Carlos González – jornalista

A Copa do Mundo não conseguiu colocar um freio na queda de popularidade do futebol brasileiro. As novas arenas (Manaus, Brasília, Cuiabá e Natal) estão servindo de mando de campo para clubes do Rio e São Paulo, porque Flamengo, Fluminense, Corinthians e Botafogo não empolgam mais os torcedores locais. O registro de um público de 40 mil pessoas, recorde na nova Fonte Nova, no jogo Bahia x Flamengo, foi motivo de comentários da imprensa esportiva nacional.

Sem outras fontes de renda, pois até mesmo os seus jogadores de ponta estão sendo negociados para o exterior por empresários e bancos de investimentos, os clubes estão estendendo o chapéu à caridade pública, recorrendo aos torcedores mais abastados em busca de dinheiro para pagar os salários dos atletas e promovendo redução nos preços dos ingressos. A título de colaboração, a Arena Fonte Nova está vendendo duas latinhas de cerveja (a periguete) por cinco reais.

Em mais uma tentativa de empurrar o futebol para o fundo do poço, a justiça desportiva pune um clube simplesmente porque um torcedor jogou um copo plástico na pista, marcando jogos com portões fechados dos estádios, ou determinando a transferência de partidas para locais distantes.

“Uma vergonha, uma vergonha”, desabafou Emerson Sheik, do Botafogo, diante de uma câmera de TV, ao ser expulso de campo no jogo contra o Bahia, no Maracanã. O jogador manifestou a opinião de milhões de torcedores com relação à CBF. Para surpresa daqueles que conhecem os doutos juízes do STJD, Sheik foi absolvido, e ainda ganhou de presente uma odalisca, na pessoa da paniquete Nicole Bahls, uma conhecida amiga do pessoal da bola. O par passou uma breve lua de mel em Fortaleza.

Na Espanha, o ministro da Fazenda, Cristobal Montoro, está exigindo que os clubes paguem os 500 milhões de euros (cerca de 1,5 bilhões reais) que devem à Receita Federal. No Brasil, os clubes pressionam o Congresso a votar a Lei da Responsabilidade Fiscal, que lhes dá um prazo de 25 anos para saldar suas dívidas tributárias. Um dos maiores devedores, o Corinthians, está tentando “empinar papagaios bancários” para pagar uma dívida de 800 milhões, parte utilizada e parte desviada, na construção do Itaquerão. Por esse mesmo valor, duas cidades espanholas inauguraram este ano novas praças esportivas, com capacidade para 45 mil espectadores.

O rombo nas suas finanças não é exclusividade do Corinthians, que tem o ex-presidente Lula como padrinho forte. O nosso Vitória da Conquista acaba de ser desclassificado, logo na primeira fase, do Campeonato Brasileiro da série “D”, sem ganhar uma partida (cinco derrotas e três empates). Mais doloroso do que as derrotas foi o prejuízo que teve nos quatro jogos disputados em casa: quase 22 mil reais, independente de despesas com concentração, alimentação e viagens.

Abandonado pelos torcedores conquistenses e sem divulgação na mídia, o Vitória da Conquista, entre 19 de julho e 21 de setembro, levou apenas 1.539 torcedores aos seus quatro jogos, sendo 763 no primeiro e 43 no último. O quê será que está acontecendo neste momento ao “Bode”. Ausente da Copa do Nordeste – será substituído pelo Serrano, que trocou Vitória da Conquista por Teixeira de Freitas – o time alviverde só deverá voltar a campo em fevereiro de 2015, pelo Campeonato Baiano.

Enquanto isso, o empresário Neymar Santos Silva foi convocado esta semana pela Audiência Nacional, uma espécie de Receita Federal da Espanha, para depor no processo que apura delito fiscal na transação do seu filho para o Barcelona. Nas duas horas em que esteve diante do juiz Pablo Ruz papai Neymar declarou que sua empresa N&N tem negócios com o clube catalão, exportando jovens jogadores para a Espanha.

O Fisco espanhol está atento, assim como a Receita portuguesa com relação a Felipão, que trabalhou quatro anos em terras lusitanas. E o nosso “leão”? Será que está acompanhando essas movimentações financeiras, e os salários pagos a alguns “craques” do nosso futebol.

A imprensa está divulgando no momento que Luís Fabiano, pelo 14º cartão vermelho vestindo a camisa do São Paulo, foi multado em 30%, correspondente a 180 mil reais dos 600 mil que recebe mensalmente.

Essas são pequenas amostras das distorções no futebol brasileiro, que não chegam ao conhecimento dos torcedores. Por isso, recomendo a leitura do livro “O Lado Sujo do Futebol Brasileiro), escrito pelos jornalistas Amaury Ribeiro Jr., Leandro Cipoloni, Luiz Carlos Azenha e Tony Chastinet, com prefácio de Romário.