Nas cidades grandes existem muitas cenas visíveis que se tornam invisíveis porque os olhos das correrias ficam cegos para o olhar mais apurado da coisa existencial. No entanto, as imagens que brotam das lentes poéticas nos fazem enxergar o invisível para muitos que passam e não observam. É o caso desse pôr-do-sol, das cabras pastando no final da tarde e o lixo dos humanos mal-educados na Avenida Sérgio Vieira de Mello, no Bairro Sobradinho, em Vitória da Conquista, que se localizada na boca do sertão, na saída para Anagé. Se pararmos um pouco e esquecermos os problemas da vida cotidiana por alguns instantes, vamos ouvir também o canto dos pássaros em algum lugar, como nas praças e avenidas arborizadas. Num semáforo ou numa árvore, você pode até descobrir um ninho de passarinho, uma casa de João de Barro e até uma coruja solitária na comieira de uma casa ou de um prédio. Basta uma pequena parada para uma reflexão dos sentidos numa rua ou banco e você vai escutar o silêncio do ronco dos motores e a agitação estressada do povo. Os gritos podem ser só sussurros.  O pôr-do-sol e as cabras celebrando suas últimas refeições do dia me fizeram lembrar o cenário roceiro do campo onde o sertanejo faz parte desse conjunto bucólico, menos o lixo que, infelizmente, é uma caraterística das cidades, sobretudo as de médio e grande porte. Nos centros urbanos, a grande maioria nem vê a lua cheia passar, muito menos o luar pratear o terreiro, o quintal e a serra. A poesia e a vida se perdem no progresso, e este é o preço que se paga pela corrida do ouro. Fico com o pôr-do-sol e as cabras. Rejeito o lixo que agride nosso meio ambiente.