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:: 31/jul/2022 . 12:14

BELO CAMPO REALIZA SUA PRIMEIRA FEIRA LITERÁRIA COM MUITAS ATRAÇÕES

Com uma homenagem à escritora brasileira Carolina Maria de Jesus, conhecida internacional com 14 obras traduzidas no exterior, e estandes dos baianos Jorge Amado e poeta Castro Alves, do paraibano-pernambucano Ariano Suassuna, Ziraldo e a Turma da Mônica, de Maurício de Souza, a cidade de Belo Campo, através da sua Secretaria de Educação, deu seu primeiro passo e realizou, na Praça da Prefeitura, de 27 a 31 de julho, a I Feira Literária e Gastronômica (I FLIBELÔ).

Carolina ganhou um espaço especial no centro da praça, em formato de um casebre, muito procurado, com textos sobre sua biografia, materiais que representaram seus trabalhos como favelada, catadora de lixo e fatos da sua vida simples e pobre. Foi uma significativa e acertada homenagem para uma negra escritora que ganhou o mundo pela sua autenticidade, notoriedade e forma como narrou nua e crua a questão social do nosso país.

LITERATURA INFANTIL

O evento deu um destaque especial para a literatura infantil, mas também foi marcada pela diversidade de outros autores destinados aos mais jovens e adultos, como amostra da livraria Sebo (Conquista), lançamento de livros de acadêmicos da Academia Conquistense de Letras, dos jornalistas e escritores Ismael e Jeremias Macário que apresentou suas obras “Uma Conquista Cassada”, “A Imprensa e o Coronelismo” e “Andanças”, dentre outros da própria terra, como Roberto Letiere sobre a história do município.

Durante todos os dias, a movimentação foi intensa dos moradores e de outras cidades vizinhas que tiveram a oportunidade de entrar em contato mais próximo com a cultura e o conhecimento, principalmente através das apresentações de shows musicais e peças teatrais das escolas municipal e estadual de autores infantis. Ocorreram rodas de contações de causos, estórias, declamações de poemas e diversas atividades literárias.

Além dos estandes literários com obras dos escritores, a I Feira Literária também abriu espaço para o artesanato da Associação de Artesãos de Belo Campo e individuais de outras cidades, inclusive de Vitória da Conquista, com Vandilza Gonçalves que expos seus trabalhos de tapetes e cachecóis de croché.

Os estandes de Jorge Amado, Ziraldo, Turma da Mônica, Ariano e Castro Alves foram os mais frequentados, especialmente pelas crianças e jovens, sempre curiosos para aprender mais sobre a vida e a obra dos escritores. O Colégio Estadual Carlos Santana fez uma pequena mostra de peças antigas utilizadas pelos traficantes de escravos e senhores donos dos cativos, como as correntes de ferro, chibatas e pequenas naus negreiras, com especial atenção para Castro Alves, o poeta dos escravos.

Nesse âmbito da escravatura, houve uma lacuna quanto a presença de Luiz Gama, Lima Barreto, José do Patrocínio, Joaquim Nabuco e outros que estiveram à frente na defesa da libertação dos negros e precursores do abolicionismo. Machado de Assis, também um escritor negro, merecia seu espaço. Ariano Suassuna chamou a atenção por seus escritos dramaturgos, como o Auto da Compadecida, O cantinho dos cordéis também teve seu lugar de apreciação.

Os coordenadores, como Janet e Misael Lacerda, sempre foram prestativos no apoio aos visitantes, sobretudo os de foram que lá estiveram para agregar e fortalecer o evento cultural literário, que vem sendo ultimamente realizado em várias cidades do interior, menos Vitória da Conquista que ainda está planejando uma programação dessa natureza, conforme já foi anunciada pela prefeita Sheila Lemos.

Como foi a I FLIGBELÔ, ainda houve algumas falhas em termos de estrutura física, que deverá ser aprimorada nas seguintes, mas o primeiro passo já foi muito importante para a cidade próxima de Conquista. Faltou, por exemplo, mais presença de escritores da região, e uma rodada de conversa com esse pessoal para mostrar seus talentos, iniciação à escrita, dificuldade de publicação e distribuição, dentre outras experiências vividas para lançar seus livros. É uma sugestão que fica para ser apreciada e colocada em prática na II FLIBELÔ.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A INGLATERRA E A ESCRAVIDÃO (I)

No começo do século XVIII, o tráfico negreiro ainda era uma instituição sólida e lucrativa na Inglaterra, tanto que em 1713 fizeram uma procissão solene e uma festa para celebrar a boa fase nos negócios de uma nova companhia, a “South Sea Company” dedicada ao ramo de cargas de cativos.

Quem registra o fato é o jornalista e escritor Laurentino Gomes, na segunda trilogia de “Escravidão”. Em 1713, essa empresa se tornara detentora do monopólio de fornecimento de mão de obra cativa pelos trinta anos seguintes para o império colonial espanhol nas Américas.

De acordo com Laurentino, tinha como sócios principais o rei Felipe V, da Espanha e a rainha Ana, da Inglaterra. Entre os minoritários, o matemático Isaac Newton e dois escritórios, Daniel Defoe e Jonathan Swift, autores de clássicos da literatura Robinson Crusoé e As viagens de Gulliver. Em sua curta existência de pouco mais de uma década, forneceu 64 mil africanos aos espanhóis.

CAPITAL MUNDIAL DO TRÁFICO

A cidade portuária de Liverpool era considerada a capital mundial do tráfico negreiro. Passara de um pacato vilarejo de pescadores para a segunda cidade mais populosa da Inglaterra. O número de moradores passou de cinco mil, em 1700, para 34 mil, em 1773. Liverpool também se tornou o principal porto de mercadorias da Revolução Industrial, cujo centro seria a cidade de Manchester.

Dezenas de itens compunham a carga de um navio que deixou os portos da Inglaterra em 1787 rumo à África, como peças de algodão e linho, lenços e tecidos de seda, balas e barras de chumbo, panelas e frigideiras, pólvora, taças e copos de vidro, bijuterias e pedras preciosas, espadas, couro, capas de chuva, tabaco, bebidas e tantos outros.

Os navios britânicos transportavam anualmente, no total, mais de 100 mil africanos escravizados para o Novo Mundo, dos quais 60 mil para os engenhos de açúcar na Jamaica e Barbados, onde os africanos compunham cerca de 90% da população. A Jamaica recebeu sozinha mais de um milhão de cativos, número superior ao da Bahia. Barbados, meio milhão.

Nessa época, também se intensificou, a bordo dos navios negreiros, o comércio de escravos para o sul dos Estados Unidos, grande produtora de arroz, tabaco e algodão. Entre 1730 e 1740, os britânicos se tornaram os campeões mundiais do tráfico de gente escrava, ultrapassando pela primeira vez no período, o número de portugueses e brasileiros.

O ABOLICIONISMO

Nas quatro décadas seguintes, mais de 800 mil seriam traficados. O auge foi atingido entre 1780 e 1790, quando transportaram 350 mil cativos. Mesmo assim, nesses dez anos aconteceram os debates que fariam desabar o arcabouço do sistema escravista, que foi a campanha do abolicionismo britânico e norte-americano, mudando a face do planeta no século seguinte.

De acordo com o autor de “Escravidão”, o movimento ganhou folego em meados da década de 1780. Vinte anos mais tarde levaria à proibição do tráfico negreiro na Inglaterra e nos Estados Unidos. Mais duas décadas e meia, em 1833, resultaria na abolição da escravatura na Inglaterra, completando com o 13 de maio de 188 no Brasil.

Com relação à questão da abolição, sugiram várias explicações de historiadores, algumas até românticas plantadas pelos britânicos e norte-americanos, como de que teria sido resultado de uma obra filantrópica dos brancos em favor dos negros, mas isso não se sustentou.

Em 1944, um estudo revolucionário de um homem crioulo de Trinidad Tobago, chamado Eric Williams abriu várias discussões. Segundo ele, a escravidão havia se tornado economicamente insustentável no longo prazo. Diante da marcha dos acontecimentos do século XVIII, como as novas tecnologias, as descobertas científicas e métodos de produção, seria inevitável a substituição da mão-de-obra cativa pelo trabalho assalariado.

Pelo sistema capitalista, conforme as análises dos historiadores, os ex-escravos, convertidos em assalariados seriam também consumidores para os novos produtos da economia industrial britânica. Eric também defendeu a tese de que a escravidão teria sido a primeira fase da economia capitalista, cujos lucros financiaram a Revolução Industrial, tornando o trabalho cativo obsoleto.

A terceira e última explicação para o desfecho abolicionista dizia ele que o sistema escravista trazia dentro de si a semente da destruição. Então, teria sido resultado da resistência dos próprios escravos. O abolicionismo coincidiu com o período de rupturas dentro das ordens estabelecidas pelos brancos, como a Independência dos EUA e a Revolução Francesa. Esses episódios abriram espaços para a liberdade.

Num curto intervalo de apenas 43 anos, entre 1789 a 1823, ocorreram mais de vinte revoltas em todo continente americano. Nesse clima, conforme analisa Laurentino, os escravos teriam aguçado nos senhores o medo de uma “bomba social”. A Revolução do Haiti, em 1791, e a Revolta dos Malês, na Bahia, em 1835, foram dois grandes exemplos.

As ideias revolucionárias do iluminismo no século XVIII foram abrindo espaços para violentas revoluções. O escravismo já era uma máquina enferrujada, que precisava ser abandonada em favor de um equipamento mais novo e eficiente.

Essa de filantropia dos brancos não colava diante dos fatos de que grandes líderes escritores, intelectuais e agitadores negros já defendiam o abolicionismo, como no caso da Inglaterra dos africanos Olaudah Equiano, Ottobah Cugoano e Charles Sancho, este um ex-escravo que se tornara compositor e primeiro afrodescendente a ter o direito de voto na Inglaterra.

Nos Estados Unidos, segundo apurou Laurentino, a relação de abolicionistas negros tem quase quarenta nomes, incluindo o escritor Frederick Douglas, James William Charles, primeiro afrodescendente a estudar na Universidade Yale, e o também ex-escravo Harriet Tubman, homenageado pelo presidente Barack Obama.

No Brasil houve o abolicionista Joaquim Nabuco, branco conhecido como “Quincas, o Belo”. Ao lado dele tiveram o fluminense José do Patrocínio, o advogado baiano Luis Gama, o engenheiro baiano André Rebouças e a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, autora de Úrsula, primeiro romance publicado por uma mulher negra.

ATIVA E VIGOROSA

Quanto a explicação da inviabilidade econômica não convence certos historiadores, pois pesquisas mostram que, no final do século XVIII, a escravidão estava longe da exaustão. Estava ativa e vigorosa, como demonstrou o historiador Seymour Drescher, opositor de Eric William. Pelo ponto econômico, não haveria como acabar com a escravidão. Na visão  de Drescher, a abolição teria mergulhado as colônias britânicas num declínio econômico.

Ao assumir o governo britânico, em 1783, o primeiro-ministro William Pitt estimou que 80% de todas as receitas auferidas pela Grã-Bretanha no comércio ultramarino vinham de suas colônias no Caribe. No período de 1750 a 1805, nunca tantos cativos foram transportados da África para a América, antes da abolição nos EUA e Inglaterra. A própria Guerra da Sucessão entre o Sul e o Norte, em que mais de 750 mil pessoas morreram, comprova que o sistema estava vigoroso.

Também, “a teoria de que a abolição resultou da teoria da pressão dos próprios negros não fica de pé sozinha e precisa ser calibrada diante dos fatos. Houve várias rebeliões, mas nenhuma, com a exceção do Haiti, chegou a ameaçar a ordem escravista. A maioria optou por outras estratégias silenciosas de resistência, como relação de laços familiares mediante o compadrio (irmandades religiosas, alianças sutis com seus senhores)”.

Na chamada Revolta de Tacky, na Jamaica, em 1760, os rebeldes pregavam a aniquilação dos brancos  e a tomada do poder, onde continuariam a produzir o açúcar pela escravização dos negros. No Quilombo Oitizeiro, no sul da Bahia, os fugitivos utilizavam o trabalho de outros escravos na produção de mandioca.             

 

 

 

 





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