Nos tempos do império romano, há mais de dois mil anos, os imperadores mandavam dar circo e pão para o povo quando surgiam as inquietações e até construíram o Coliseu, palco das lutas entre escravos gladiadores. No século XVIII, antes da Revolução Francesa, a rainha sugeriu que dessem brioche para os pedintes miseráveis.

No Brasil de hoje, basta o circo velho esfarrapado para a massa aplaudir e se contentar. Na Bahia, por exemplo, um dos estados mais pobres do país, com baixos índices de qualidade de vida humana, os governantes gastam milhões e até bilhões por ano com festas.

Todos ficam satisfeitos e nem estão mais aí para as corrupções, os malfeitos e os roubos. Vitória da Conquista, a nossa casa, é uma prova disso. As festas juninas, sem o nosso legítimo e tradicional forró foram lotadas no Parque de Exposições.

O argumento é que os festejos geram renda e emprego, quando, na verdade, servem para concentrar as riquezas nas mãos dos mais ricos. O pobre entra na onda e termina ficando mais pobre ainda.  Gasta o que deve e não deve, se tornando um endividado na espera das filas das negociações de dívidas.

Tem gente que deixa de pagar as contas de água e luz, carnê das escolhas dos filhos, boletos bancários, cartões de crédito e outras faturas para curtir quatro, cinco dias numa festa ouvindo músicas de cantores lixo, sem nenhum conteúdo.

Ninguém mais quer saber de letras que falam da vida, da nossa cultura, das raízes da nossa terra. Um exemplo disso foi o São João, e tudo só tende a piorar cada vez mais. Sempre digo que a mídia tem grande culpa por este triste cenário, pois incentiva as porcarias e ainda grita no microfone que é tudo de graça. Ela deixou de informar para desinformar. Não é mais formadora de opinião.

Até pouco tempo, construir estradas, pontes e viadutos dava muitos votos. Agora são as festas que se juntam aos feriadões e atravessam semanas, como em Salvador. Portanto, o circo, sem pão e dignidade, é uma fonte que rende votos para esses políticos que nem estão aí em educar o cidadão e tirá-lo das trevas da ignorância.

O brasileiro, de um modo geral, está hipnotizado, anestesiado e esqueceu os valores humanos, tanto que o pobre, o miserável, o negro, tanto discriminado e escravizado, a mulher, rejeitada pelos misóginos, abraçaram essa direita extremista que prega família, tradição e Deus disfarçados de fascismo.

É lamentável ver o que está acontecendo em nosso Brasil de hoje onde a grande maioria de jovens estão alienados nas redes sociais e acreditam em fake news, sem nenhuma conscientização política. Os intelectuais estão em silêncio e somente os burros falam, quando deveriam, por intuição, pelos menos, ficarem calados também.

Não somente a mídia, a esquerda também tem grande parcela de culpa nisso, porque assassinou o passado, esqueceu suas bases e preferiu o comodismo, ao invés, de se mobilizar e condenar essa patifaria. A verdade é que não temos perspectivas à vista no sentido de desmascarar e derrubar esse circo dos horrores.