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:: 11/nov/2019 . 21:55

O NATAL NUM PAÍS DESIGUAL

Carlos Albán González – jornalista

A desigualdade social no Brasil, uma das maiores do mundo, revela sua fisionomia em todos os dias do ano, mas é no período natalino que o abismo entre ricos e pobres se mostra tão profundo. Contraria o ensinamento do homenageado na noite de Natal, cristianizado há 2.000 anos, na parábola do mendigo Lázaro, segundo a qual, os privilegiados com bens materiais têm a obrigação de ajudar os mais necessitados.

“A opção por um liberalismo exacerbado e perverso, que desidrata o Estado quase ao ponto de eliminá-lo, ignorando as políticas sociais de vital importância para a maioria da população, favorece o aumento das desigualdades e a concentração de renda em níveis intoleráveis”, afirma a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em nota divulgada recentemente.

Em dois cenários distintos resumimos o quê podemos definir como desigualdade social:

Na alegre noite de Natal, os privilegiados, embriagados pelo uísque e champanhe importados, celebram, unicamente, as vitórias conquistadas no dia-a-dia daquele ano que está findando. Nem por um instante, o pensamento de um dos presentes se volta para Jesus Cristo, o aniversariante do dia.

No outro extremo das grandes cidades, nas favelas e palafitas, onde há sempre espaço para um singelo presépio, 13 milhões de desempregados, vivendo abaixo da linha da pobreza, desprovidos dos benefícios básicos ao ser humano, como saúde, saneamento, educação escolar, trabalho e lazer, cansaram de esperar pelo Papai Noel dos governantes.

No irrefutável artigo, que teria espaço nas páginas de “Opinião” da grande mídia, publicado neste blog, sob o título “No tempo da roda consumista e as tristes desigualdades sociais”, o colega e amigo Jeremias Macário expõe o desencanto das crianças pobres deste país neste “período festivo”, como assim se refere o comércio

Com a finalidade de aumentar suas vendas, o comércio promove sorteios, distribui brinquedinhos, e até apela para o ineditismo (ou seria hipocrisia), como fez um shopping de Salvador, contratando um Papai Noel afrodescendente, para ser abraçado, tirar fotos e ouvir os pedidos das crianças bem alimentadas.

Nas áreas das nossas metrópoles “administradas” pelo tráfico de drogas,  crianças, abandonadas pelo poder público exibem armas de fogo em vez de brinquedos inocentes.“Botei meu sapatinho/na janela do quintal/Papai Noel deixou/meu presente de Natal/seja rico ou seja pobre/ o Velhinho sempre vem”. Os versos da canção “Velhinho”, de autoria do poeta Octávio Babo Filho (1915-2003), são apenas uma lembrança para os mais velhos.

Quais as previsões, nos campos político e ideológico, que podem ser feitas para o brasileiro até o Natal? Contaminado pelos movimentos populares no Chile e na Bolívia, e com a oposição desperta pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem apontado sua metralhadora para todos os lados, principalmente para o Palácio do Planalto, subiu o sentimento de ódio entre lulistas e bolsonaristas. Oficial da Arma de Artilharia, Jair Bolsonaro já dispôs os seus canhões na linha de tiro.

Antes de começar a gozar os 60 dias de férias e de planejar as festas de fim de ano em Nova Iorque ou Paris, os ministros do STF concederam uma espécie de indulto de Natal para 1.500 condenados em segunda instância. Essa decisão veio aprofundar ainda mais a discórdia no seio das famílias, no ambiente de trabalho e nas escolas. Lula, José Dirceu e os que tiverem polpudas contas bancárias para contratar, a peso de ouro, os mais famosos escritórios de advocacia penal, gozarão de liberdade até o fim de suas vidas. O mesmo tratamento não terá o sentenciado que furtou um pacote de leite para atenuar a fome de sua família.

Eu não queria encerrar este texto sem fazer alusão a um fato, ocorrido nesta cidade, que passou despercebido, por falta de uma maior divulgação. Como estamos sendo governados por religiosos fundamentalistas, não me causou estranheza um pastor ser absolvido, há poucos dias, por um júri popular. O réu assassinou, a sangue frio, uma pastora, sob o argumento de que ela estava “roubando suas ovelhas”. Uma testemunha do crime também foi morta. O corpo de jurados deve ter sido formado por maioria evangélica.

 

 





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