Falar do pernambucano de Recife, Manuel Bandeira, não carece de muitas apresentações, principalmente pelo conteúdo de suas obras poéticas. Parnasiano-simbolista aderiu de cheio ao modernismo da Semana de Arte Moderna de 22, junto com nomes notáveis de expressão, como Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Ronald de Carvalho e tantos outros.

Um dia, de acordo com Alfredo Bosi (História Concisa da Literatura Brasileira), Manuel Bandeira chamou-se de “poeta menor”. “Fez por certo uma injustiça a si próprio, mas deu, com essa conotação crítica, mostras de reconhecer as origens psicológicas da sua arte: aquela atitude intimista dos crepusculares do começo do século que ajudaram a dissolver toda eloquência pós-romântica pela prática de um lirismo confidencial, auto-irônico, talvez capaz de empenhar-se num projeto histórico, mas, por isso mesmo, distante das tentações pseudo-ideológicas, alheio a decaídas retóricas”.

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira (1886-1968) veio adolescente para o Rio de Janeiro, onde cursou o Colégio D. Pedro II. Em São Paulo iniciou o curso de Engenharia, mas a tuberculose impediu-o de prosseguir os estudos. Em 1912 esteve na Suíça onde entrou em contato com a melhor poesia simbolista e pós-simbolista em língua francesa, “fonte de sua linguagem inicial, como atestam os primeiros livros “Cinzas das Horas (1917) e “Carnaval” (1919)

No rio de Janeiro estreitou amizades com Ronald de Carvalho, Ribeiro Couto, Graça Aranha e Tristão de Ataíde, passando para o modernismo. Ao praticar o verso livre, foi acolhido pelo Grupo da Semana como um irmão mais velho (na época de 22, tinha 36 anos), e alguém o chamou de São João Batista do movimento, segundo relata Bosi, que o considera como um dos melhores poetas do verso livre em português, principalmente a partir de “Ritmo Dissoluto” (1924) e “Libertinagem” (1930).

“A biografia de Manuel Bandeira é a história de seus livros. Viveu para as letras e, salvo os anos em que lecionou português no Colégio D. Pedro II e Literatura Hispano-Americana na Universidade do Brasil, dedicou-se exclusivamente ao ofício de escrever poesia, crônica, traduções e obras didáticas”.

Ao olhar de longe o carnaval da vida escreveu: “Uns tomam éter, outros cocaína/Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria/ Tenho todos os motivos menos um de ser triste./ Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria…/Abaixo Amiel!/ E nunca lerei o diário de Maria Bashkirtsseff./Sim, já perdi pai, mãe, irmãos./Perdi a saúde também./É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz-band. ……….(“Não sei dançar”).

Um dos poemas mais lembrados de Bandeira, musicado por Paulo Diniz, foi “Vou-me Embora para Pasárgada” em seu livro “Libertinagem” “que oscila entre um fortíssimo anseio de liberdade vital e estética e a interiorização cada vez mais profunda dos vultos familiares (“Profundamente”, “Irene no Céu”, “Poema de Finados”, “O Anjo da Guarda”), bem como das imagens brasileiras extraídas do seu convívio intelectual com Mário de Andrade e Gilberto Freyre (“Mangue”, “Evocação do Recife”, “Lenda Brasileira”, “Cunhantã)”