Poema de Jeremias Macário

Vi a magia dos faraós

conservar seus mortais,

com óleo de fino linho,

nas tubas de labirintos nós,

de seus imortais funerais.

 

Vi a mão divina de Deus,

descendo sobre as águas,

como luz rasgando o breu,

abrindo livre passagem,

para o seu povo Hebreu.

 

Vi no lenho da cruz,

um senhor a sangrar,

como o rei de Judá,

para salvar os homens,

e obedecer seu pai Alá.

 

Vi romanos no Coleseu,

com espadas a gladiar;

vi o deus Prometeu,

e a figura de Iemanjá,

nas profundezas do mar.

 

Vi e ouvi os pássaros,

cantando no meu quintal;

vi o gato nas telhas,

fazendo o miau, miau…

e o político cara-de-pau,

roubando nosso mingau.

 

Vi os poetas no sarau,

e jornalistas enchendo

as páginas de calhau;

e os periquitos famintos,

comendo meu milharal.

 

Vi os cafajestes de terno,

em pleno verão e inverno,

na pele de um lobo mau,

fazendo daqui um inferno,

como se tudo fosse eterno.

 

Vi soldadinhos de chumbo,

nos morros fazendo escambo,

nas praças todos marchando,

com caras pintadas de Rambo,

virando direita e esquerda,

na ordem do seu general.

 

Vi fotógrafos clicando,

para expor no varal,

e os carros velozes,

invadindo o sinal;

do além ouvi vozes,

do julgamento final.