Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Meu poeta Manuel Bandeira,

Deixa eu entrar

Em sua roda de capoeira!

Mas não vou para sua Passárgada,

Estou indo pra Sodoma,

Porque lá tem festa o ano inteiro,

Baticum pra gingo estrangeiro,

Uma fartura de mulheres,

De energias gostosas,

Pra comer, não preciso de talheres,

Vou na mão, no papo e nas prosas,

Por isso, meu caro Bandeira,

Vou me embora pra Sodoma,

Como na antiga Roma.

 

Tudo lá é devassidão,

Rufam os tambores na multidão,

Tem músicas lixo de montão;

Descem todos das ladeiras,

Como águas de cachoeiras,

E nem importo ser queimado,

Pelo fogo ardente do seu Deus,

Se todos já somos plebeus.

Só não quero virar estátua de sal,

Pois ainda tem o esfrega do carnaval.

 

Isso aqui é uma zorra,

Com cultura de massa alienada,

Nessa loucura da muvuca,

Nem é preciso ser bom da cuca!

Meu amigo Bandeira,

Você está dando uma de bobeira,

Pior é ficar em estado de coma,

Vou me embora pra Sodoma,

Quem quiser que vá pra porra,

E de lá sigo pra Gomorra,

No embalo, eu vou, eu vou

Ver o nosso Cristo Redentor,

E cair no samba, sim senhor!