquenta mesmo com a mistura de muita bebida, todos estão se abraçando, se beijando e dançando agarradinhos.

“CIGANOS NO BRASIL – UMA BREVE HISTÓRIA” (PARTE III)

UM CIGANO NA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

O Brasil já teve presidentes nordestino (pau-de-arara), gaúcho fazendeiro, mineiros, paulistas, marechal das Alagoas, generais da ditadura civil-militar, agora um sádico capitão, mas poucos sabem de um presidente-cigano, Juscelino Kubitschek que construiu Brasília, que virou um covil de ladrões, mas não por culpa da nação cigana.

Quem revelou esta curiosidade, que eu nem sabia, foi o autor do livro “Ciganos no Brasil – Uma Breve História”, de Rodrigo Corrêa Teixeira. Já vimos que os Calon, ou Kalé, vieram da Península Ibérica e aqui se aportaram desde o início do século XVI.

O grupo Rom, ou Roma

No entanto, na primeira metade do século XIX, o Brasil recebeu o grupo Rom, ou Roma, da Europa do Leste, com suas famílias. De acordo com informações, o Rom que mais cedo chegou ao território mineiro foi Jan Nepomuscky Kubitschek, que trabalhou comO marceneiro no Serro e em Diamantina.

Sua alcunha era “João Alemão”, um imigrante vindo da Boêmia, parte do Império Austro-Húngaro, que deve ter entrado no Brasil, segundo Teixeira, por volta de 1830-1835, casando-se pouco depois com a brasileira Teresa Maria de Jesus, que teve dois filhos, João Nepomuceno Kubitschek, um destacado político (chegou a ser senador). O segundo filho foi Augusto Elias Kubitschek, um comerciante com escassos recursos que viveu toda sua vida em Diamantina.

Augusto foi primeiro suplente de subdelegado de polícia em 1889 e teve uma filha de nome Júlia Kubitschek, que viria a ser a mãe de Juscelino Kubitschek (1902-1976) e se tornou presidente da República no período de 1956 a 1960, com o apelido de JK. Com sua boemia e veia artística, foi um cigano, ou descendente de ciganos Rom.

O fato é que a partir de 1865, quando foi abolida a escravidão cigana na atual Romênia, na década de 30, “havia entrado em Minas Gerais um cigano Rom”. Os historiadores não citam essa passagem de que Juscelino era um cigano imigrante do Leste Europeu.

De acordo com o autor da obra, somente a partir da segunda metade do século XIX, os Rom vieram em número significativo para o Brasil, provenientes da Itália, Alemanha, dos Balcãs e da Europa Central. O escritor James W. Wells, em seu livro publicado, em 1886, identifica como sendo romenos (Rom) os ciganos de Contendas, que entraram em 1873. Aponta ainda que em maio de 1899, chegou à cidade de Palmyra um bando de cerca de 40 ciganos, composto de indivíduos de nacionalidade italiana e grega.

Acredita-se que esses Rom vieram em maior quantidade no final do século XIX, juntamente com a primeira onda migratória de italianos, alemães, poloneses, russos e gregos, apesar da polícia portuária ter proibido o desembarque de ciganos em território brasileiro. Eles se disfarçavam e entravam como imigrantes, com nomes diferentes.

Saltimbancos e criminosos

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AS FERIDAS ABERTAS DA DITADURA

Este texto é oportuno para os dias atuais em que vive o nosso país, e faz parte do último livro “Andanças”, que pode ser encontrado na livraria Nobel e nas bancas da cidade, ou pode ser adquirido através do próprio autor. As fotos são do meu amigo Evandro Teixeira que correu mundo e cobriu os principais fatos da ditadura no Brasil. A instalação é do amigo e escultor Edmilson Santana.

Tratava-se de uma guerra, e numa guerra tudo é permitido, inclusive a tortura brutal e desumana para arrancar confissões. As vítimas eram simplesmente “terroristas subversivos e comunistas” que tramaram uma ditadura de esquerda e provocaram atentados com mortes contra a “revolução de 1964”, como assim ainda ensinam nos quartéis e colégios militares.

Estes argumentos e mais outros persistem na voz dos generais da ativa e da reserva, para tripudiar o relatório da Comissão Nacional da Verdade que, na verdade, repetiu muitas coisas já reveladas e foi covarde por não enfrentar a força e os insultos dos militares. Para eles (generais), não existiu golpe civil-militar.

As feridas dos mortos e desaparecidos insepultos continuam abertas porque, como já era previsto, a Comissão que durou quase três anos não tinha o poder de punir os torturadores. Desde a redemocratização com a eleição de Color de Mello (1989) até 2014 (25 anos), os presidentes da República se mostraram politicamente medrosos.

Mesmo que tivesse sido uma guerra (estranha batalha de metralhadora contra estilingue), a tortura, tida pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pela Declaração dos Direitos Universais como crime contra a humanidade, não justificaria.

Ademais, não existem registros de que aqueles que lutaram contra a ditadura e pegaram em armas tenham praticado torturas. Houve mortes nos confrontos, e essa de que as organizações políticas pretendiam instalar no país uma ditadura de esquerda não é também fundamento para anistiar a tortura e os torturadores.

Nenhum dos mortos da resistência ficou sem sepultura. É inaceitável rebater os atos de tortura apontando que o outro lado assaltou bancos e sequestrou. E aqueles que não participaram da luta armada; não foram sequestradores; defendiam a liberdade e a democracia; eram nacionalistas e, mesmo assim, foram barbaramente torturados?

Como o brasileiro já não tem o hábito da leitura, pelo menos lesse o relato do sofrimento do dominicano Frei Tito Alencar Lima quando esteve preso na Oban (Operação Bandeirantes) no final de 1969 e 1970. Seus algozes torturadores o perseguiram até o último segundo do seu suicídio em agosto de 1974 num convento do interior da França. É apenas um dos exemplos monstruosos e aberrantes dos crimes cometidos pelo Estado, cujos agentes e locais públicos eram pagos com o dinheiro do povo.

Reza a Constituição que o presidente da República é o comandante supremo das forças armadas, e o Regulamento Disciplinar do Exército diz que o militar, especialmente da ativa, não pode se pronunciar em relação a questões políticas.

No entanto, não foi isso que se viu da parte do general de Exército da ativa, Sérgio Etchegoven, chefe do Departamento Geral do Pessoal, que repudiou o relatório, classificandode “leviano” o trabalho que apontou 377 civis e militares como responsáveis pelos crimes cometidos no período de 1964 a 1985. É a primeira manifestação de um general da ativa.

Pois é, não deu em nada. A sensação que passa é de tremendo medo quando os leões rugem e ainda ameaçam cravar seus dentes ferozes. Quem continua enjaulado e ferido é o civil porque os presidentes eleitos (Color, Fernando Henrique, Lula e Dilma) não tiveram a coragem política de fechar esta ferida e dar um basta nessas afrontas.

Na vizinha Argentina, o primeiro presidente civil Raul Alfonsín (advogado dos presos políticos)mandou abrir os processos (leis de Obediência Devida e Ponto Final) e lá o Judiciário teve a força de prender os torturadores, inclusive um presidente da República. Lá, as leis de anistia foram anuladas. O mesmo aconteceu no Chile do ditador Pinochet. Anistia não significa que a nação perdeu sua memória.

Na mesma semana da divulgação do relatório da Comissão em nosso país, na Argentina, pela primeira vez desde a redemocratização, o militar Ernesto Guillermo Barreiro, acusado de ter violado os direitos humanos durante a última ditadura (1976-1983), revelou o lugar onde foram enterrados 25 presos políticos assassinados.

Aqui, a presidente Dilma, que também foi torturada, só chorae coloca panos quentes diante da lista de 434 mortos ou desaparecidos. Os outros eleitos pelo voto direto só ficaram no lamento e não tomaram posições políticas firmes para, pelo menos, cicatrizar as feridas das famílias que perderam seus entes queridos e nem tiveram o direito de sepultar seus mortos. Até agora não existiu, ao menos, um pedido de desculpas e perdãoda parte dos militares.

Depois de ouvir 1.116 depoimentos, o relatório publicou 4.328 páginas de feridas abertas de como funcionava a cadeia de comando militar. Não é novidade nenhuma a Comissão revelar que a tortura era uma política de Estado, e não apenas resultado de ações isoladas cometidas por membros do regime que agiam por conta própria.

A Comissão ficou no óbvio ao pedir punição aos torturadores e considerar a tortura como crime contra a humanidade (imprescritível). Na contramão dos direitos humanos, em 2010, o Supremo Tribunal Federal deu como legítima a Lei de Anistia. Como disse o editorial de um jornal impresso baiano: “O fim da ditadura completa 30 anos em 2015. Continua uma ferida aberta” Por quanto tempo continuará assim?

 

 

SAUDADES DO NOSSO SÃO JOÃO!

Oh quantas saudades do nosso São João, uma festa tradicional e cultural do Nordeste! Em toda sua história, desde que foi introduzida no Brasil há séculos, com suas quadrilhas, maracatus, músicas, comidas e bebidas típicas, é a primeira vez que sua data vai passar em vazio por causa desse mortal coronavírus que já matou quase 50 mil no Brasil. Nos últimos anos, os festejos perderam suas características, mas os amantes da cultura sempre se posicionaram contra as deturpações dos tempos, principalmente no aspecto musical com as misturas de lambadas, axé, pagodes, arrochas e outros ritmos que nada têm a ver com o São João, tão decantado na sanfona do rei Luiz Gonzaga e seus seguidores. Neste ano, a data vai passar sem as fogueiras, os fogos e o forró-pé-de-serra. Que a festa volte com toda força no próximo ano, livre dessa pandemia, para comemorarmos o mês mais alegre e festeiro dos santos Antônio, São João e São Pedro.Todos os anos curto o São João em minha querida Piritiba, revendo amigos e parentes, mas 2020 vai ser mesmo em casa, sem muita graça. A história tem disso. Mesmo assim, Viva o São João, a melhor festa brasileira!

LEMBRANÇAS DO TREM

Poema de autoria do jornalista Jeremias Macário

Foi-se o tempo de menino,

Espiando o telegrafista,

Com batidas de artista,

Mandar tocar o sino,

Como se fosse um hino,

Pra lembrar aos viajantes,

Que em poucos instantes,

Vai ter máquina na pista.

 

Lá vem o trem a se arrastar,

Nas serras diamantinas,

Como cobra a deslizar,

Por entre as colinas.

 

Lá vem o trem roncando,

Com suas patas de ferro,

Levando usinas de sonhos,

Nas cabeças dessa gente,

Soltando o seu berro,

E avançando imponente.

 

Lá vem o trem groteiro,

Pelas esquinas do sertão,

No seu traço rotineiro,

Picado lento e ligeiro,

Parando nas estações,

Como fazia o tropeiro.

 

Lá vem o trem das matinas,

De janelas sem cortinas,

No seu balanço manso,

Apitando pra avisar,

Que logo vai parar,

Na Estação de Paiaiá.

 

Lá vem o trem penitente,

Puxando a sua corrente,

Nos trilhos do dormente,

Como um rezador,

Que vai curando a dor

Da alma do doente.

 

Lá vem o trem lembrança,

Dos dias que era criança,

Matando minha saudade,

De no embalo pongar,

E mais adiante se soltar,

Pra na linha caminhar,

Vendo o meu trem sumir

No horizonte de lá,

E noutra cidade chegar.

 

Em sua última viagem,

O trem partiu para o além,

E levou a minha bagagem,

Ficando só na mente,

A marca daquela fumaça,

Na minha cinzenta vidraça.

 

Lembrança da valente,

Piritiba de toda gente;

Do sábado de feirante;

Do poema cortante;

Do poeta Aragão,

Que mistura pavio,

Mandioca com feijão,

E ainda nos dá razão,

Pra xingar de delinquente,

O governo indecente,

Que deixou esse vazio,

Do nascente ao poente.

 





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