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:: 27/jun/2024 . 23:43

CARYBÉ, O ESCULTOR DOS ORIXÁS (Final)

(Chico Ribeiro Neto)

Reproduzo hoje a terceira e última parte da minha entrevista com Carybé, publicada na revista “Manchete” de 26/07/1975.

Carybé conheceu a fundo “essa cidade sagrada da Bahia, onde se reúnem todos os orixás do mundo para dar mais verdade à civilização”.

Segue a matéria:

“Carybé confessa que se deixou influenciar bastante pelo desenhista alemão George Grosz, que criticava o mundo do pós-guerra, e pelos pintores Gauguin e Van Gogh. Mas não gosta de ser chamado de pintor, de desenhista, de escultor, nada disso.

“Na profissão, sou como as mulheres de certas nacionalidades: faço tudo”.

Como não se inclui numa categoria profissional única, não dá a menor bola para a crítica. E acha até que a crítica podia perfeitamente deixar de existir. Paradoxalmente, Carybé crítica a chamada arte de vanguarda:

“Você vai a uma bienal e vê certas coisas que deveriam estar num parque de diversões. Quando alguém faz um livro, sabe pelo menos que aquilo é um negócio para ser lido. Mas quando um sujeito empalha um porco para que serve isto? Uma coisa que se faz para destruir depois não pode ser coisa feita com amor. É apenas para balançar o coreto. Dizem que é para agredir. Mas para que agredir? Ocorre com a pintura de vanguarda o que ocorre com o tal do ‘som novo’. Fazer som…Se aparecesse uma cor nova chamada ‘zup’, por exemplo, seria esplêndido. Mas o espectro está aí mesmo, tremendamente definido. E rico.”

Realista e sensato, Carybé não tem preconceitos contra artistas novos que o procuram:

“O chato é chato em qualquer idade. Tem cada velho chato por aí. Mas também tem cada jovem. Quando você vê que o rapaz ou a moça tem lenha para queimar, aí é ótimo. Mas às vezes chegam por aqui umas mocinhas de família rica que, não sabendo que rumo tomar, resolvem dar para pintoras. Aí, já viu.”

Ogã da mãe de santo Senhora, já falecida, do candomblé do Axê Opô Afonjá, Carybé é de uma honestidade profissional absolutamente exemplar. Apesar de profundamente instruído nos mistérios do candomblé quando resolveu fazer o primeiro painel dos orixás (“porque não existia ainda em nenhum lugar uma iconografia completa dos santos do candomblé”), passou o tempo todo consultando Mãe Senhora, Mãe Menininha de Gantois, Olga do Alaketu e outras autoridades. Até então, só havia representações esculturais ou gráficas de entidades como Exu, Ogun, Iemanjá e poucas outras.

Carybé personalizou os 29 orixás do culto, pondo um carinho particular no seu protetor, que é Oxossi, deus da caça e da floresta. Tem prêmios de Buenos Aires, da Bienal de São Paulo, já ilustrou livros de Jorge Amado, Rubem Braga, Gabriel Garcia Marques, uma edição de alto luxo de “Macunaíma”, “As Mil e Uma Noites”, tem um painel na Galeria Torre Boston, em Buenos Aires (um painel de três andares), outro na Galeria Belgrano, também em Buenos Aires, e executou os dois grandes murais do Aeroporto Presidente Kennedy, em Nova Iorque, “coisa alegre, muito alegre, para tirar o nervosismo de quem vai pegar avião.”

Amigo íntimo de Jorge Amado, que vê praticamente todos os dias, Carybé nunca quis saber da Europa:

“Cidade grande, com vida intelectual nos cafés e botequins, não tem a força (axé) do altiplano da Bolívia e do Peru, nem a vitalidade profunda dessa cidade sagrada da Bahia, onde se reúnem todos os orixás do mundo para dar mais verdade à civilização.”

(Veja crônicas anteriores em leiamaisba.com.br)

 

 

 

 

 

 

TROCARAM O GONZAGÃO PELO SAFADÃO

O Nando do Cordel, menos mal, mas é um grande músico da MPB e compositor para outras ocasiões, como festas natalinas. Pior foi colocar Amado Batista para se apresentar no São João de Vitória da Conquista e, em alguns lugares, trocaram o forró autêntico do Gonzagão pelo lixo do Safadão, com sofrências e outros ritmos misturados. Tudo porcaria. Agora mesmo, na festa do São Pedro, o “Ita/Pedro”, de Itabuna, a prefeitura está anunciando, descaradamente, para o público, shows de pagode e sertanejo. Nas redes sociais, acompanhei muitas mensagens e vídeos de protesto contra o que as prefeituras estão fazendo com o nosso tradicional São João nordestino, destruindo a nossa cultura, para ganhar audiência com esses cantores de massa alienada. Os promotores das nossas festas juninas dizem que é disso que o povo gosta e aí injetam mais veneno, ao invés de contribuir para estimular e manter nossa tradição do forrobodó. Ouvi um vídeo clamando que acabaram com o São João de Caruaru, Arco Verde (Pernambuco) e Sergipe. Ainda se salva o de Campina Grande, na Paraíba. É verdade que teve bandas de forró pé de serra, mas, a maioria da terra que tocou nos palcos pequenos nos intervalos dos artistas contratados a peso de ouro, sem falar nos superfaturamentos e nos subornos por debaixo do pano. O Ministério Público e outros órgãos que controlam esse setor precisam acabar com essa pouca vergonha, principalmente em anos de eleições quando os prefeitos que mais “choram” falta de recursos para educação e a saúde, gastam os “tubos”. Nessa época aparece a bufunda, a grana.

CANÇÃO DA NOITE

Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Sou navegante solitário,

Interior de mim mesmo,

Da terra que me gerou,

Para viver nesse aquário,

Entre o ódio e o amor,

E nem todo mundo

É feliz aqui,

Do ir e do vir,

Nesse açoite

Da canção da noite.

 

A canção da noite,

Me transporta,

Para o vale silvestre,

Ao encontro do mestre.

 

Sou canção da noite,

Das criaturas noturnas,

Fantasma do conhecer,

Que me traz dor e sofrer.

 

Na canção da noite,

Sou fluxo e refluxo,

Morte que se arrasta,

Como ladra macabra,

Que se torna soberana,

Como sua espada tirana.

 

A canção da noite,

É sepulcro dos companheiros,

Que se foram cedo,

Levando nosso enredo.

 

É insondável

O que os olhos não penetram,

E me afogo,

No insaciável,

Da fonte que jorra,

Desejos amantes cantantes.

 

Na canção da noite,

Das estrelas cintilantes,

Vagalumes celestiais,

De luzes vagantes,

Que me indagam o porquê

Da existência do ser.

 

Ao cruzar as montanhas,

A canção da noite,

Me leva em suas entranhas

Para morar em seu luar,

Bem longe desse lugar.

 

 

 

 





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