Dá-se o prato de comida e a esmola com uma mão e com a outra se tira a vergonha do cidadão através das roubalheiras e fraudes, como no caso específico da Petrobrás, criada com o dinheiro da luta sofrida do povo.

A coisa funciona como se fosse uma compensação justificável. Esse próprio povo que sempre viveu na miséria sob as bordoadas dos patrões quase nada entende da prática abominável e, então, passa a achar que o roubo é normal (rouba, mas faz).

Os dois prometem mais cotas e mais pão, engrossando a ignorância. O circo pega fogo e não se tem água para apagar o incêndio. Ninguém lá de cima quer mudar o perverso sistema político-eleitoral. É um silêncio geral, inclusive dos bons.

Cada um dá a sua beliscada no levar vantagem em tudo, e o voto é de interesse ou é classista, raramente ideológico. É como o caso do caminhoneiro que disse abertamente num bar que se a estrada estiver boa ele vota no candidato, não importando se ele rouba.

É um tumor maligno difícil de ser extirpado, crescendo cada vez mais nas entranhas dos indivíduos, tornando a mediocracia mais idolatrada que a meritocracia. É como uma droga que vai cada vez mais viciando o drogado.

As cotas nas universidades, no mercado de trabalho e em outros níveis funcionam como cobertores para esconder a burrocracia e acomodar os governantes em suas atividades à base do feijão com arroz.

Os “beneficiados” se sentem contentes e glorificam os “doadores dos bônus”. Enquanto isso, a Nação caminha lentamente e demora de se encaixar no rol dos países desenvolvidos.

Nos últimos dez anos do sistema de cotas, entraram na Universidade Federal da Bahia ( Ufba) 46.220 alunos. Desses, 26.780 são pretos, pardos e indígenas. Um pesquisador da própria instituição concluiu que existe uma diferença de 10% entre cotistas e não cotistas, quanto ao desempenho.

Na área de ciências exatas, segundo o próprio pesquisador, as notas dos cotistas são expressamente menores, não que eles sejam pessoas burras, mas vítimas despreparadas de um ensino deficitário. As cotas acomodam o governo. Quem está sendo discriminado?

Por sua vez, o programa Bolsa Família (falam em até 50 milhões de pessoas) foi transformado num laço eleitoreiro, mantendo este contingente no mesmo nível de pobreza. Aquele desejo de comprar o tênis ou o celular de 500 ou mil reais continua.

O bate-boca com mentiras, calúnias, denúncias de escândalos e pregações ao vento é avassalador no horário eleitoral, só que poucos entendem o que eles falam e berram, justamente porque a maioria tem um nível baixo de alfabetização.

Com as palavras de ordem e promessas de mudanças de um governo novo, erguem-se, freneticamente, as bandeiras de cada lado, enquanto a corrupção, como animal carnívoro que já convive conosco como bicho de estimação, enche sua pança e nunca se satisfaz da comilança. Os escândalos de roubo não abalam mais as candidaturas.

Sorrateiramente, sem que ninguém perceba, a extrema-direita que prega ditadura, família, tradição e pátria dá uma guinada em cada eleição com votações estupendas, e nada de reforma eleitoral. A esta altura, infelizmente, não tenho motivos para nutrir esperanças. Somos todos inocentes-úteis.