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:: 24/jan/2025 . 23:35

DEPOIS DAS ADAGAS ENTRARAM AS ESPADAS NA DISPUTA PELO IMPÉRIO

A história antiga e até a moderna nos conta que quando um grande líder poderoso se vai, entram as divisões e as disputas pela posse do comando do reino. Muitas delas foram lutas fraticidas e ambiciosas que se transformam em guerra civil, com muito sangue derramado.

Assim aconteceu com Alexandre, o Grande, da Macedônia, onde três grandes generais resolveram partilhar o império; com os faraós mais famosos, no Egito; entre reis na Mesopotâmia; quando o czar Nicolau foi destronado na Rússia, em 1917; durante a Revolução Francesa, em 1789; com Tito, na Iugoslávia, no final do século passado, dentre tantos outros episódios históricos dessa natureza.

Com o antigo império romano não poderia ser diferente. Quando cravaram as adagas assassinas, em 44 a.C., no ditador tirano Júlio César, que pretendia acabar com a República e ser rei, entram em ação as espadas de seus próprios algozes Brutos, Cassius e Decimus, que travaram batalhas sangrentas contra o herdeiro Otávio, Marco Antônio e Lepidus que se juntaram na disputa do maior reino da época.

Quando assassinaram César, em 15 de março de 44 a.C., temendo pelas suas seguranças, os líderes da conspiração se afastaram de Roma e até foram agraciados pelos atos do Senado deixados pelo ditador morto. Assumiram cargos de governadores no Oriente (Brutus e Cassius) e na Gália Italiana (Decimus), visando apaziguar os ânimos, mas as intrigas continuaram. Foram até anistiados.

De um lado, os veteranos da Guerra Civil (49 a 45 a.C.) e os apoiadores de César que tinham sede de vingança e, do outro, os mais moderados e negociadores que tentavam um acordo, mas agiam nos bastidores para arrebatar o poder. Um ano depois, todos já estavam no campo de batalha com suas legiões e cavalarias, como descreve o historiador Barry Strauss, autor do livro “A Morte de César”.

No início, os conspiradores se refugiaram na Colina Capitolina, um tipo de fortaleza segura, para se defender da fúria dos romanos. Argumentando que agiram em nome da liberdade do povo, eles deram demonstração de força ao marcharem do Pórtico de Pompeu para o Fórum Romano, na Colina Capitolina. O principal marco da Colina era o Templo de Júpiter, maior ponto religioso de Roma.

Com o assassinato de César, houve saques e a construção de barricadas por gente que tentava se proteger dentro de suas casas. Houve um pânico generalizado e a situação não foi mais grave porque Marco Antônio costurou um acordo com o Senado para manter os atos de César e não punir os assassinos.

Para que houvesse uma trégua, contaram muito os discursos inflamados e os escritos do tribuno Cícero, que variava muito de lado. A princípio, para ele, os conspiradores eram libertadores que colocaram a liberdade da pátria acima dos laços de amizade (Decimus era um grande amigo e homem de confiança de César). Para outros, os criminosos não passavam de traidores. Durante vida, o ditador sempre demonstrou clemência para com seus opositores, que retribuíram com ingratidão.

Durante anos os plebeus estiveram ao lado de César, mas no transcorrer dos seis últimos meses começaram a mudar de ideia. O tirano acabou com as eleições e depôs alguns Tribunos do Povo. No início, os conspiradores negaram que haviam assassinado César para tomar o poder. Eles se referiam aos seus ancestrais que haviam destronado reis e acusaram o ditador por ter obtido o poder através da violência. As tramas só estavam começando. O Senado classificou o assassinato como eliminação do tirano, ou tiranicídio.

Após a morte de César, no outro dia o destino de Roma começava a ser decidido em inúmeras reuniões, muitas delas convocadas por Marco Antônio. Ocorreram discursos no Senado, exibições e ameaças de emprego de forças militares, bem como planos escusos. Lepidus até convocou uma reunião popular, cada um fazendo seu jogo e reunindo suas tropas para tomar o reino.  Os seguidores de Pompeu, o maior inimigo de César, controlavam a Síria e parte da Hispania.

O filho Sextus Pompeu alardeava que possuía navios de guerra e sete legiões (cada uma tinha quatro a cinco mil soldados). No dia 17 de março, o Senado realizou uma reunião no Templo de Tellus, deusa romana da terra.

Os veteranos de César temiam perder suas terras e bens. Uns achavam que os assassinos mereciam recompensa, outros que apenas que deviam ser agradecidos. Por ironia, um que concordava com a recompensa foi Tiberius Claudius Nero. Mais tarde teria um filho que se tornou imperador tirano. Muitos se mostraram dispostos a conceder anistia aos conspiradores.

Marco Antônio e Lepidus desejavam vingança, mas acharam mais importante poupar vidas romanas. A presença dos veteranos de César em Roma era um temor. Todos estavam armados. Queriam que a memória do chefe fosse honrada. Antônio propôs clemência e anistia e até citou o caso de Atenas, onde depois de uma guerra civil, o povo optou por esta causa.

Depois dos discursos, um decreto foi aprovado garantindo aos assassinos a imunidade de perseguições e ratificando todos os atos e decretos de César. Por sua vez, sob pressão dos veteranos, para estabelecer uma reconciliação, o Senado aprovou dois decretos confirmando os direitos dos novos colonos que estavam em vias de assumir a posse de suas terras. Antônio propôs uma moção de abolição da ditadura. O Senado concedeu, e o maior ditador, jamais surgido em Roma, teve seu sepultamento memorável no dia 20 de março de 44.a.C.

Após seu testamento, cuja maior parte dos bens coube ao seu sobrinho-neto Otávio, o novo César, aí entraram as disputas ferrenhas pelo poder.  Brutus consolidava seu poder a partir de uma base em Atenas onde era exaltado como herói. Ele tentava abrir caminho para o controle das províncias da Macedônia, partes da Albânia e da antiga República Iugoslávia da Macedônia. Em fevereiro de 43 a.C., o Senado lhe conferiu o cargo de governador dessas províncias.

Do Egito, Cleópatra assistia a tudo com preocupado interesse. César havia deixado quatro legiões em seu território e, tanto Cassius como Dolabella as requisitava. A rainha atendeu a Dolabella, mas Cassius as capturou no caminho para a Síria, formando doze legiões. Enfraquecido, Dolabella foi derrotado. Ela resolveu auxiliar os oponentes de Brutus e Cassius que montaram uma estratégia para dominar todo Mediterrâneo.

Em abril de 43 a.C. o Senado confiou o destino da República a Cassius como governador da Síria, Brutus como governador da Macedônia e a Sextus Pompeu como almirante da frota. Cícero passou a apoiar Brutos, e sua mãe Servília procurou cuidar dos interesses do filho e de Cassius, em Roma, através de reuniões familiares.

Do outro lado, Otávio fazia seus movimentos e exigiu do Senado que lhe concedesse um consulado, mas a Casa negou o pedido sob o argumento de que ele não tinha idade (18 anos) suficiente. Prometeu para quando ele tivesse 33 anos. Um de seus soldados jurou fazer dele um cônsul através da espada. Com sua empáfia, Otávio cruzou o Rubicão, como fizera César, e marchou sobre Roma com oito legiões.

Na base da força, Otávio fez com que ele e seu primo Quintus Pedius fossem nomeados cônsules adjuntos e assim conseguiram aprovar uma lei (Lex Pedia) que rescindia a anistia aos assassinos de César, condenando os conspiradores.

Em setembro de 43 a.C, Antônio reentrou na Gália Italiana com dezenove legiões. No mês seguinte, ele, Otávio e Lepidus formaram um triunvirato com poderes ditatoriais. Juntos contavam com mais de quarenta legiões. Então, eles dividiram o império, cabendo a Antônio a maior parte da Gália. Lepidus ficou com a Gália Narbonesa e a Hispania, enquanto Otávio tomou a Sicília, a Sardenha e a África Romana. Em novembro de 43 uma lei tornou o triunvirato legal.

Sangue, dinheiro e propriedades imobiliárias foram seus primeiros interesses, sem clemência para quem matou César. Trezentos senadores e dois mil cavaleiros constavam de suas listas de expurgo e confisco de bens. O primeiro executado foi um juiz que votou pela absolvição de Brutus. Ganges de executores se espalharam por toda parte. O objetivo principal era levantar dinheiro para custear suas tropas. Para tanto, confiscaram terras para assentar seus soldados e instituíram novos impostos.

Brutus e Cassius entenderam que a guerra estava declarada. Em dezembro de 43, Cícero foi apanhado ao tentar fugir de sua vila e depois foi executado. Ele morreu com dignidade e sua cabeça foi levada a Roma e exposta na plataforma dos oradores, no Fórum Romano. Sua morte foi um marco na história da civilização ocidental. Outro que foi executado foi Decimus quando tentava entrar na Macedônia para se juntar a Brutus. De acordo com historiadores, sua morte foi ordenada por Antônio.

Os triúnviros aprovaram uma lei para que um templo fosse erguido e instituíram o culto público ao Divus Julius, o Deificado Júlio César. Essa deificação foi oficializada quando Antônio tornou-se sacerdote supremo. Isso dava direito a Otávio chamar-se a si mesmo de divi filius, o Filho do Homem Feito Deus. Aclamado como imperador, Otávio tornou-se Imperator Caesar Divi Filius.

 

 

UM MONSTRO, ANTICRISTO OU COVEIRO DE UMA REPÚBLICA EM DECADÊNCIA

Dizem que é um maluco, tirano, ditador ou monstro que quer ser monarca imperador. Arvora-se a ser presidente do planeta com seus decretos destrutivos, excludentes, homofóbicos, xenófobos e racistas. É uma ameaça à sua própria República, como foi o romano Júlio César nos anos 40 a.C. que queria ser rei. Em seu favor, conta com um monte de seguidores e apoiadores bilionários, como o Hitler nazista.

Mais maluco foi quem nele votou e criou a criatura maligna do fim do mundo, justamente aqueles que foram menosprezados e considerados como lixo humano. Não foi por falta de aviso porque ele expôs todas suas maldades durante a campanha eleitoral. Um cara que quer anexar o Canadá, tomar a Groelândia e o Canal do Panamá só pode ser um louco.

Por que essas vítimas de exclusão votam em seus próprios algozes do tipo nazifascistas com índole de destruição dos mais fracos e menos assistidos pelo Estado, como tem ocorrido no Brasil? Será a Síndrome de Estocolmo onde o sequestrado passa a ter afeto pelo sequestrador, ou a humanidade deixou de acreditar nos governos passados que muito prometeram e pouco fizeram?

Nos últimos anos estamos presenciando uma onda violenta de extremismos, ódio e intolerância dominando vários países, inclusive na Europa, através de governos tiranos e altamente conservadores que repudiam refugiados, os mais pobres, as minorias e, principalmente, as democracias e as liberdades. São os profetas das trevas, ou os AntiCristos.

Não fossem as leis de concessões de uma Constituição, que precisa ser revista, muito dinheiro e poder, bem que o bicho estranho da mitologia grega poderia estar isolado numa jaula como animal de sete cabeças altamente perigoso, assassino e mortífero. Mesmo com tantos processos e ter incitado uma invasão ao Capitólio, o monstro conseguiu se eleger presidente.

Com a Bíblia numa mão e a outra na perversidade de cada vez mais perfurar petróleo e outros combustíveis fósseis, o monstro nem está aí para as mudanças climáticas do aquecimento global e manda agredir o meio ambiente porque quer acumular riquezas e bens de capital para tirar os Estados Unidos do grande buraco.

Como tantos outros na história das civilizações humanas, trata-se de um império em queda desde o final da Guerra Fria. A tendência é o isolamento e, para que isto ocorra, basta um acordo entre os mais poderosos. O monstro está sendo o mentor do suicídio da sua própria nação.

Nos últimos anos, entre os países mais desenvolvidos do mundo, os Estados Unidos foram os que mais sofreram quedas nos índices de desigualdade humana. Na verdade, é um império em declínio, e o monstro agora joga toda culpa nos imigrantes, como Hitler culpava os judeus no meado dos anos 30.

Com sua decadência, os Estados Unidos agora estão pagando pelo que fizeram no passado como imperialistas, quando massacraram milhões de pessoas com suas invasões sangrentas e incentivaram ditaduras por todas as partes do planeta. Sua presunção de superioridade está chegando ao fim. Aliás, o Trump monstro e coveiro é o início do fim.

Os Estados Unidos são hoje uma nação dividida e, as ações do monstro Trump, afetam o social e os direitos humanos, comprometendo a segurança nacional com aumento da violência. Suas ameaças de taxação de 100% das exportações dos países do BRICS (Brasil, África do Sul, Índia, Coréia do Sul, Rússia e outros que acabaram de entrar na organização) são mais demonstração de fraqueza que de força.

Este monstro, ou AntiCristo, está mais para coveiro de uma República enfraquecida do que um salvador da pátria. Tripudia o Brasil como se fosse um lixo, de que eles não precisam de nós, mas o pior é que nós brasileiros sempre carregamos a pecha de vira-latas, como disse o escritor Nelson Rodrigues, e nos submetemos às suas regras.

O Brasil Colônia imitava a França e depois passou a ser o Brasil dos Estados Unidos. Um turista ianque entra em nosso país com a maior facilidade e ainda estendemos tapetes vermelhos para eles. Quando é o contrário, o brasileiro se humilha nas embaixadas e consulados para tirar um passaporte e viajar para a terra do Tio Sam.

ALI PASSAVA UM RIO

(Chico Ribeiro Neto)

Ali passava um rio. Lembro como hoje. Carregado de aventuras, trazendo na enchente bois aflitos, melancias e árvores; e pedaços de barrancos se desmanchando igual sorvete.

Ali passa um rio. Leva lenços e saudades, amor e amizades, a lembrança dos que foram.

A garrafa com farinha no fundo do Rio de Contas, em Ipiaú (BA), para pegar piabas. Meu irmão Cleomar engoliu duas, vivas inteirinhas, para aprender a nadar.

Há alguns anos, no Rio do Antônio, em Caculé (BA), o dono de uma carroça, com água no tornozelo, retirava areia do leito do rio com uma pá. Apontei a máquina fotográfica e ele ainda fez pose.

Ali passa um rio pela memória, com lavadeiras, sorrindo e xingando,  batendo o lençol na pedra para alvejar. Tudo acontecia ali, na beira do rio.

Hoje, as pessoas andam pelo leito seco e lembram: “Foi ali, perto daquela pedra, que eu quase me afoguei um dia”.

Onde só vejo garranchos e pedras ali passava um rio. Hoje, um triste córrego. No fundo de cada roça uma bomba de puxar água suga o que resta. E depois se queixam da seca e o prefeito pede decretação do estado de emergência.

De noite, namorar na beira do rio ou no fundo da igreja. O fundo era o preferido, pois lá Deus enxergava menos.

Ali passava um rio (acho que foi em Alagoinhas), onde o pessoal amarrou a garrafa de cachaça numa raiz que entrava no rio. E misturava com caju. A pinga estava sempre gelada.

Ali passava um rio. Só ver a água descendo já acalmava.

Ali passava um rio. Foi ali que morei. Ali passou uma vida.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

LINHAS DAS MÃOS

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

As linhas das mãos,

Como diz o poeta:

São correntes digitais,

Ou cordéis em varais,

Fileiras de poesias,

Xilogravuras de fantasias.

 

As linhas das mãos,

Como a íris da visão,

São linhas diferentes,

Riscos das nossas mentes,

Com início, meio e fim,

Enigmáticas assim.

 

Tem as linhas,

Do sertanejo nordestino,

Queimadas pelo sol,

Calosas e grossas,

Cada qual com seu destino,

As do doutor são finas,

E as delicadas femininas.

 

Olho as linhas das minhas mãos,

Veja as suas como estão,

São cicatrizes do tempo,

Nos traços e espaços,

Lembranças de amor e dor,

De um passado que não passou,

Que nem o vento levou.

 

As linhas das minhas mãos,

Colheram o que plantaram;

Tiveram amigos e inimigos,

Amaram e odiaram,

E lágrimas enxugaram.

 

Depois de tantas andanças,

Feitas de fé e esperanças,

Por este mundão do meu Deus,

Entre nobres e plebeus,

Olho as linhas das minhas mãos,

E não entendo o que elas são.

 

Lembro que uma cigana,

Vinda lá da Toscana,

Leu as linhas das minhas mãos,

Previu coisas do meu destino,

Desde quando mirrado menino,

Que teria longa existência,

Mas não conseguiu ver,

Se a minha finitude

Seria repentina ou de sofrer.

 

 

 

 

 

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