:: 21/mar/2025 . 23:30
“UM POUCO DE AR, POR FAVOR”
Na primeira pessoa, com o narrador na terceira (protagonista), o escritor indiano-inglês George Orwell descreve com detalhes, em “Um Pouco de Ar, Por Favor”, a vida em Londres num período próximo da Segunda Guerra Mundial, mostrando os hábitos e costumes de uma comunidade em seu cotidiano.
A leitura é fascinante, e o autor da obra prende o leitor a partir dos primeiros capítulos, fazendo um autorretrato de uma pessoa gorda e como é visto pelos outros. George Orwell, um escritor conhecido mundialmente, fala, numa maneira ácida e amarga, como vivia a classe trabalhadora e a população geral londrina, num ar de suspense diante do espectro de uma guerra que estava por vir.
Sua prosa, como escreve o prefaciador da obra, “abre uma janela para mostrar a ansiedade do pré-guerra experimentada por pessoas comuns na Inglaterra, como o protagonista George Bowling, que transmite seus pensamentos com grande honestidade e humor autodepreciativo”.
Mesmo cheio de detalhes das pessoas e das coisas em geral ao seu redor, o personagem, gorda e de quarenta e cinco anos, na primeira pessoa, não é enfadonho, muito pelo contrário, leva o leitor a seguí-lo em sua narrativa.
Entre tantos outros em seu entorno, George cita Hilda, de 39 anos. “Quando a conheci, parecia uma lebre. Ainda parece, mas está muito magra e um tanto enrugada, com uma expressão taciturna e preocupada nos olhos”… É uma daquelas pessoas que curtem a vida ao prever desastres”.
Em sua narrativa, o autor faz uma descrição do bairro pobre em que vive, “com ruas que se alastram por todos os subúrbios, do centro ao interior”. Suas expressões são fortes quando afirma que “as casas são sempre as mesmas. Longas, longas fileiras de pequenas casas geminadas. Existe algum tipo antissocial”.
Sobre os trabalhadores, chega a enfatizar que existem muitas besteiras sendo faladas sobre o sofrimento da classe operária. “Não lamento tanto pelos proletários. Você já conheceu um marinheiro que fica acordado pensando na demissão? O proletário sofre fisicamente, mas é um homem livre quando não está trabalhando”.
Quanto a fraudes imobiliárias, aponta para sua própria área de seguros. No entanto, retruca “que é uma fraude aberta com as cartas na mesa. Porém, a beleza das fraudes na sociedade civil é que suas vítimas pensam que você está lhes fazendo uma gentileza”.
Numa crítica ao capitalismo, num trecho do seu texto, assinala “que cada um desses pobres diabos oprimidos, suando até pagar o dobro do preço adequado por uma casa de boneca de tijolos, que se chama Belle Vue – que não tem vista e não é bela – cada um desses pobres otários morreria no campo de batalha para salvar seu país do bolchevismo”.
Bem, como todos já devem saber, George Orwell nasceu Eric Arthur Blair, em 25 de junho de 1903, em Bengala, na Índia, onde seu pai trabalhava para o Departamento de Ópio do Serviço Público Indiano da Grã-Bretanha. Estudou em instituições de elite e foi ele próprio durante cinco anos agente da polícia imperial da Birmânia. Viveu com os miseráveis em Paris e Londres. No final dos anos 20 lutou pela causa republicana na Guerra Civil Espanhola.
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