:: 22/jan/2025 . 22:55
O PRECONCEITO CONTRA OS “FORASTEIROS”
Não sei porque “cargas d´água” sempre confundi forasteiro com faroeste dos filmes bang-bang norte-americanos. Quando entrava um cavaleiro ou cauboy desconhecido numa cidadezinha daquelas de cenário bucólico, todos saiam nas janelas e nas portas para olhar o sujeito, e cada um fazia suas conjecturas sobre quem era, donde vinha, o que queria, se seria de paz ou mais um justiceiro pistoleiro.
Numa coisa existe relação. Quando chega alguém de outro lugar para trabalhar, colaborar, progredir, participar das atividades e começa a expressar suas opiniões e críticas visando melhorias, alguém da terra, com sua raiz preconceituosa, logo parte de lá chamando a pessoa de “forasteiro”, sem direito, e tenta excluí-lo do convívio da comunidade, muitas vezes até com ameaças de expulsão.
Interessante notar que muitos nativos nascidos no município não dão tanto valor à sua terra legítima quanto a grande maioria dos chamados “forasteiros”. Tenho observado que filhos adotivos de Conquista conhecem mais da sua história, de seus costumes, origens e hábitos do que certos conquistenses que discriminam os ditos “forasteiros. Infelizmente, isso também acontece em outras cidades.
Ao tratar dessa questão “forasteiro”, o nosso mestre professor Durval Menezes nos deu uma lição sobre o termo e lembrou de um deslize cometido pelo ex-prefeito e ex-deputado Edvaldo Flores nos anos 80, se não me engano. Como candidato ao executivo ele usou, de forma infeliz, uma frase que quase lhe tirou sua vitória.
Num comício chegou a dizer que não precisava dos votos dos “forasteiros” para ganhar as eleições, numa época em que já existiam muitos nordestinos e de outros estados brasileiros na cidade. O líder Gerson Salles, então, pediu desculpas aos “forasteiros” pelas palavras pronunciadas por Edvaldo.
Eu mesmo confesso que fui vítima desse preconceito de ser “forasteiro” quando de Salvador, como jornalista, vim para Vitória da Conquista assumir a chefia da Sucursal do jornal A Tarde. Ora, dentro da nossa profissão, um dos papeis principais é criticar e denunciar as coisas erradas dos prefeitos e das lideranças dos variados segmentos da sociedade.
Por este comportando, sempre atentando para a ética, seriedade e honestidade, fui por muitas vezes xingado e chamado de “forasteiro”, que deveria ser expulso por estar, na visão dessas pessoas, manchando a imagem da cidade. Tentaram até fazer um abaixo-assinado para me tirar daqui, sem contar as ameaças. Sempre enfrentei tudo isso de cabeça erguida, cônscio do que estava fazendo.
Enfrentei o preconceito, e a ação equivocada dessa gente me fortaleceu mais ainda a prosseguir em minha caminhada e em meu trabalho. As reações fizeram eu gostar mais ainda de Vitória da Conquista e a prestar a ela meus serviços no sentido de somar e não desagregar.
Não vou aqui expor os meus feitos porque estes devem ser julgados pelos outros, se foram de grande valia ou não para o desenvolvimento e o progresso social, político, cultural e econômico da cidade. Cabe à sociedade fazer essa avaliação, sabendo que nunca vai haver unanimidade, o que é normal, porque não tem como agradar a todos.
Só sei que me considero um conquistense (tive a honra de receber o título de cidadão e outros prêmios), mas nunca vou deixar de expor meus pontos de vista contra ou a favor quando for necessário. Em minha vida, passei por outros lugares e sempre procurei deixar minha modesta contribuição.
Como disse o nosso professor Durval, a base da economia de Conquista foi e é formada por “forasteiros”, ou migrantes, como da comunidade de São Miguel das Matas, retratada em sua obra “A República dos Miguelenses”, e de tantos outros que aqui chegaram. Quem vem morar aqui quer mais é trabalhar e produzir, gerando mais empregos, qualidade de vida e bem-estar social.
Não somente na área do comércio, como na indústria e na construção civil, grande parte desse bolo, que cria milhares de empregos, está nas mãos de empresários de fora, inclusive do sul do país. No segmento cultural, artístico e intelectual também ocorre o mesmo e temos grandes vultos que engrandeceram e engrandecem Conquista, como nosso poeta e escritor Camilo de Jesus Lima que era de Caetité.
O que seria de São Paulo, por exemplo, se não fossem as mãos calosas e fortes dos nordestinos, embora não sejam bem tratados como deveriam? É claro que existem certos tipos de “forasteiros” que são indesejáveis, mas estes não merecem ser reconhecidos, nem tampouco citados.
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