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:: 6/jun/2017 . 22:33

A LAPA DA BELEZA E DA TRISTEZA

Por muito tempo o Rio São Francisco, o popular Velo Chico, que atravessa cinco estados do Nordeste, foi só alegria, fartura, abundância e muito prazer, com seus barcos e vapores deslizando no seu leito, pescadores com redes cheias de peixes, ribeirinhos tomando banho e dele tirando seus sustentos.

O tempo passou e o homem perverso, cruel e egoísta foi destruindo suas margens, suas matas, nascentes, afluentes e nada repôs para manter o Velho Chico exuberante, sadio e forte. Hoje ele está decadente, solitário, fraco e dá dor e tristeza ver seu semblante enrugado, doente numa enfermaria de UTI.

Foi com essa aparência macabra que, mais uma vez, vi o Velho Chico na semana passada em Bom Jesus da Lapa, cuja beleza da sua gruta contrasta com a feiura do rio, um anêmico que ainda está doando sangue, como diagnosticou o senador Otto Alencar.

É isso mesmo, todos os governos, desde Collor, simplesmente fecharam os olhos para a morte lenta e gradual do rio. De Juazeiro até o mar todos os afluentes morreram. A vazão do Logo do Sobradinho caiu de 700 para menos de 600 metros cúbicos por segundo. Fizeram uma transposição sem revitalização. A continuar assim, dentro de dez ou 20 anos o Velho Chico dará seus últimos suspiros.

Mais uma vez, o governo federal, através da Codevasf, divulgou, na semana passada, o Plano de Preservação e Recuperação de Nascentes da Bacia do São Francisco. Aliás, o plano foi lançado em dezembro do ano passado como projeto-piloto no município de Santana onde existem 33 nascentes. Agora, é mais uma vez esperar, já que os grandes afluentes Corrente e Rio Grande estão com suas mortes também previstas para pouco tempo.

Da tristeza para a beleza, a Gruta da Lapa que a visitei por várias vezes por dever do ofício jornalístico, continua linda de encher os olhos de romeiros e turistas. Confesso que desta vez, a passeio, vi a Gruta e a cidade por outro ângulo, caprichando nos detalhes, conforme as imagens captadas pela minha lente, inclusive lá do alto do cruzeiro depois escalar 322 metros íngremes de muitas pedras.

Sempre superlotada de romeiros e turistas do Brasil inteiro, desta vez vi a Lapa vazia e sonolenta, ainda muito carente de estrutura e organização, tanto do poder público como empresarial. Veio à minha mente a Lapa dos 300 anos de romarias, data que tive o privilégio de registrar nas páginas do jornal A Tarde como repórter.

Desta vez tive a honra e a graça de rever as grutas (Santa Luzia) praticamente sozinhas, na bela e prazerosa companhia da minha esposa que ficou encantada com a visita. A religiosidade e a fé ali são profundas, misteriosas e estão presentes nas promessas e nas imagens. Coube à construtora natureza fazer tudo perfeito durante milhões e bilhões de anos.

Fora a estrutura hoteleira, bares e restaurantes ainda deixam muito a deseja, principalmente em termos de higiene. Frequentei um desses restaurantes e confesso que fiquei horrorizado com o péssimo atendimento e as condições sanitárias, bem abaixo do nível. A coisa mais difícil, numa cidade às margens do rio, é encontrar uma comida de peixe, sinal da morte anunciada do Velho Chico.

As vias no centro continuam entupidas de ambulantes e vendedores de todas as partes. O trânsito é complicado em meio a pedestres, motos e bicicletas.  O mercado da cidade, cuja obra de três anos ainda não foi concluída, continua a funcionar num sujo barracão, sem a mínima estrutura. Bom Jesus da Lapa precisa de um visual mais decente em todos os aspectos, que seja à altura da beleza da Gruta do Bom Jesus.

 

AS TORRES NA PAISAGEM DO SERTÃO

De uma paisagem árida sertaneja de mata rala e baixa brotam do chão torres aerogeradoras de energia eólica, cortando os municípios de Caetité, Igaporã e Guanambi, lembrando os moinhos de vento de D. Quixote, de Miguel de Cervantes.

Quem passa de carro tem mais um visual para apreciar num horizonte a perder de vista bem além da Serra Geral. De Caetité para Igaporã, as torres eólicas cruzam a pista entre altos cortes abertos nas rochas de pedras como se fossem tuneis. Por ser estreita, sem acostamento, a estrada é muito perigosa e requer cuidado dos motoristas.

Depois de tanto tempo, somente agora o estado e o setor privado, principalmente, descobriram a abundante riqueza dos ventos no sertão do Nordeste, que podem ser aproveitados para produzir energia limpa como alternativa ao combustível fóssil e mesmo da derivada das usinas hidrelétricas que impactam o meio ambiente.

Com a complementação das linhas de transmissão da Chesf, que, infelizmente, demoraram de chegar (coisas do nosso Brasil atrasado), e  mais a implantação de outros projetos nas regiões de Morro de Chapéu e municípios do norte do estado (Juazeiro), a Bahia passa a ser o maior produtor de energia eólica do Brasil.

O certo é que os moinhos de vento estão avançando e cobrindo boa parte da paisagem do semiárido da Bahia, como aqui no sudoeste, com seu charme majestoso e imponente fruto da engenharia do homem. Suas hélices giram entre morros e serras ao sabor dos fortes ventos do sertão.

Guanambi – fotos Jeremias Macário

Do sol escaldante do sertão também brota a energia solar através de placas fotovoltaicas, como o maior parque do país que acaba de entrar em operação em Bom Jesus da Lapa, na Bahia, a terra das romarias. A área tem altos níveis de radiação solar, atendendo as necessidades do Brasil na geração de energia nova e limpa. O novo parque da Enel Brasil Participações tem capacidade para atender a demanda anual de mais de 166 mil lares brasileiros.

 

 





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