Todo mundo é praticamente unânime em dizer que fazer mudança é uma coisa horrível, cansativa e que causa inúmeros transtornos. Também concordo, e olha que em minha vida já fiz inúmeras, de perder a conta, pegando estrada de uma cidade para outra ou de casa em casa. Mesmo assim, nunca fiquei especialista nesse troço, sempre requer muito esforço e coragem.

Da roça para Piritiba, de lá para Mundo Novo, para Rui Barbosa, Itaberaba, Amargosa e Salvador, lá ia eu com minha mala de couro com os “panos da bunda”, como se diz no popular. A mais longa foi de Salvador para Vitória da Conquista, em 1991, e aí já tinha muito mais do que simples “panos de bunda”. A bagagem era bem maior e robusta.

Morei 23 anos em Salvador e cerca de 20 como inquilino. Todos os anos fazia uma mudança arrastão porque era expulso pelos moradores do prédio ou do condomínio por fazer muito barulho nos finais de semana com farras e som alto. Pagava um preço caro, mas merecia purgar pelos meus pecados.

Existem outros tipos de mudança, da física corporal à espiritual, e todas elas significam desafios, que podem ou não dar certo, mas, para saber disso, a pessoa tem que encarar e vivenciar. Desconfio que tenho um sangue cigano ou é um carma que me persegue. Em todas elas foi como se o tempo parasse e começasse outro novo.

Agora mesmo estamos, eu e minha esposa, fazendo uma nova mudança, do Bairro Felícia, na zona sul, para o Sobradinho, na zona oeste, e com muito mais bagagem. Em cada mudança, as coisas, os utensílios e bens vão aumentando, inclusive a idade que já está avançada.

Só em Conquista, esta é a sexta que eu faço e agora com um acervo cultural pesado de mais de seis mil itens entre livros, artesanatos, chapéus, aparelhos de som, DVDs, CDs, vinis, televisão, sofás, ferramentas, facas, mesas, recortes de jornais, revistas e outros materiais.

Talvez esta seja a mais marcante porque nestes quinze anos que se passaram aqui nesta casa realizamos o nosso Sarau A Estrada que se notabilizou nas noites fraternais de troca de conhecimento e saber através das cantorias, dos debates, das declamações de poesias, das contações de causos, do papo agradável e dos comes e bebes.

Formamos um grupo sólido e aqui fizemos história, cuja narrativa deve permanecer na outra casa. A mudança é como uma passagem de uma estação para outra e assim seguimos nossa jornada, construindo memórias. É um novo tempo, um novo ambiente, mas os propósitos são os mesmos. Vamos deixar de saudosismo! “Alegria, Alegria”, como na canção de Caetano Veloso.

Bem, já que estamos falando de mudanças e elas caminham por várias vertentes, confesso que, como toda gente, adoro viajar, mas detesto arrumar e desarrumar uma mala. Quando estou só, a mala ou a mochila vira uma bagunça só.

O que mais me incomoda numa viagem é carregar e descarregar, por isso é que costumo levar pouca coisa, principalmente quando se trata de um itinerante internacional. Ninguém gosta de descer num aeroporto e ficar esperando sua mudança aparecer numa esteira rolante. O pior é quando ela se perde e vai para outro destino.  Oxalá que esta nova mudança não tome outro destino.