A posologia do espírito

(Chico Ribeiro Neto)

Para o médium espírita Divaldo Franco, “é essencial estabelecer uma diferença entre enfermidades e obsessões”. Já o psiquiatra e professor Álvaro Rubim de Pinho observa que “na concepção do candomblé, a doença é considerada sobretudo como uma manifestação de infelicidade”. Publico hoje a terceira e última parte da matéria “Psiquiatria: a cura pelo candomblé”, que fiz para a revista “Manchete”, publicada no número 1.250, em 7 de março de 1976. Antigas matérias que continuam atuais.

Segue o texto:“O médium espírita Divaldo Franco, conhecido no Brasil e no exterior, diz que atende a cerca de 15 casos de doenças mentais por semana, no Centro Espírita Caminho da Redenção, situado no bairro da Calçada, em Salvador. Divaldo, segundo os especialistas, possui dons mediúnicos especiais e tem vários livros psicografados. Ele afirma que a média de curas de doenças mentais obtidas em seu centro oscila entre 80 a 85 por cento.

– É essencial – afirma Divaldo – estabelecer uma diferença entre enfermidades e obsessões, porque o que chamamos de obsessões são na realidade interferências de espíritos desencarnados. Os tipos de alienados portadores de obsessões quase nunca encontram cura junto ao psiquiatra. Há distúrbios nervosos que têm origem num problema espiritual. Nestes casos, o médium pode atingir a causa enquanto os médicos ficam apenas ao nível dos efeitos.

Divaldo Franco observa que jamais procura diminuir o respeito que o médico merece e, em geral, os pacientes que são encaminhados ao centro espírita já passaram antes pelo consultório do psiquiatra.

O psiquiatra Álvaro Rubim de Pinho não é por princípio hostil à simultaneidade do tratamento em certos casos de desequilíbrio. Ele observa que em quase todas as comunidades, o atendimento ao rito das religiões tradicionais pode ser um elemento de equilíbrio tanto na vida individual quanto na social. E recorda a eficácia de certas promessas, no catolicismo tradicional, para justificar a influência da crença em certos padrões de saúde mental.

– Existe uma medicina oficial – diz ele – que não exclui as formas da medicina popular cujos processos de tratamento podem muito bem revelar uma certa eficácia incontestável. A adoção das duas medicinas proporciona provavelmente maior segurança ao doente que, em muitos casos, é sobretudo uma pessoa que acredita piamente na orientação dos iniciados nos dois processos.

 

Rubim de Pinho esclarece ainda que, na concepção do candomblé, a doença é considerada sobretudo como uma manifestação de infelicidade. Para afastar essa infelicidade, é essencial obedecer aos tabus, cumprir as obrigações, comportar-se de acordo com os imperativos da moral da seita. Nada indica que a submissão a este tipo de crença seja incompatível com um bom tratamento médico.

E ele tem uma conclusão bastante interessante: “Pessoalmente, entendo que o psiquiatra jamais deverá abdicar do tratamento daqueles casos de doenças realmente bem caracterizadas. No que se refere às reações anormais, aos desvios de comportamento e mesmo a certas neuroses, não tomo a iniciativa de indicar o tratamento religioso, mas entendo-o e respeito, admitindo que, muitas vezes, pode ser útil”.

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)