BALANÇO DA COPA DO MUNDO
Carlos González – jornalista
Três meses se passaram do final da Copa do Mundo e o governo federal se mantém em silêncio a respeito dos lucros ou perdas proporcionados pelo evento esportivo. A informação de que o Brasil sofreu derrotas dentro e fora dos estádios foi divulgada há poucos dias por um grupo de conceituadas instituições econômicas e sociais européias, lideradas pela suíça Solidor e pela alemã Institut Heinrich Boll, revelando o que todo o mundo já sabia, que a FIFA levou para os seus cofres em Genebra R$ 7,5 bilhões, livres de impostos.
Aprofundando-se em detalhes, os pesquisadores afirmam que “a Copa realizada no Brasil foi a mais cara de todos os tempos”. O custo aproximado para o governo foi de US$ 13,3 bilhões, o que corresponde a R$ 33 bilhões. As 12 cidades-sedes herdaram um endividamento de 51%. Os investimentos feitos em obras de infraestrutura urbana, principalmente transporte público, foram desviados para outras finalidades, evidentemente ilícitas.
O estudo dedica um capítulo especial aos estádios que foram construídos ou reformados, todos superfaturados, sendo que quatro deles, os de Manaus, Natal, Cuiabá e Brasília, foram superdimensionados, passando a figurar na lista dos “elefantes brancos”, ao lado do Engenhão, construído há cinco anos no Rio de Janeiro e em processo de desgaste em sua estrutura.
De acordo com os cálculos efetuados, cada assento colocado nos novos estádios brasileiros teve um custo de R$15,41 mil, contrastando com os R$ 8,95 mil do Mundial de 2006 na Alemanha, e os R$ 8,2 mil de 2010 na África do Sul. A farra com o dinheiro público fica mais perceptível com o exemplo que vem da Espanha. Há dois anos, o Espanyol de Barcelona empregou cerca de R$ 220 milhões na construção daquele que é considerado como o mais moderno estádio do país, o Cornella – El Prat, com capacidade para 41 mil pessoas. No Brasil teria custado R$ 1 bilhão, valor que foi empregado no “Mané Garrincha”, em Brasília, e no “Itaquerão”, erguido em São Paulo para deleite dos corinthianos do Planalto Central.
Ao concluir o relatório, as instituições européias chamam a atenção da FIFA para os seguintes aspectos, visando os próximos Mundiais: 1) respeito aos direitos humanos (no Brasil, 250 mil pessoas foram desalojadas de suas moradias para dar lugar aos estádios; os órgãos policiais agiram com rigor na repressão às manifestações nos dias de jogos); 2) obedecer a legislação trabalhista do país-sede (oito operários brasileiros morreram tragicamente nos canteiros de obras dos estádios; 250 mil trabalhadores informais foram impedidos de vender suas mercadorias no entorno dos estádios); 3) recolher os impostos (aqui, além do privilégio fiscal concedido pelo governo, assessores da entidade internacional negociaram ingressos no câmbio negro, em prejuízo do torcedor mais pobre).
O setor da construção civil, hoje o maior financiador das campanhas eleitorais, e o turismo, foram os que mais lucraram com a Copa do Mundo no Brasil. Claro, muitas pessoas físicas disputaram a “galinha gorda”, lançando em suas contas bancárias, aqui e no exterior, o nosso dinheiro.