(Em homenagem ao Dia do Livro, em 23 de abril, num país que pouco se lê)

Diferente de Álvaro de Azevedo e Cassimiro de Abreu, mais adocicados e piegas, sua poesia alçou voos mais altos em direção às causas sociais, como a defesa da abolição da escravatura. Seu romantismo condoreiro da última fase era vigoroso, retumbante, indignado e expressava o épico social, com a função de denúncia, como em “O Século”. Em vida só publicou um livro.

Na análise critica de Marisa Lajolo e Samira Campedelli, em Literatura Comentada, da “Abril Educação”, seu lírico-amoroso é incisivo, passional, emotivo e sentimental, sem queixas e lamentações, como nos poemas “O Adeus de Teresa” e “Onde Estás”. Sua musa era Eugênia Câmara que lhe deu partida para a sensualidade.

Álvaro de Azevedo falou da morte, Goncalves Dias do índio e ele dos escravos, mas também sofreu influência do Byronismo quando aos dezessete anos escreveu “Mocidade e Morte”, ao sentir uma dor no peito. Valeu-se também da hipérbole, o exagero das imagens, em “Tragédia no Mar” e em “Navio Negreiro”.

Seus altos voos de condor grandiloquente (“Ode ao Dos de Julho”) estão inseridos na poesia do negro quando fez “A Canção do Africano” e “Vozes d´África”. Do grotesco ao sublime da sua poesia dramática, foi considerado o Victor Hugo Brasileiro. Sua obra condoreira foi voltada para a vida e para a liberdade. “Os Escravos” e “Hinos do Equador” fora suas maiores obras póstumas.

Contemporâneo de José de Alencar, Tobias Barreto e Machado de Assis, fundou com Rui Barbosa a Sociedade Abolicionista do Recife. Foi aluno de Ernesto Carneiro Ribeiro, na Bahia, e de José Bonifácio, em São Paulo. Em vida, publicou seu único livro “Espumas Flutuantes”, grande parte da obra escrita quando retornava de navio do Rio de Janeiro para a Bahia.

Bem, a esta altura todos sabem de quem estou falando. Só poderia ser do poeta maior Antônio Frederico de Castro Alves, para os mais íntimos, Cecéu, nascido em 14 de março de 1847, na fazenda Cabaceiras, município de Castro Alves, na Bahia.

De família coronelista e aristocrática, segundo filho de Antônio José (médico) e mãe Clélia Brasília da Silva Castro, o poeta se tornou um subversivo revolucionário contra as injustiças sociais.

Ainda criança, mudou-se para Salvador em 1854 onde se matriculou no Ginásio Baiano. Um dos seus colegas foi o renomado jurídico Rui Barbosa. Em 1862 foi para Recife preparar-se para entrar na Faculdade de Direito. Lá escreveu o poema “A Destruição de Jerusalém”. Talvez muito empolgado com as ideias abolicionistas tenha relaxado nos livros e foi reprovado em Geometria.

Foi nessa época que passou a colaborar com a imprensa através da produção de seus versos, os quais o poeta e crítico Manuel Bandeira os classificou de ruins. Viveu um tempo ao lado de Idalina, mas numa de suas saídas noturnas de boemia conhece Eugênia Câmara no Teatro Santa Isabel (Recife). Nesse período de 62 a 63 escreveu “Pesadelo”, “Meu Segredo”, “Cansaço”, “Noite de Amor”, “A Canção do Africano”, dentre outros poemas.

Sem televisão e outros tipos de entretenimentos, a opção era o teatro. Existiam até torcidas e brigas entre os estudantes pela preferência de peças e artistas. Numa dessas, Castro Alves rivalizou-se com Tobias Barreto na torcida entre Adelaide Amaral e Eugênia Câmara, no Recife. Foi assim que esta se tornou a maior musa do poeta.

Finalmente, em 1864 ingressa na Escola de Direito, mas foi reprovado. No outro ano leva a vida na flauta e foi ovacionado ao declamar o poema “O Século”. Com Eugênia aumenta sua produção poética e resolve fazer uma peça teatral, com cunho político para sua amada. Assim nasce “Gonzaga ou a Revolução de Minas” que trata da Inconfidência Mineira. No ano de 1866 em que criou com Rui Barbosa a Sociedade Abolicionista de Recife, morre seu pai.

A peça levou o poeta e Eugênia a São Paulo, mas antes, em 1867, deram uma parada em Salvador onde a temporada na capital foi marcada por escândalo e sucesso. Da Bahia foi para o Rio de Janeiro em 1868 onde conheceu José de Alencar e Machado de Assis que redigiu no “Correio Mercantil” um artigo sobre o poeta baiano. Só no final de março de 1868 chega a São Paulo onde os dois retomaram a vida boêmia dos salões e saraus.

Entre os dois, muitas brigas por causa de ciúmes, mas Castro Alves continuou fazendo suas poesias e na sua luta social, declamando em comícios, sacadas e palanques, exaltando a República  e condenando a escravidão. Em São Paulo, o poeta recomeça seus estudos de Direito, reencontra Rui Barbosa e tem José Bonifácio como professor. Com as brigas, termina seu romance com Eugênia Câmara.

Numa caçada no arrabalde do Brás, em São Paulo, Castro Alves é atingido em seu pé por um disparo acidental da sua espingarda. Diante das complicações foi para o Rio, em maio de 1869, para se tratar. Foi preciso amputar a perna no seu terço inferior.

A saúde já debilitada pela tuberculose piorou. Retorna à Bahia e na viagem de regresso escreve “Espumas Flutuantes” ao contemplar a esteira de espumas do navio. Ora em Salvador, ora numa fazenda de parentes, o poeta continua escrevendo, mas falece em 6 de julho de 1871, precocemente aos 24 anos.