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:: 8/jul/2022 . 23:31

PROIBIDO USAR SEDA E SAIR À RUA AO ANOITECER NO BRASIL ESCRAVOCRATA

“De um lado, havia a mulher branca reclusa, religiosa e submissa, sempre sobre os cuidados e as ordens do pai ou do marido. De outro, a mulher negra sensual, voluptuosa, cujo descontrole sexual seria responsável pela corrupção dos bons costumes da América Portuguesa”

São dois dos estereótipos femininos principais aos olhos do Brasil masculino apontados pela historiadora Sheila de Castro Faria no livro “Escravidão” da segunda trilogia do jornalista e escritor Laurentino Gomes.

Na verdade, as mulheres brancas e negras desempenharam papel importante no período do Brasil escravocrata. Muitas já eram chefes de família e empreendedoras. As mulheres escravas trabalhavam para alforriar seus maridos e filhos. Ao contrário do que se pensava, constituíram famílias.

De acordo com a historiadora Sheila, “a ideia comum nos relatos sobre a colônia era de que as índias e as negras, sobretudo as mulatas, só serviam para a fornicação, pois teriam vocação libidinosas, pondo a perder os homens”. Laurentino descreve que haviam leis rigorosas da Coroa Portuguesa contra as mulheres, como a proibição de que elas usassem vestidos de seda e que saíssem à rua ao anoitecer.

Nos livros, a maioria dos historiadores coloca a mulher negra como sexualmente disponível, “a que nos iniciou no amor físico e nos transmitiu, ao ranger da cama de vento, a primeira sensação completa de homem”, como na imagem bucólica de Gilberto Freyre, mesma visão tinha ele a respeito das indígenas.

Narra Gilberto que “as mulheres eram as primeiras a se entregarem aos homens, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se ao europeu por um pente ou um caco de espelho”.

Laurentino destaca que o médico maranhense Nina Rodrigues atribuía à mulata a tendência promíscua da sociedade brasileira no campo sexual. Segundo ele, uma das heranças nocivas da escravidão. Como resultado de todas essas influências desfavoráveis, a energia de todo povo degenerou em indolência e gozos sensuais e para sair dessa situação serão necessários séculos – afirmava Nina.

O ministro José Bonifácio de Andrada e Silva tinha a ideia de que a escravidão corrompia os costumes e comprometia o futuro da sociedade brasileira, em especial devido à facilidade com que as mulheres negras se prostituíam.

São conceitos distorcidos que se perpetuaram através dos séculos. Para o autor de “Escravidão”, o papel da mulher na sociedade colonial foi muito além da satisfação sexual do homem, da procriação e do cuidado da casa.

Segundo ele, desde o primeiro século da invasão portuguesa, muitas delas foram donas de engenhos, fazendas, minas de ouro, vendas, tabernas e outros negócios. No Nordeste chegaram a labutar na criação de gado como vaqueiras. Outras foram benzedeiras e curandeiras. A grande maioria de brasileiros veio à luz com ajuda de parteiras cativas ou libertas, muitas amas de leite.

As constituições primeiras do arcebispado da Bahia, promulgadas em 1707, por D. Sebastião Monteiro da Vide, definiam que as mulheres podiam se casar a partir dos doze anos de idade, e os homens aos catorzes.

Em 1764, a inglesa Jemima Kindersley, que visitou Salvador, registrou que as senhoras da elite colonial levavam uma vida de ócio e sedentarismo, engordavam rapidamente. Ficam velhas muito depressa.

A historiadora Leila Mezan Algranti cita que a sociedade classificava a mulher brasileira em três grupos, as com honra, castas e casadas, as sem honra (escravas, negras, mestiças forras e prostitutas) e as desonradas. Para ela, a sociedade tendia a ser mais tolerante com as mulheres sem honra do que com as desonradas. Também existiam as mulheres de freiras que se refugiavam nos conventos.

Os historiadores descrevem que o convento era ainda um lugar para proteger mulheres e filhas das tentações. Alguns maridos deixavam suas mulheres temporariamente enclausuradas enquanto viajavam.

A Igreja e as autoridades civis impunham normas rígidas contra as mulheres. Uma das sugestões do bispo do Rio de Janeiro, por volta de 1702, era que as mulheres fossem proibidas de sair de casa depois do anoitecer. O governador da Bahia determinava aos soldados que prendessem todas as mulheres encontradas na rua à noite. Quem transgredisse as leis seria punida com degredo e até excomunhão.

Somente tempos depois o Conselho Ultramarino decidiu que não caberia proibir as mulheres de sair à noite. No entanto, em 1703, uma carta régia foi despachada para o Rio de Janeiro proibindo as escravas de usarem roupas com seda e ouro. Em 1709, a Câmara da Bahia reclamava junto ao Conselho sobre o excesso de luxo com que os negros e mulatos se vestiam.

 

 

 





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