– Lugar de se lamentar e chorar é no pé do caboclo, lá no Campo Grande.

Costumava falar muito isso para uns colegas da Residência Universitária da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, e muitos ficavam sem entender o significado. O caboclo é o símbolo da resistência do índio e do negro nas lutas pela Independência da Bahia no Brasil, consolidada em Dois de Julho de 1823.

Esse caboclo e a cabocla se transformaram em folclore nessa história e, para muitos, são vistos como protetores e venerados. Muitos baianos fazem pedidos de graças e agradecimentos nesta data magna. Levam para eles suas lamúrias. Ao longo do tempo, outros personagens passaram a fazer parte desse folclore popular.

Quem sou eu para contestar os grandes historiadores que escreveram sobre o tema?  Existem até alguns que acham que a data da Independência do Brasil deveria ser transferida de Sete de Setembro de 1822 para o Dois de Julho de 1823, no que tenho minhas controvérsias. “Há controvérsia, professor” – como dizia um personagem da escolinha do grande humorista cearense Chico Anísio

O grito de “Independência ou Morte” por D. Pedro I foi antecedido de muitas rebeliões, revoltas, protestos e opressões da parte de Portugal. Portanto, não se pode levar essa atitude do imperador em chacotas e piadas como fazem os brasileiros, tampouco colocar a data do Dois de Julho no lugar do Sete de Setembro.

Outros estados como Pernambuco, Piauí e Maranhão também lutaram naquela mesma época para expulsar os portugueses do domínio de seus territórios. Entendo que existe muito bairrismo por parte da Bahia. Os estudiosos introduziram muito folclore na história verdadeira e vai se aceitando, sem comprovação fidedigna.

A independência do Brasil já tinha sido confirmada, só que uma parte dos portugueses, com apoio de Portugal, fincou pé em não reconhecer o ato. Mais cedo ou mais tarde eles teriam que ceder. Era uma questão de tempo. Caso não fossem expulsos, será que a Bahia hoje seria um território português dentro do Brasil? O Brasil voltaria a pertencer Portugal? Creio que não seria possível.

Fala-se muito das lutas dos baianos, instigados pelos senhores de engenho da cana de açúcar do Recôncavo, da participação dos negros e até dos índios, mas se esquece que D. Pedro I contratou o mercenário general Labatut para organizar as tropas que estavam desorganizadas.

O general Pedro Labatut foi um militar francês que liderou o Exército Pacificador, na Bahia. Nasceu em Cannes, em 1775 e participou das guerras napoleônicas antes de vir para o Brasil. Com toda sua experiência, comandou a resistência vitoriosa da independência.

Será que somente os baianos, sem a estratégia de guerra do general, conseguiriam sozinhos vencer os portugueses? Os heróis da terra tiveram sua grandeza na história, mas é preciso reconhecer que a entrada de Labatut foi decisiva para o ato final.

Quando falo da história para o folclore é que criaram muitos mitos, lendas e estórias dentro desta história que até mesmo historiadores de renome contestam e desaprovam.

Além do mais, atualmente o desfile comemorativo foi invadido por políticos que só aproveitam da data para fazer politicagens e demagogias eleitoreiras, terminando por profanar a nossa história.

O nosso povo, em sua maior parte sem muita instrução e conhecimento, se deixa influenciar por esse folclore e pouco sabe sobre os verdadeiros acontecimentos. Em geral, a população é usada para fazer o arrastão desses políticos oportunistas. Muitos não passam de inocentes úteis para essa corja.