Albán González – jornalista

“La mano de adiós” foi a manchete de capa da edição da última segunda-feira do diário esportivo argentino “Olé”,referindo-se, em tom de zombaria, à eliminação precoce da seleção brasileira da Copa América Centenário, com um gol irregular assinalado pelo atacante peruano Diaz. O jornal lembrou que, na semifinal do torneio continental de 1995, o Brasil desclassificou a Argentina com um gol de mão marcado por Túlio Maravilha. Deixou de mencionar o gol anulado do equatoriano Bolaños na partida de estreia dos brasileiros na Copa.

Enquete realizada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” revelou que a maioria dos consultados apontou Dunga como o principal responsável pelo declínio do futebol apresentado nos últimos anos pela seleção brasileira, uma queda iniciada após os 7 a 1 e os 4 a 0, aplicados, respectivamente, pela Alemanha e Holanda na Copa do Mundo de 2014.

Os leitores do diário paulista colocaram uma boa parte da culpa na administração da CBF, cujo presidente, Marco Polo del Nero, tem evitado atravessar as fronteiras do nosso país com receio de ir fazer companhia a José Maria Marín, preso num apartamento em Nova Iorque. Vigiado pela justiça norte-americana, Marín só tem direito a sair para ir a uma igreja católica se arrepender dos seus pecados.

Assim como dezenas de políticos arrolados pela Operação Lava-Jato, del Nero e toda a “cartolagem” do futebol brasileiro e do Comitê Olímpico Brasileiro (COI) se sentem protegidos pelo manto da impunidade.

Carlos Caetano Bledorn Verri, capitão do time campeão do mundo em 1994, ganhou de um tio o apelido de Dunga por causa de sua baixa estatura. No decorrer de sua vida como esportista, o gaúcho de Ijuí revelou um temperamento mais para Zangado, um dos sete anões, trabalhadores em uma mina, que davam proteção a Branca de Neve.

O produtor cinematográfico Walt Disney, autor do filme “Branca de Neve e os Sete Anões”, lançado em 1937, baseado num conto dos irmãos Grimm, definia Dunga, que era mudo, como um bobalhão. Volante duro na marcação, do tipo “brucutu”, o técnico demitido pela CBF encarava seus adversários de “cara fechada”. Seus contatos com a imprensa, obrigados por força da profissão, foram sempre desagradáveis, principalmente após as derrotas. Há quem diga que nunca o viu sorrir.

Após a desclassificação do Brasil da Copa América Centenário, Dunga (ou Zangado) nunca mais foi visto. Seu fiel escudeiro, o ex-goleiro Gilmar Rinaldi foi quem deu explicações aos jornalistas. Como se fosse um bando de mochileiros, de cabeça baixa, silenciosos, sem usar o uniforme da CBF, a delegação deixou o hotel em Boston rumo ao Brasil, para satisfação dos clubes que estão disputando o Brasileirão. O encontro com del Nero, na sede da entidade, que selou a demissão de Dunga e Gilmar, levou apenas meia hora.

Só uma voz saiu em defesa dos derrotados. Neymar interrompeu sua sessão de orgia, regada a champanhe, na piscina de um hotel luxuoso em Las Vegas, para dizer que é um sacrifício servir à seleção brasileira, e para qualificar de babacas aos críticos do time nacional. Neymar (pai e filho) estão respondendo na Espanha por crime de corrupção e sonegação de impostos.

A ida de Tite para o comando da seleção brasileira – seu trabalho vai se prender ao time que está disputando as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018, cabendo a Rogério Micale dirigir a equipe que vai participar dos Jogos Rio 2016 – abalou as relações entre o Corinthians e a CBF. O presidente do clube paulista, Roberto Andrade, manifestou publicamente sua revolta pelo fato de não ter sido procurado por del Nero antes do convite feito a Tite.