Bem que o Papa Francisco tentou fazer algumas renovações nesses seus doze anos de ministério, mas sempre sofreu a resistência acirrada da ala mais conservadora. Sua marca maior foi levar a julgamento os padres e bispos pedófilos, um dos muitos pecados graves cometidos pela instituição religiosa ao longo desses mais de 2000 mil anos de cristianismo e catolicismo. Outra sua mudança foi a de ser mais compreensivo e flexível para com os homossexuais e gêneros LGBTs. Abriu mais as portas.

O pontificado de João XXIII, através do Concílio Vaticano de 1965, foi até revolucionário em termos interno e externo quando a Igreja se abriu para os problemas sociais e até tivemos os adeptos da teologia da libertação naquela década, cujos defensores foram perseguidos como comunistas e subversivos pelas ditaduras no Brasil e países vizinhos da América Latina. Outro ponto positivo foi mudar a liturgia, com a missa na língua vernácula e de frente para os fiéis.

Além dessas questões que me atrevo a tratar e são polêmicas, gostaria de focar aqui sobre as eleições papais, ao meu ver, fechadas e indiretas, feitas num conclave de 120 cardeais, a maioria já com idade avançada (tem que ter menos de 80 anos) onde o escolhido tem pouco tempo de “reinado”.

Na verdade, o pleito nunca foi democrático. Pelo menos deveria contar com a participação de diáconos, padres, monsenhores, bispos e arcebispos. O indicado deveria ter no máximo 70 anos como forma de colocar sangue novo na Igreja. Em casos mais recentes, o Bento XVI foi obrigado a renunciar e agora o nosso Francisco está convalescente prestes a deixar o cargo.

Como não se trata de dogmas (são 43 ou 49 divididos em oito categorias), os quais não se discute e são como sentenças judiciais que devem ser cumpridas, por que não estabelecer, então, um período de mandato de governo? Por falar em dogmas, sempre tive minhas dúvidas desde quando seminarista. É como a fé que é ministério e não se tem uma explicação exata. É diferente da ciência.

Quem sou eu para opinar sobre assuntos tão profundos e delicados! Assim deve estar imaginando muita gente, mas estamos em pleno século XXI e já se passaram tantos concílios! A Igreja pouco se modernizou e se adaptou às mudanças. Sua maior preocupação é criar mais e mais santos para a adoração de seus fiéis. A religião não é monoteísta. Penso que tenho direito a fazer a minha crítica e colocar o meu ponto de vista.

Até o século IV, os papas eram escolhidos por diáconos e padres. Quanto aos bispos, estes eram indicados pelos católicos. Os tempos atravessaram e tivemos centenas de papas, inclusive um jovem de apenas 20 anos, chamado de Bento IX. Nunca tivemos um papa negro, a não ser um designado assim por ser superior geral da Companhia de Jesus devido ao uso da cor de suas roupas e da ordem.

Por causa das relações restritas com o Oriente, a Igreja teve papas africanos (não foram negros), Vitor I (189/198), Melquíades (311/314) e Gelásio I (492/496), originários da Alexandria, Cartago e Hipona.

A partir de 1975 com Paulo VI, o papa é nomeado por um conclave de 120 cardeais a portas fechadas na Capela Sistina, de acordo com a Constituição Apostólica Universi Dominici  Gregis. Em 1996, João Paulo II oficializou o termo conclave dos cardeais.

É uma votação altamente secreta onde rolam até discussões políticas acirradas pelo poder, conforme comentam os especialistas no tema. Depois da eleição surgem os vazamentos na mídia. Os católicos do mundo inteiro ficam esperando a fumaça branca da chaminé do Vaticano e apenas comemoram com “Habemos Papa”.

Ao longo desses tempos da era cristã e católica tivemos vários concílios que mais serviram para manter o conservadorismo da Igreja, como o de Nicéia (ninfa na mitologia grega), na Turquia, no reinado de Constantino I, em 325, quando Silvestre I era o papa. A maior renovação registrada foi a tomada de decisão de separar o poder político romano da religião, bem como acabar com as perseguições.

Em Nicéia foi confirmada a teologia trinitária, a veneração de imagens e demais dogmas da Igreja, como Deus é o único trino, as verdades da fé, o Pai é o criador, o Espírito Santo é Deus, Jesus é Deus e homem, encarnado, morto e ressuscitado, a virgindade e a divindade de Maria (Concílio de Éfeso, em 431, como imaculada conceição mãe de Deus e sua assunção, o papa como vigário de Cristo e autoridade suprema, dentre tantos outros.

O de Trento, no papado de Paulo III (1545/64) serviu para firmar os dogmas da Igreja e foi um evento provocado para contestar as reformas luteranas. Tivemos ainda os concílios de Roma (382), Hipona, em 393, que estabeleceu o cânon bíblico.

Houve o Edito de Nantes, na França, em 1598, no reinado de Henrique IV que determinou a liberdade religiosa para os huguenotes (seguidores de João Calvino) visando exterminar a perseguição (36 anos – Noite de São Bartolomeu, em 1572) contra os protestantes em geral.

No entanto, esse concílio fortaleceu mais ainda os tribunais da Santa Inquisição, o maior pecado criminoso que mais manchou a Igreja, sem contar a sua participação direta na escravidão africana, inclusive entrando no comércio de escravos.

Por causa do seu conservadorismo, comodismo e restrição na mobilização entre as bases mais populares, a Igreja começou a perder espaço para os protestantes, sem falar na diminuição vocacional dos padres que são impedidos de se casar. A instituição proibiu o casamento de sacerdotes nos Concílios de Latrão, em 1123 e 1139.

O Concílio de Trento (1545/1563) impôs definitivamente o celibato obrigatório em toda América Latina. A prática do celibato já existia no século XI. Neste período, vários papas como Leão IX e Gregório VII reforçaram essas leis devido à degradação moral do clero. Maior degradação foi a pedofilia que existiu também aqui no Brasil. Quando estourava um caso, o bispo transferia o pároco para outra diocese. Era simples assim.

O celibato foi reafirmado pelo Papa Pio XII (1939/58) e no Concílio do Vaticano, em 1965. A Igreja defende porque os celibatários são mais livres e disponíveis. Também porque a vida de celibato separa o clérigo do mundo pecaminoso.

Nesse Concílio de 1965, houve mais uma abertura no sentido de que os padres pudessem deixar o sacerdócio para ser casar. Antes não podia. Muitos que entraram no seminário não tinham vocação e foram obrigados por pais católicos, muito das vezes pela mãe, que faziam promessas para ter um padre na família.

Essas versões são da Igreja, mas existem discussões de que a instituição instituiu o celibato por motivos de herança. Quando um casal falecia, a Igreja não ficava com nada. Seria tudo por causa do dinheiro?

O Papa Francisco já admite que o celibato pode ser revisado. Outra polêmica é a não admissão da mulher na celebração da missão como sacerdotisa. Em toda sua história, a Igreja sempre excluiu o papel da mulher. A própria Bíblia (Antigo Testamento) coloca o sexo feminino num papel inferior ou como se fosse uma ardilosa serpente pecadora. Somente agora a Igreja está abrindo mais espaços, mas ainda de forma tímida.