Nova versão de autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Ah, Senhor Deus!

O açude secou,

Tudo ao sol se evaporou,

No lajedo o mandacaru,

Nessa imensidão do tempo,

Sem o sinal do vento,

Nem no agreste uma flor.

 

Ah, Senhor Deus!

Vou embora do Nordeste,

Deixar o meu sertão,

Com a benção da minha mãe,

Pra noutra terra ser peão,

Ser escravo dos capitais,

E vagar nas transversais.

 

Ah, Senhor Deus!

A dor doida corta o peito,

Como facada no lamento,

Ver esse feito da minha gente,

Partir como retirante,

De fome sem lavoura e alimento.

O rebanho e sem semente,

Sem nascer um rebento.

 

Ah, Senhor Deus!

Na grande cidade das esquinas,

Filhos soltos desgarrados,

Sinaleiras de meninos e meninas,

Vivendo de parcas esmolas,

Como alvo das chacinas,

Balas perdidas sem escolas,

Nas selvas de pedras infernais.

 

Ah, Senhor meu Deus!

Nos socorra se quiser,

Para um dia nós voltar,

Pra nossas roças plantar,

Fartura pra renovar a fé,

Sem nunca mais na vida,

Em terra de estranhos,

Viver a mendigar.