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INFLUENCIADORES OU IMPOSTORES?

Com a chegada da internet e das redes sociais surgiram os chamados influenciadores digitais, o que abriu espaço para criminosos e impostores golpistas. Esses indivíduos, por incrível que pareça, chegam a ter milhões de seguidores, muitos dos quais estão sendo vítimas desse pessoal.

Sobre essa questão de influenciador digital já fiz aqui alguns comentários sobre essa nova “profissão” e repito que não vai tardar de as faculdades particulares criarem um curso específico com essa nomenclatura. Será também um engodo para colocar na cabeça dos nossos jovens. Mais uma forma de ganhar dinheiro fácil na educação.

Ninguém me influencia na minha forma de pensar e muito menos quando se trata de linha ideológica. No mínimo pode me convencer, se houver argumentos e dados sólidos, de que determinado fato histórico ou pensamento carecem de correções.

Não consigo entender como essa gente de hoje se deixa ser influenciada por alguém que não tem nenhuma formação e base intelectual e fica num canal falando um monte de baboseiras. A única explicação plausível é a decadência do conhecimento e do saber que hoje sofre a maioria do nosso povo.

Quem cai na lábia desses tais influenciadores digitais são pobres de espíritos, ambiciosos e gananciosos que acham que pode subir na vida de maneira fácil. Tanto esses criminosos como as vítimas ditas “inocentes” são culpadas.

Existem também vários programas de televisão dizendo o que é certo e errado, como se existisse um padrão de verdade. Muitos acompanham e seguem esses apresentadores como se fossem velhos gurus ancestrais. Só posso dizer que é falta de personalidade de quem acredita em tudo que se fala por aí.

Isso nos faz lembrar dos estelionatários e trapaceiros dos golpes dos bilhetes premiados onde a vítima cai no papo do malandro achando quer vai levar vantagem e termina sendo “roubado”, ou como se fala no popular, se ferrando. O mesmo vem ocorrendo nos casos de influenciadores digitais que oferecem sorteios milionários e muitos entram na onda achando que vai ficar rico de uma hora para outra.

Esses tais influenciadores digitais, espertos e de boa expressão, mas sem formação acadêmica, moral e ética, são hoje usados pelo sistema capitalista empresarial, para induzir as pessoas a consumirem mais e mais. Pegam os compulsivos.

A grande maioria entra no esquema e termina se endividando. Uma coisa é ser influenciador digital, a outra é ser formador de opinião, caso do jornalismo sério que lhe orienta, por exemplo, a tomar uma direção correta contra os falsos políticos, economistas e educadores.

QUEM TEM MAIS SAI NA FRENTE

Começou a maratona eleitoral que vai durar pouco mais de um mês. Para muitos é longa e para outros é curta a temporada de caça aos votos. O eleitor já deve estar dizendo que é uma chatice quando começar a propaganda na televisão e no rádio a partir do dia 30 de agosto. A maioria não aguenta o falatório, principalmente quando baixa o nível.

Quem tem mais condições financeiras já saiu na frente com seus “santinhos”, praguinhas, bandeiras, adesivos, folhetos, clips e outros materiais. A maioria dos candidatos a vereador ainda está esperando pela merreca do Fundo Eleitoral, ou Partidário, que não sabe quando vai cair na conta protocolar do Tribunal Eleitoral.

Depois da exigência de tanta burocracia para o registro na Justiça, o candidato ainda é obrigado a abrir três contas (não sei para que tudo isso) num banco e esperar por mais três dias úteis para serem liberadas, isto se não houver pendências. Sempre existe.

O sistema de disputa é totalmente desigual e injusto, mas, lamentavelmente, é a democracia tupiniquim que temos, feita pelos caras do poder lá de cima, para beneficiar os próprios a permanecerem em suas cadeiras, bem como aqueles dotados de mais grana que partem na frente.

Não restam dúvidas que é uma concorrência desleal, sem contar outras intrincadas normas impostas que eliminam aqueles que têm boas intenções, são éticos e honestos na política.  No caso de vereadores, outro absurdo é a reeleição por quantas vezes o candidato quiser. A maioria faz da política uma carreira profissional. Conheço parlamentar que já está lá por mais de 40 anos.

Não somente o prefeito, mas também o vereador que já está na Câmara usa a sua máquina por debaixo do pano, e é um dos primeiros a sair na frente dessa maratona. Assim fica difícil para os bons entrarem nessa política tão desproporcional. A justiça faz de conta que vigia e fiscaliza as irregularidades.

Os espertos e astutos de grande poder aquisitivo têm seus advogados e contadores para burlar as regras, como no caso do Imposto de Renda e até nos crimes bárbaros onde o rico e o poderoso nunca são punidos como deveriam ser em igualdade com os pobres. O cara pode até ir para a cadeia, mas não demora muito tempo. Estão aí as operações, Lava-Jato, Mensalão e tantas outras que servem de exemplos.

Por essas e outras é que é raro alguém aconselhar um amigo a participar de um pleito eleitoral, e quando alguém entra é chamado de doido varrido, maluco ou corajoso demais. Não suje suas mãos com isso, salta alguém de lá na tentativa de que você desista.

Quando coloquei meu nome para ser apreciado por Vitória da Conquista, como candidato a vereador, um amigo foi logo me alertando que eu iria ver coisas horríveis e muitas cafajestagens. Cuidado para não ser contaminado!

Apenas lhe respondi que não corria esse risco e, como em tantos outros desafios da minha vida ocupando diversos cargos no setor privado e público, sairia de mais um de cabeça erguida. Sentiria vergonha de mim mesmo se cometesse alguma trapaça nessa corrida, mesmo tendo consciência que é desigual.

Como tantos outros, não sai na frente dessa maratona por falta de recursos, mas vou dentro do meu compasso, de acordo com as minhas condições.  Nessa largada, vou na minha marcha dentro dos meus limites, sempre com o pensamento firme de ocupar uma cadeira na chegada, não importando que seja a última.

 

DINHEIRO E FELICIDADE

É um assunto complicado porque cada um tem sua maneira de ver e sentir as coisas. No entanto, vivemos num sistema capitalista selvagem onde o deus, ou o demônio dinheiro é idolatrado e louvado. Por causa dele muitas tragédias têm ocorrido em famílias, com mortes, sequestros e outros tipos de atrocidades, especialmente quando se trata de heranças.

Conheci e vi muitas famílias aparentemente unidas que se desintegram quando morre um membro rico e deixa fortunas para serem divididas. Acompanhei um caso de envenenamento entre irmãos que foi parar nas páginas de jornais, mas o dinheiro não só traz desgraça.

Existe uma longa discussão filosófica se o dinheiro rende felicidade. Diria que depende da visão de cada um e como usa o dinheiro em suas vidas. Primeiro que um é eminentemente material, quanto o outro está mais no campo espiritual e é um estado de espírito que, na maioria das vezes, não é permanente na pessoa. Não existe felicidade duradora e eterna.

Fazer compras no comércio ou num shopping desperta no ser humano a sensação momentânea de “felicidade”, tanto que o consumidor sente aquela vontade de ir logo para um bar ou uma lanchonete degustar um lanche ou tomar aquele shop gelado entre amigos e parentes. Muitos confundem felicidade com prazer.

O mau humor se transforma em sorrisos, só em olhar as compras nas sacolas. Isso acontece tanto em pessoas ricas, de classe média e pobres, mas essa aparente “felicidade” tende a desaparecer quando retornam os problemas individuais, coletivos e de relacionamentos familiares.

Essa de dinheiro e felicidade é uma questão muito relativa, mas não podemos ser hipócritas ao ponto de dizer que ter ou não dinheiro é o menor dos problemas. No mundo de hoje, onde tudo gira em torno dele, o dinheiro muda seu psicológico e lhe deixa mais leve e disposto para seguir em frente mais forte.

Sem grana, para, pelo menos pagar suas dívidas e fazer uma feira satisfatória do bem-estar, você fica avexado ou avexada, sem rumo e prumo. Já ouvi alguém falar que o homem sem dinheiro não é um homem, é uma merda.

De certa forma tem sentido porque é muito difícil a pessoa conviver e se relacionar bem quando está sem dinheiro, basta se colocar no lugar de um desempregado. Pode até disfarçar, mas dentro de si permanece aquele aperto e angústia no coração, principalmente quando se está só em seu canto.

Não estou aqui falando daquele tipo ambicioso que mata até a mãe e o pai por causa de dinheiro; vira corrupto; comete malfeitos; passa por cima de qualquer um, sem escrúpulos; e suja as mãos de sangue ou de lama fedorenta para ter mais e mais. Este é o abominável animal que até esquece que existe vida e morte.

De um modo geral, os que têm mais conhecimento e saber são mais desapegados ao dinheiro, mas, mesmo assim, o danado é necessário para satisfazer também os seus prazeres carnais e espirituais. O dinheiro pode até gerar sabedoria para muitos e ser fonte do sucesso.

O dinheiro e o poder andam de mãos dadas, mas não se pode traduzir isso em felicidade. Uns dizem que só necessitam do suficiente para viver feliz. Outros querem mais e mais. Tem ainda aqueles que têm muito e não sabem aproveitar para viver enquanto passageiro na terra. O dinheiro pode ser demônio e deus.

Quem já tem o dinheiro tem mais probabilidade de vencer, com menor dificuldade. Um exemplo é a eleição municipal que está aí nas ruas. Quem tem a grana já fez sua decolagem, com bandeiras e impressos para divulgar sua cara ao eleitor, mas não é sinônimo de vitória, sobretudo quando é mal usado e tecnicamente desperdiçado.

 

ZARATUSTRA E SUA MONTANHA COM SUAS CONTROVÉRSIAS E POLÊMICAS

Os estudiosos da área filosófica de um modo geral consideram o alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844-1900), um filósofo fora da curva, controverso e polêmico, que chegou à sua loucura no final da sua vida, morando recluso com sua irmã.

Ficou órfão de pai aos cinco anos e foi criado, de acordo com nota da Editora Lafonte, que publicou “Assim Falava Zaratustra, pela mãe nos rígidos princípios da religião cristã. Dizem que ele era ateu, mas entendo que morreu intrincado em seu labirinto de dúvidas e certo da morte do Deus antigo, aquele vingativo, ríspido e carrasco idealizado pela religião, daí ter dito que a religião matou Deus.

Nietzsche cursou teologia e filologia na Universidade de Bom e ensinou na Basiléia, na Suíça. Por não conseguir levar a termo uma grande aspiração, a de casar com Lou Salomé, por causa da sífilis, contraída em 1889, isolou-se do mundo, vindo a morrer em 25 de agosto de 1900, em Weimar.

Seu espírito era irrequieto, próprio de um grande pensador. Era poeta por natureza, mas detestava os poetas, para ele mentirosos, dissimuladores e bajuladores. Era sedento por liberdade espiritual e intelectual, bem como apegado ao mundo concreto e real.

Do outro lado, foi um grande defensor da beleza da vida, da terra, dos animais e crítico feroz da fraqueza humana. Vivia uma vida de lutas contra si mesmo, controverso, polêmico e paradoxal.

Em “Assim Falava Zaratustra”, um dos trechos diz que “do alto da montanha, da caverna em que mora com seus animais, Zaratustra perscruta o horizonte, o infinito, o grande mar, o além e paira, junto com sua águia e com sua serpente envolto no pescoço da águia, seus olhares sobre o mundo sobre os pântanos em que se debate a humanidade sem rumo. No topo da sua montanha chegam visitantes desiludidos em busca de solidão, de paz, de sentido da vida”.

Entre os visitantes, o filósofo cita um ilusionista, um mendigo por opção, um viajante, o mais feio dos homens, dois reis, o Papa destronado, um adivinho e um jumento que se tornar novo líder desses homens e adorado como um deus. Eles tentam conviver em harmonia, aprendendo a sorrir, a dançar e sentir suas próprias almas. Terão coragem de se superar, vencer a si mesmos, suas angústias, de se transformar em homens superiores e atingir o ápice de super-homem? – indaga Zaratustra.

Em sua obra, Nietzsche nos deixa vários de seus pensamentos, como a de que a coragem mata a própria morte para recomeçar a vida. Quando o homem mergulha na vida, em seu olhar interior, também mergulha no sofrimento. Toda verdade é sinuosa. No céu e no sol está toda sabedoria, não no homem.

Em sua montanha, Zaratustra chega a fazer uma ode ao sol e ao céu. Ao se referir ao sol, em suas reflexões na caverna da sua montanha, chega a firmar ter desejos de ser fios de ouro como o relâmpago e tocar também em tua pança. Segundo Zaratustra, a liberdade total e a racionalidade são impossíveis e irascíveis.

“OH, DEUS SALVE O ORATÓRIO”

Quando nesta semana podei minha árvore (ainda não sei seu nome, mas minha esposa a chama de Trovão Vermelho) que dá flores durante todo ano para alegria dos pássaros que delas se alimentam, principalmente os beija-flores, descobri uma verdadeira arte da natureza e aí, para a obra ficar completa, tive a ideia de entre os seus trançados de galhos, colocar um oratório. Logo lembrei da música gregoriana do grande artista Milton Nascimento, “Oh, Deus Salve o Oratório”, cantada dentro de uma igreja mineira, num estilo de Terno de Reis. Tudo ficou perfeito, natureza e homem se harmonizando em prece ao criador, só que na realidade tem sido o contrário por parte do ser humano que se tornou bicho destruidor do meio ambiente. Ainda pequena, há uns oito anos, a árvore foi plantada em nosso quintal bem ao lado do coqueiro. Ela foi crescendo e se trançando em torno do coqueiro tornando-se numa obra de arte onde as aves aproveitam para fazer seus ninhos e nos encantar com suas cantorias. Ela se renova rapidamente chegando a invadir parte do quintal. Posso dizer que se trata de uma árvore abençoada. Seus galhos formam várias figuras e letras do nosso alfabeto português e ainda deixou um espaço para encaixar um oratório onde qualquer religioso ou não pode fazer sua oração como se estivesse numa capela dentro de uma árvore. Se fosse numa estrada rústica de chão do nosso sertão catingueiro, tenho certeza que teríamos uma romaria.

ESPIANDO VAGA-LUMES

Do livro Suspiros Poéticos – a beleza da lira cor, da poetisa Regina Chaves dos Santos

Olhe para o horizonte que habita em ti e deixe fluir

-Espie vaga-lumes!

Busque enxergar entorno e além da tua volta,

– Veja o pôr do sol e aprecie o amanhecer!

Seja a criança dos olhos de um adulto,

– Escute o batuque do coração em silêncio!

Aprecie a natureza.

Leia um livro.

Tome banho de chuva.

Suba em uma árvore.

– Assopre o arranhado da criança!

Tente assoviar feito a passarinhos…

– Observe antes de pensar, e pense,

– Pense com os olhos da mente e com a sapiência do coração!

COMEÇA A CORRIDA E QUE SEJA COM ÉTICA, SERIEDADE E BOAS PROPOSTAS

Sei que neste Brasil, com este sistema eleitoral arcaico, tão desigual, onde a máquina e o dinheiro falam mais alto, é pedir demais que os candidatos a prefeito e às câmaras de vereadores façam suas campanhas eleitorais municipais dentro da ética, da seriedade, honestidade, lisura e propostas para o nosso povo.

No entanto, não custa nada bater nesta tecla para que todos candidatos tomem consciência de que vamos entrar numa corrida eleitoral (começa nesta sexta-feira) até outubro, e não numa “batalha” de facões, foices e ofensas pessoais, porque a população de bem não aguenta mais tantas baixarias, mas, infelizmente, ainda existem aqueles que aprovam esses “espetáculos circenses” sensacionalistas e depois ficam reclamando, sem nenhuma moral.

A coisa descambou tanto para o baixo nível que hoje fica difícil distinguir quem é o pior, se o eleitor inconsciente que vota por favores, blocos de alvenarias, telhas, pagamentos de aniversários e funerais, entre outras doações ilícitas, ou se é o político safado que faz de tudo para ganhar o pleito, inclusive usando de artifícios das mentiras e das promessas vãs.

Depois de tantos tempos assim (nosso eleitor ainda é inculto em sua maioria), quem é mais nojento, o subordinador ou o subornado, o corruptor ou o corrompido? Ficam aí as indagações para sua reflexão. É por essas e outras que muita gente diz que as eleições, embora sejam necessárias no processo democrático, não significam mudanças para o nosso país. É uma triste realidade porque não são justas.

Por sua vez, a verdade é que o jogo democrático é desleal porque os que já estão no cargo usam a máquina eleitoral e a grana a seus favores contra aqueles que não contam com esses instrumentos e querem chegar lá com boas intenções, com programas sérios de mudanças na política.

Quem está fora e quer entrar com objetivos decentes fica complicado concorrer com esse pessoal que está lá dentro.  O mais positivo nisso tudo é que ainda tem muitos que acreditam em mudanças e colocam seus nomes nessa corrida desigual, o que vale dizer que as esperanças estão vivas.

O mais contraditório nisso tudo é que, mesmo diante desse quadro nada favorável (o sistema é bruto), a Justiça Eleitoral se enche de burocracias intrincadas para um candidato realizar o seu registro, pedindo um monte de documentos e exigências, como se isso fosse impedir os inescrupulosos de burlar as leis, cometer fraudes e praticar a ilicitude. Para abrir uma conta, na realidade são três, no banco é outro protocolo que o candidato tem que enfrentar.

Mesmo com essa idade já avançada, decidi enfrentar mais um desafio, dentre tantos outros em minha vida, e me candidatar para galgar uma cadeira na Câmara de Vereadores de Vitória da Conquista, e testemunhei essa burocracia monstruosa.

Quem conhece minha pessoa sabe quem sou em termos se seriedade, ética e caráter. Sempre ando na cidade de cabeça erguida e a sociedade que faça seu julgamento. Muitos de meus amigos me aconselharam não entrar nessa, com argumento de que a política é suja e não deveria me sujar, mas já estou vacinado com várias doses de reforço para não ser contaminado. Vou fazer meu trabalho com seriedade.

DISSE QUE NÃO SABIA DA DITADURA

A princípio não se deve comemorar a morte de nenhum ser humano, mas não concordo com bajulações depois que a pessoa se vai para o outro além. Tem gente que passa na vida e não deixa rastros, uns são controversos e polêmicos, outros deixam bondade e generosidade, tem os malfeitores e ainda aqueles que se eternizam em suas obras culturais, seja na música, na literatura, no teatro e demais linguagens artísticas.

No caso particular, estou me referindo ao falecimento do economista Delfim Neto, com 96 asnos, que o conheci pessoalmente nas minhas lidas jornalísticas como repórter de economia do jornal A Tarde nos anos 70, 80 e início dos 90 quando vim para chefiar a Sucursal de Vitória da Conquista, precisamente em abril de 1991.

Pois bem, o Delfim já morreu e não pode mais se defender, mas acho uma cara de pau declarar numa entrevista ao jornalista Pedro Bial que não sabia da existência de uma ditadura no Brasil, e mais, que nunca falou que “devemos primeiro crescer o bolo para depois dividir”, como forma de distribuição de renda para os brasileiros.

Que ele era polêmico e controverso não existem dúvidas quanto a isso, mas negar a existência de uma ditadura naqueles anos de chumbo é subestimar demais a inteligência dos outros, principalmente partindo de um homem tão inteligente como era, que fazia parte do staff de ministros nos governos militares de Costa e Silva, Médici e João Figueiredo.

O mais incrível é que Delfim foi um, entre outros do governo de Costa e Silva, que assinou o AI-5 naquele fatídico 13 de dezembro de 1968, que eliminava por completo todos direitos humanos, fechava o Congresso Nacional e proibia, na base da força, a liberdade de expressão. Naquela época, o fato de duas pessoas conversando já era considerado como reunião, e uma reunião era conspiração passível de prisão.

Com toda sua inteligência sagaz e astuta, ele assinou um decreto sem ler ou um papel em branco? Como ministro de vários governos não sabia o que estava acontecendo? Naqueles anos, até um adolescente de 14 ou 15 anos sabia que o Brasil vivia uma ditadura civil-militar-burguesa. O argumento de que não se comentava isso entre os ministros beira a uma inocência incalculável, e até um analfabeto não acredita nesse sofismo singular.

Quanto a “vamos fazer crescer o bolo da economia para depois dividir”, eu sou testemunha viva da sua voz quando cobria suas palestras a empresários em hotéis de luxo em Salvador e em entrevistas coletivas jornalísticas. Com isso, engordou os cofres das empresas e deixou o povo mais pobre, sobretudo o trabalhador que não tinha direito de protestar (os sindicatos eram amordaçados) e era explorado. Nós jornalistas tomamos muitas cotoveladas de seus seguranças.

Com todo esse papo, Delfim Neto, o mais jovem dos ministros, foi o grande mentor da miragem do milagre brasileiro de crescimento de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) e sustentáculo do regime.  Foi a época dos petrodólares árabes que entraram no Brasil e deixou o país endividado na crise do petróleo nos anos 1978/79.

Como jornalista, cobri e acompanhei de perto todos aqueles fatos. Tudo não passava de uma farsa e maquiagem de dados, enquanto nos porões da ditadura centenas de presos políticos eram torturados, mortos e desaparecidos. Dá para acreditar que ele não sabia que exista ditadura? Essa é mais uma face do que foi o regime.

Os grandes contratos de obras, como a Rodovia Transamazônica fracassada, que massacrou nossos índios, linhas férreas, ponte Rio -Niteroi, Hidrelétrica Itaipu e tantas outras eram dados aos amigos dos generais, muitos deles colaboradores do regime, que encheram as burras de dinheiro e contribuíram para aumentar mais ainda a concentração de renda. Aliás, ainda convivemos com a herança daqueles tempos. Não nos faça de bestas e idiotas!

UM FRACASSO NAS OLIMPÍADAS?

É claro que a Rede Globo tem que fazer seu estardalhaço para atrair mais audiência e dar satisfação aos seus patrocinadores, mas a posição do Brasil de 20º lugar nas Olimpíadas de Paris 2024 foi mais um fracasso, sendo que em Tóquio 2020 ficou em 12º no ranking mundial, com sete de ouro, seis de prata e oito de bronze. No Rio de Janeiro, em 2016, dentro da sua casa, o país conseguiu a 13ª colocação, com sete de ouro, seis de prata e seis de bronze. Em Londres, 2012, o Brasil ficou na 22ª posição, com três de ouro, cinco de prata e nove de bronze.

Segundo fontes da jornalista Ana Cora Lima, o Comitê Olímpico Brasileiro irá pagar aos medalhistas dos Jogos de Paris um valor de  R$ 4,6 milhões pelas 20 premiações. Rebeca Andrade, o destaque da delegação com quatro medalhas (ouro no solo, duas pratas no individual geral e no salto, e bronze por equipe) é quem vai receber mais do governo no total de R$ 826 mil

A judoca Beatriz Souza, que conquistou o ouro na categoria feminina acima de 78kg e bronze por equipe, vai receber R$ 392 mil. Já a dupla campeã de vôlei de praia Duda e Ana Patrícia irá ganhar R$ 350 mil cada atleta. Esse valor será líquido, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinou uma MP (medida provisória) que isenta os atletas olímpicos de pagarem Imposto de Renda sobre os prêmios recebidos nos Jogos de Paris. É uma boa grana!

Sob outro ponto de vista, alguém pode até avaliar que não foi um fracasso. No entanto, uma coisa é certa que um Brasil tão gigante, oitava ou nona economia do mundo, ainda deixa muito a desejar. Investimos pouco em educação, esportes e cultura, sem contar que nossa gente prima mais pelas algazarras do que focar e concentrar nas competições. Brasileiro leva até cachorro e papagaio para as concentrações, que de certa parte tira o foco.

O Brasil levou uma delegação de 289 atletas, sendo 163 mulheres e 126 homens. Com todo esse aparato a bordo só colocaram no peito três medalhas de ouro (todas das mulheres e nenhum homem), sete de prata e 10 de bronze. Portanto, com relação a Tóquio houve uma regressão e queda no rendimento. Durante as últimas 24 edições, o nosso país só ganhou 170 medalhas, o que dá uma média de pouco mais de sete medalhas. Precisamos evoluir muito mais. Só três medalhas de ouro?

A meta do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) era de pelo menos trazer 22 medalhas e só ficou com 20. Toda vez que terminar uma olimpíada, o Comitê promete melhorar. Quando vamos ter uma meta de pelo menos arrebatar 50 medalhas e ficar entre as dez maiores potências olímpicas? Os Estados Unidos, em Paris, levaram 40 de ouro, 44 de prata e 42 de bronze, seguidos da China com 40 de ouro, 27 de prata e 24 de bronze. Depois vieram o Japão e Austrália.

Como deu aí para ver no quadro, é uma diferença elástica, comparando o Brasil com os primeiros colocados. Foram 6.800 atletas no total de 205 delegações. O vigésimo lugar não é tão vergonhoso, mas poderia ser bem melhor se houvesse mais investimento no esporte amador em geral e o brasileiro fosse mais disciplinado como os orientais e outros países. Menos samba e mais seriedade quando se trata de competir.

Como ficou patente aí no número de atletas brasileiros que foram a Paris, a questão não é de quantidade, mas de qualidade. Muitos desses aí, mais de 90, são bolsistas das forças armas e de outras corporações militares, sem falar de outros benefícios pecuniários que recebem do governo federal. Precisa haver uma maior cobrança aos atletas por parte dos dirigentes, mais estrutura, mais equipamentos e treinamentos.

Como estamos falando da participação do Brasil nas olimpíadas, o nosso país, infelizmente, levaria mais medalhas se fosse na disputa por corrupção e malandragem, bem como em desigualdade social e na educação onde nossos índices são baixos em relação a outros países do mundo. Temos um Brasil tão rico e tão pobre, e isso reflete também nos esportes.

Outra coisa que não cabe, só mesmo no conceito sensacionalista marrom dessa mídia, é chamar os atletas medalhistas de heróis, reis, princesas e rainhas. Herói é o brasileiro das periferias e favelas que têm que matar um leão por dia, para colocar um prato de comida na mesa, ou aqueles que ainda conseguem sobreviver em casebres entre ruelas e becos com esgotos correndo a céu aberto, sem saneamento básico.

Quando um atleta ganha uma medalha, aí lá vem a mídia com seu bordão sensacionalista barato em relatar a miséria da pessoa quando tudo começou expondo as dificuldades durante sua trajetória nos esportes. Ora, todos passam por obstáculos para vencer na vida, não somente na modalidade esportiva, a não ser os safados sem ética, honestidade e escrúpulos que só querem saber de levar vantagem em tudo, passando a rasteira no outro, sem o menor sentimento de culpa.

“FORA DE SERVIÇO”

UM DIÁLOGO ENTRE UM ANTIGO PAPA E ZARATUSTRA SOBRE DEUS E SEU FILHO, NO LIVRO “ASSIM FALAVA ZARATUSTRA”, DE NIETZSCHE

No capítulo “Fora de Serviço”, Zaratustra, personagem do livro de Nietzsche, se encontra, em sua caminhada, com um homem alto e escuro, na verdade o último Papa, um compungido, difamador do mundo, segundo sua avaliação.

Ele praguejava e, então, se dirigiu a Zaratustra que tentou se desviar dele. No entanto ele foi ao seu encontro, dizendo que “isto aqui é um mundo estranho e longínquo. Ouvi rugido de feras. Quem poderia me acolher já não existe.  Procuro um santo, um ermitão, único que ainda não ouvira dizer o que toda gente hoje sabe”.

–  “Que é que toda gente sabe hoje?” – perguntou Zaratustra. Talvez já não esteja vivo o Deus antigo, o Deus em quem antes toda gente acreditava.

O velho Papa respondeu ter servido a este Deus antigo até sua última hora. “Agora, porém, estou fora de serviço. Encontro-me sem amo e, apesar disso, não sou livre. Por isso só tenho alegrias com minhas recordações”.

Logo depois afirmou ter subido até a montanha para celebrar uma festa, pois “sou o último Papa!” , mas morreu o mais piedoso dos homens, o santo do bosque que louvava Deus. Como não encontrou na cabana, o homem ressaltou ter visto dois lobos que uivavam por causa da sua morte.

– Então meu coração decidiu procurar outro, o mais piedoso de todos os que não acreditam em Deus, Zaratustra, que pegou em sua mão e com olhar fixo disse: “Olha reverendo, que bela e longa mão que sempre deu a benção”.

-Eu sou Zaratustra, o ímpio que diz : “Quem há mais ímpio do que eu, para me alegrar com seus ensinamentos?” O Papa afirmou que agora o mais ímpio era ele.

Então Zaratustra indagou se o Papa sabia como ele morreu. “É certo o que se diz, que o asfixiou a compaixão? Ou ver o homem suspenso na cruz e não poder suportar que o amor pelos homens viesse a ser seu inferno e afinal sua morte?”

O antigo Papa não respondeu. – Deixa-o ir, já partiu – acrescentou Zaratustra. “É certamente em tua honra que nada de mal se deva dizer a respeito desse morto, mas tu sabes que ele seguia caminhos singulares”.

O Papa foi um bom servidor ao longo de seus anos e enfatizou que era um Deus oculto, cheio de mistérios, “Na verdade, teve um filho por estranhos caminhos oblíquos. Às portas de sua fé se encontra o adultério”. O velho Papa desatou a conversar:

– Aquele que o louva como Deus do amor, não forma juízo bastante elevado do amor em si. Esse Deus não queria ser juiz também? Mas amar é amar acima do castigo e da recompensa.

– Quando moço, esse Deus do oriente era ríspido e estava sedento de vingança. Criou um inferno para alegria de seus prediletos.

– Por fim, fez-se velho e meigo, terno e compassivo, assemelhando-se mais a um avô do que a um pai e até, mais a uma avó decrépita.

– Lá estava ele sentado, tristonho, ao lado do lume, preocupado com a fraqueza das pernas, cansado do mundo, cansado de querer, e um dia acabou por se afogar em sua excessiva compaixão.

Zaratustra interrompeu o Papa perguntando se tinha visto tudo que ele dizia com seus próprios olhos. “Pode muito bem ter sido assim. Assim e também de outra maneira. Quando os deuses morrem, é sempre de várias espécies de mortes”.

Desta ou de outra maneira já não existe. Era contrário ao gosto dos meus olhos e de meus ouvidos, isso é o pior que tenho a dizer dele – replicou o Papa.

Então, Zaratustra emendou que “gostava de tudo que tem o olhar claro e a fala franca. Ele, porém, bem o sabes, antigo sacerdote, tinha qualquer coisa de tua raça, dos sacerdotes: Era ambíguo”.

– Também era confuso. Quantas coisas não nos lançou no rosto, esse colérico, por falta de compreensão. Mas por que ele não falava mais claro?

– E se a culpa era de nossos ouvidos, por que nos deu ouvidos que o ouvissem tão mal? Se nos nossos ouvidos havia lama, quem a pôs lá? … Basta de um deus desses! É melhor não ter nenhum, é melhor cada um criar os destinos a seu capricho, é melhor ser doido, é melhor sermos nós mesmos deuses”.

O Papa ficou espantado e falou a Zaratustra que, com sua incredulidade, era mais piedoso do que pensava. “Foi algum deus que, convertendo-te fez de ti um sem-deus”. Disse ainda que sua excessiva lealdade iria conduzí-lo mais além do bem e do mal.

– Porque esse Deus antigo já não está vivo. Está morto e bem morto” – assim falou Zaratustra, encerrando sua conversa com o antigo Papa.

 





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