É, meu amigo companheiro, a onda agora é chamar Vitória da Conquista de “Suíça Baiana”, nas propagandas da Prefeitura Municipal, inclusive nos noticiários da mídia. Caímos mesmo no ridículo! Até parece que não estamos no agreste nordestino.

Para muitos, infelizmente, aqui não é Nordeste! Botaram o nome de sudoeste quando o correto seria sudeste. Vitória da Conquista é outra coisa controversa. Se já é Vitória, para que essa de Conquista? Pois é, são polêmicas que sempre estão em rodas de conversa.

– Bem, já que é assim, para o visitante e turista, seja bem-vindo à nossa fria terra “Suíça Baiana” onde faltam médicos, medicamentos e outros produtos nos postos de saúde. Muitas unidades, principalmente na zona rural, são precárias, algumas fechadas e outras necessitando de urgentes reformas.

-Seja bem-vindo à “Suíça Baiana” onde escolas e creches não funcionam adequadamente. O transporte escolar é problema. Para as crianças e jovens com alguma deficiência não existem professores especializados para o acompanhamento individual. Vez ou outra, mestres entram em greve reivindicando melhorias.

– Seja bem-vindo à Suíça Baiana onde os equipamentos culturais, como o Teatro Carlos Jheovah, o Cine Madrigal e a Casa Glauber Rocha estão fechados há anos e o tempo se encarregando de destruir o que ainda resta. Os artistas estão sem espaços para realizar seus ensaios e espetáculos.

Não temos um Plano Municipal de Cultura que norteie as diretrizes de uma política para o setor que foi sepultada pela prefeita. O nosso Conselho Municipal de Cultura não atua a contento. O patrimônio histórico arquitetônico foi derrubado e alguns casarões carecem de manutenção.

O mais vergonhoso é que numa cidade de cerca de 400 mil habitantes, a terceira maior da Bahia, não existe um museu municipal que conte sua história, boa parte perdida. Os dois pequenos e acanhados museus, o Regional e o Padre Palmeiras, são da administração da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia -Uesb.

Seja bem-vindo à “Suíça Baiana” onde a prefeita cometeu o maior pecado e absurdo de terceirizar a tradicional festa junina, expulsando o nosso autêntico forró pé de serra, o arrasta-pé, para dar lugar ao axé, o arrocha, o sertanejo e outros ritmos de cantores de letras lixo, sem conteúdo.

O nosso sagrado São João cultural, com danças, fogueiras, bebidas e comidas típicas foi banido para dar espaço ao estilo elitizado carnavalesco com camarotes, muito barulho, zoeira e rebolados no palco de mulheres seminuas.

Os artistas e as bandas locais ficaram com as migalhas dos recursos. Os cachês dos carnavalescos Leu Santa, Ivete Sangalo e Wesley Safadão são de 400 a 500 mil reais e são pagos antecipadamente pelo povo. Os outros recebem depois de forma parcelada.

Seja bem-vindo à nossa “Suíça Baiana” onde o transporte público é deficitário, com ônibus velhos e que rodam superlotados. Os usuários sofrem nos pontos dos “buzús” com os atrasos. Não existe uma infraestrutura eficiente para atender a demanda da população que cresceu nos últimos 30 anos.

Seja bem-vindo à “Suíça Baiana” onde o abastecimento de água regularizado ainda é uma incerteza depois de anos de racionamento. O projeto de construção de uma nova barragem se arrasta há mais de 10 anos. Quando bate a seca, os habitantes ficam apreensivos diante da possibilidade de escassez de água.

 

É essa a nossa “Suíça Baiana” onde a temperatura mais baixa alcançada no ano fica em torno dos 8 a 10 graus. Sua altitude é de 900 a mil metros. Aqui não temos os Alpes gelados dos esquis, mas temos a Serra do Periperi que foi arrasada pela predadora e destruidora mão humana. O meio ambiente foi destruído.

Seja bem-vindo à nossa “Suíça Baiana” onde prevalece, como em todo Brasil, uma profunda desigualdade social e uma alta concentração de renda entre poucos. Nos semáforos, praças e avenidas, pedintes e crianças vendem balas para sobreviver.

É, meu amigo camarada, mas em nossa “Suíça Baiana” vamos ter praia com ondas em sofisticadas piscinas, somente para os ricos. Os pobres vão para a prainha de Anagé, do Rio Gavião, distante pouco mais de 50 quilômetros, em pleno agreste sertanejo.

Vamos ter a vantagem porque na “Suíça da Europa” não tem praia, só gelo.  Temos aqui uma feirinha livre no Bairro Brasil que é uma belezura de produtos da agricultura familiar e um mercado para comer um bode, um mocotó ou uma deliciosa buchada, que os suíços não têm por lá. Ganhamos na bagunça.