Um é romance e o outro uma gramática mínima imprescindível para quem pretende ingressar na narrativa de outros gêneros literários tão desprezados nos últimos anos no Brasil em decorrência dos desleixos dos nossos governantes para com a educação e a cultura. Mesmo assim, a nossa literatura atual não padece de produção de obras, mas da carência de patrocinadores e leitores para prestigiar seus autores.

Um exemplo disso está na região sudoeste onde existe uma gama enorme de escritores talentosos lançando livros, mas com inexpressiva divulgação e apoio mais consistente do poder público. Na semana passada (sexta-feira – dia 10/06), por exemplo, me fiz presente no lançamento dos livros “Em Busca do Sol”, de Esmeraldino Correia e “Gramática Mínima da Língua Portuguesa”, de Ubirajara Brito.

Sobre o trabalho do professor Ubirajara Brito, nascido em Tremedal (BA), cidadão honorário de Vitória da Conquista, engenheiro civil e especialista em radioatividade e fissão nuclear, me atrevo a tratá-lo como uma gramática básica dirigida, especialmente, para jovens estudantes e, creio que este foi o propósito do autor em se dignar a elaborar o tratado.

O próprio Ubirajara que já foi secretário e ministro interino do Ministério da Educação disse, em sua apresentação, que ao decidir escrever sobre o tema não se preocupou com minúcias, formalismo gramatical ou erudição balofa, mas com a finalidade de que as gerações futuras se lembrem que a “Ultima Flor do Lácio” foi língua vernácula nesta parte do mundo, conhecida, até bem pouco, pelo nome Brasil, com “s”.

“Preza aos céus seja essa “Gramática Mínima” útil aos brasileiros humanos, antes de ser o nosso idioma tragado pelo sincopado gutural do falar global dos androides tupiniquins” – destacou o autor. A advertência é pertinente no momento em que os frequentadores das redes sociais estão postando nossa língua portuguesa em códigos.

PINTOR E LIVROS 020

“Em Busca do Sol” é mais um romance de Esmeraldino Correia, nascido em Vitória da Conquista (BA), pós-graduado em Gestão de Pessoas e Estratégia em Segurança Pública, coronel da RR/PMBA e atual presidente da Academia Conquistense de Letras. O escritor, que tem no prelo outras obras, publicou em 2007 seu primeiro livro intitulado “Tempo, Sombras e Solidão”.

Numa mistura de sonho com a realidade, Esmeraldino tem uma escrita escorreita de fácil entendimento onde sempre coloca o comportamento humano como sua principal matéria-prima. Como autor, Esmeraldino ultrapassa as linhas do romance regional para ser universal como tantos outros de renome da literatura.

Aliás, não concordo com esta designação restrita de romancistas regionais, dada por certos estudiosos da literatura como se fosse um gênero menor do tipo “caipira”. No sentido mais amplo, toda linguagem, como a do nosso escritor em referência, é universal e abrangente.

Sobre a obra, a professora Terezinha Spínola enfatiza no prefácio que o livro,” de temática intimista e ao mesmo tempo realista, dá coesão à análise psicológica e à critica social, como que fazendo da literatura, como dizia Zola, “um documento humano”, isto é, uma aliança fecunda, doce e amarga, do sonho com a realidade”.

O escritor conquistense fala do eu profundo, dos dramas existenciais e da alma humana. O poeta Esechias Araújo Lima diz que “Em Busca do Sol” é um romance não linear, articulado, propositadamente, em espaços lacunares em que o alinhavo do enredo fica à mercê do leitor, requerendo deste maior grau de concentração.

No “Em Busca do Sol”, o leitor vai se extasiar com uma linguagem poética em capítulos curtos e dinâmicos, passando a fazer parte das narrativas. O autor tem este dom de também captar a alma do leitor para dentro da sua obra.

Os livros de Esmeraldino e Ubirajara foram lançados no auditório da Faculdade Fainor, com apoio ainda da Academia Conquistense de Letras. É mais uma prova de que Conquista está recheada de bons e dedicados escritores, pena que nossa literatura regional esteja esquecida há anos pelo poder público, daí a desilusão de muitos que decidiram abandonar por completo a arte de escrever.

Quem faz, de forma independente, sabe e conhece muito bem os caminhos espinhosos de tantos sacrifícios para publicar, divulgar e distribuir uma obra. Digo isso por experiência própria de luta na tarefa de escrever. O escritor é um teimoso inveterado que vive a mendigar de porta em porta por um apoio e reconhecimento. Poucos estendem as mãos e quase nada cai na cuia.