Intrigas palacianas, ciúmes, inveja ou em defesa da liberdade e da República contra Julius César, um ditador tirano que almejava ser rei quando retornasse da Guerra Parta? O assassinato mais famoso da história de Roma de um conquistador que cruzou o Rio Rubicão na Gália Italiana, em 49 a.C., contra as ordens do Senado, é cheio de interrogações pelas antigas fontes que narraram o acontecimento.

Cassius, Brutos e Decimus, que serviram a César e por anos lutaram ao seu lado, foram os principais conspiradores que apunhalaram o poderoso em de março de 44 a.C., conforme descreve o historiador Barry Strauss em sua obra “A Morte de César”. Segundo ele, uma das fontes mais confiáveis é o do escritor Nicolaus de Damasco.

Outra versão diz que a clemência e o privilégio dado por César os seus inimigos durante a Guerra Civil, entre 49 a 45 a.C. foram outros motivos que levaram seus algozes a cometerem o terrível assassinato.

Sobre Gaius Cassius Longinus, Barry destaca que em janeiro de 45 a.C. ele aceitou a César como “um velho mestre, relaxado e tolerante”. Pouco mais de um ano depois, em fevereiro de 44 a.C., Cassius decidiu-se por matá-lo. “É improvável que a conspiração pudesse ter acontecido antes de fevereiro. Um dos motivos para isso seria a falta de incentivo: César não depusera os tribunos do povo nem rejeitara a coroa até fevereiro”.

Cassius se orgulhava de ter tido vários cônsules em sua família, inclusive seu pai, um homem que fora derrotado em combate pelo gladiador rebelde Espártaco. Em 53 a.C., ele viveu seu grande momento no Oriente Romano.

Serviu como governador-tenente e comandante substituto para Marcus Licinius Grassus, o governador da Síria. Tal como a maioria dos governantes romanos, ele era um homem ganancioso. Cassius extorquia os provincianos. Ele chegou a invadir a Judéia e dizem que escravizou cerca de trinta mil judeus.

Quando adveio a Guerra Civil, ele apoiou Pompeu. Em 48 a.C., Cassius recebeu o comando de uma frota naval que ele empregou contra as forças de César, na Sicília e no sul da Itália. Sua deserção foi uma grave ofensa e um insulto para os filhos de Pompeu. Mesmo assim, ele pôde dizer que continuava a servir à República ao promover a paz. César deu-lhe boas vindas e fez dele um de seus generais.

Quanto a Marcus Junius Brutus, o autor da obra afirma que ele foi essencial para a conspiração contra Julius César. “Não fosse Brutos, não haveria assassinato. Os conspiradores insistiam em sua presença. Diziam que seria preciso um rei para matar a um rei. Pelo menos, Brutus era praticamente um príncipe republicano”.

Supostamente, ele provinha de uma das mais antigas famílias da República: aquela que destronara reis. Ele contava com um registro público de mais de uma década de defesa da liberdade e oposição à ditadura. Em 54 a.C., por exemplo, ele se pronunciou contra uma proposta de concessão de uma ditadura a Pompeu.

Dois anos mais tarde, ele argumentaria que um homem que cometesse um assassinato pelo bem da República deveria ser considerado inocente. De acordo com Nicolau de Damasco, ele foi respeitado durante toda sua vida pela clareza de sua mente, pela fama de seus ancestrais e por seu caráter supostamente razoável.

Na versão do grego Plutarco, Brutos e Cassius recrutaram Decimus Junius Brutus Albinus. Para Strauss, o historiador da obra, pode ter sido o contrário. “Uma coisa é certa, Decimus desempenhou um papel central. Se Brutus foi o coração da conspiração e Cassius foi o cabeça, Decimus foi seus olhos e ouvidos”.

Decimus era um amigo íntimo e confidencial de César. “ O autor antigo que enfatiza o papel de Decimus na conspiração contra César é Nicolaus de Damasco, ao qual Shakespeare jamais leu. Ele tampouco leu Cassius Dio ou as cartas de Cícero, outras fontes que atribuem importância a Decimus”.

Segundo Barry, foi Decimus quem César escolheu para acompanhá-lo ao jantar na noite de 14 de março. “Decimus era a melhor fonte de informação quanto aos pensamentos e planos do ditador e a melhor esperança de mover César para qualquer direção que fosse necessária. Ele é amplamente reconhecido pelas fontes antigas como um dos principais agentes da conspiração”.

Aos trinta anos de idade, ele tinha um registro brilhante. Era um nobre de pedigree impecável e um dos confidentes de César. Foi um grande comandante na Gália, tanto na Guerra Gaulesa como na Civil. Ele chegou a governar a província para César, entre 48.a.C e 45. Tudo indica que ele também tenha sido pretor em Roma.