DE VERSOS E DE SONHOS
(Chico Ribeiro Neto)
Meu sonho tá escrito
num pergaminho
ou no guardanapo manchado de vinho.
Meu sonho mora num ninho.
Tá escrito nos olhos dos netos,
nas borboletas, nas grutas
e no mais escondido cantinho.
Meu sonho é desafio,
tá no mar ou no rio?
Debaixo da lama ou da cama?
Meu sonho pega um bonde nas Mercês
desce o Elevador Lacerda
e pega um avião pra Xangai.
Está no pião rodando na mão,
na Assunção e na floresta dentro da noite.
Meu sonho é perdido e achado,
por isso eu o guardo.
Meu verso é a matinê da alma
que me acalma.
Passeia no alambrado do estádio de futebol,
entre o dó e o si bemol.
Tá entre o errado e o certo,
entre a corda e a caçamba,
entre o visto e o coberto.
Meu verso é caminho.
Está no movimento do barco ancorado,
no grito do afogado
e na alegria do primeiro mergulho.
Meu verso gosta
do caderno espiral,
da escrita matinal
e da letra bem feita,
igual a roupa nova.
Está no buzo encostado no ouvido,
no grito do porco ao receber a primeira facada,
naquela flor que ninguém sabe o nome
e no choro da criança com fome.
Meu verso mora na lágrima do palhaço,
na cachaça do peão
e no bêbado que canta “Dolores Sierra”.
Meu verso brinca de se esconder
debaixo da saia da morena.
(Um 2025 de paz a todos os meus leitores)











