:: 14/nov/2019 . 23:10
PEDALANDO EM FAMÍLIA
Esta foto é do grande fotógrafo José Silva, companheiro de muitas lidas na Sucursal do Jornal A Tarde, em Vitória da Conquista. Andamos muito por este sertão da Bahia e registramos muitos flagrantes. Este, como outros, na Avenida Juracy Magalhães me chamou a atenção, e é uma foto que deveria ser premiada nacionalmente. Bem, falei um pouco do autor, mas, e a foto? Como o próprio título já diz tudo, será que eles estão indo para algum aniversário? Para a igreja rezar? Fazer alguma visita aos parentes? Para a feira é que não vão. A foto é linda, mas a mãe está colocando os filhos e, ela mesma, em risco. Na verdade, todos são equilibristas da bicicleta e mereciam ser fotografados, mas só José Silva conseguiu esta façanha.
SERPENTES QUE NUNCA MORREM
Poema de autoria de Jeremias Macário
Palavras perseguem, desencantam, encantam;
grudam no canto do cérebro e martelam na melodia;
cantam em prosa e verso no compasso da filosofia.
Aparecem frescas na madrugada de borrões fortes;
roubam o espaço do amor com pincéis de sangue;
brotam como raízes exuberantes soltas em mangue,
no barco veloz das folhas, cortando como os serrotes.
Surgem como condes nobres, ou tabaréus lá do norte;
uma cambaleia em fome, balbucia como tísico pobre;
outra se reparte em fatias e monta o enredo do caixote.
São serpentes de dentes afiados, ou como mastodôntico;
podem ser centopéias, ou até mesmo um deus platônico,
que sempre querem indicar as veredas da nossa andança;
ferram nossa pele e nos trançam com a dor da lembrança.
Pedem mil perdões e aparecem na forma de um isotônico,
nos açoitam e nos transportam para um mundo catatônico;
por vezes nos faz bailar no salão de espelhos da real dança.
Chicoteiam nosso espírito, ora tranquilas, ora raivosas;
cheiram como as rosas, pela terra germinam e dormem;
duras como as rochas nas histórias de versos e de prosas;
as palavras são serpentes devastadoras que nunca morrem.
Em poemas de vários temas, nos filmes e nos teoremas,
viram feiticeiras e lendas como as pirâmides faraônicas;
são as românticas e as semânticas das línguas românicas.
Trovas tiradas tiranas da viola do repente do cantador;
no coco, nas emboladas como as trovoadas de sertão;
no cordel como fel, falando do Satanás e do Senhor;
as palavras revivem o cangaço do nordestino Lampião.
Nos folclores dos agrestes e nos causos dos coronéis,
que compram suas patentes e molestam suas meninas,
as palavras cospem brasas nos gatilhos das carabinas,
São como serpentes traiçoeiras das florestas escuras;
escondidas como sacis e disfarçadas de índio curupira;
são os escombros das guerras e as canções de ternuras;
são os eruditos, clássicos escritos e do humilde caipira.
Percorrem os séculos, impregnadas no ditado popular,
vagando de geração em geração em nossos pensamentos;
no politicamente correto caem bem no vernáculo vulgar.
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