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:: 8/out/2014 . 22:19

O INTERVALO DO DIABO

Salustiano Querosene do Pavio é um trabalhador braçal que nasceu e vive há anos nos confins dos grotões deste Brasil que muita gente diz que é aonde o diabo gosta e o vento faz a curva, cafundós do Judas ou o fim do mundo. Salustiano e a gente daquele pedaço de chão nem existem como cidadãos, mas já ouviram falar das artimanhas do Diabo, ou do Belzebu Satanás chifrudo que não perde um descuido ou um intervalo de fraqueza para roubar uma alma.

Quando Salustiano não tem dinheiro, e isso é quase sempre, para comprar na venda o querosene de acender o candeeiro pra clarear seu casebre, ele apela para o óleo de mamona extraído dos bagos pisados no pilão. O pavio é feito do algodão colhido de um pequeno plantio de sua roça. Quando não tem algodão vai mesmo um pedaço velho de pano. O pior de tudo é a escuridão quando o Diabo mais aprecia para fazer suas assombrações.

FOTOS DIVERSAS 018 - Cópia

Teve um tempo que Salustiano vendia querosene e pavio, mas o negócio não foi pra frente por causa dos fiados que não recebia. Restou o seu nome dado pelo povo. Essa expressão “pobre diabo”, pessoa que trabalha como condenado e nada tem, escrava do poder e que não incomoda ninguém, é o típico Salustiano.

Mesmo temente a Deus, ele sabe e sente na carne e na alma que é um “pobre diabo”, só não sabia que desde a antiguidade, nos tempos dos bárbaros, antes e depois de Cristo, inclusive nas Cruzadas e na Idade Média, existiu uma sociedade secreta chamada de “O Intervalo do Diabo”, onde a entidade era reverenciada como deus da fortuna para uns poucos e da desgraça para os que se arrastavam na miséria e na ignorância.

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SEQUIDÃO

Jeremias Macário

Êta, seu moço, vou chorar,

com este triste sol poente,

sem nenhuma gota no ar,

neste sertão tão cinzento,

que há um ano não boto,

nesta terra estorricada,

a esperança da semente.

 

FOTOS DIVERSAS 030 - Cópia

Êta, seu moço, não aguento,

ver toda esta pobre gente,

vivendo só de lamento,

e de sede o meu jumento,

pois o gado mais fraco,

já virou nesta seca carcaça,

símbolo de um árido cavaco,

onde políticos só aparecem,

na temporada de caça.

 

Nesta terra tão abandonada,

da catinga não vinga mais nada,

e nem São José mandou chover,

pra plantar o milho pra colher,

no dia festeiro de São João,

e brincar no “Arraia da Sinhá”.

 

Olha lá que bagaceira, seu moço!

Ficou só o solitário mandacaru,

nesta sequidão da terra rachada,

onde os bichos se foram em retirada,

para outras bandas mornas do sul.

 

Eu vos peço, oh meu Senhor!

Que mande a chuva pra eu lavrar,

porque os homens do lado de cá,

passam o tempo todo a nos enrolar,

enquanto meu açude de todo secou,

e a minha dor me impede de cantar.

 

Oh, meu Senhor! Ampare teu filho!

essa gente nos deixou aqui a penar,

com promessa de crédito parcelado,

muita cisterna e água por todo lado,

mas o que tem muito aí é caudilho,

roubando dos nossos filhos a alegria,

com um pacote cheio de burocracia.

 

Ninguém olha mais para esse lugar,

que sempre tem gente indo embora,

e outros se arrastando em procissão,

rezando ao céu uma penitente oração

para que do alto desça uma melhora

pra a chaga dessa ferida se fechar.

 

É, seu moço, a coisa aqui só piora,

e “quando é que isso vai se acabar”?

Até quando vamos ter de nos calar,

sem entrar nessa brigar pra valer?

e não ficar esperando chegar a hora,

porque esse “esperar não é saber”,

o que mais conta é o “fazer acontecer”.

 





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