Foi um silêncio sepulcral da parte das autoridades do governo o caso estarrecedor do esquartejamento do jovem Geovane Mascarenhas de Santana, 23 anos, depois de ter sido detido por três policiais na Cidade Baixa, em Salvador. Definitivamente, a violência está banalizada e a impressão que se tem é que atos desse tipo são normais.

As câmaras flagraram as agressões praticadas pelos policiais, subtenente Cláudio Bonfim Borges, o comandante da Rondespe, Jailson Gomes de Oliveira e Jesimiel da Silva. O impressionante é que o pai da vítima, Jurandy Santana, depois de cuidar do enterro de Geovane, disse que não quer pedir punição pra ninguém. O quer pensar disso? Descrédito total na Justiça, ou só queria ficar livre do filho?

No Rio de Janeiro o pedreiro Amarildo foi torturado até a morte e, recentemente, mulheres no Jacarezinho (RJ) foram estupradas, sem contar a morte do dançarino. Na Bahia, o menino Maicon, em Vitória da Conquista (dezembro de 2012), e uma menina, em Amargosa, foram vítimas de ações desastradas de policiais.

São fatos mais visíveis aos nossos olhos que estão se tornando normais por conta de um sistema bruto e contaminado que já perdura por muitos e muitos anos, com promessas demagógicas de mudanças que nunca acontecem. O que mais nos choca é que boa parte da sociedade concorda com estes métodos bárbaros.

Não estou falando apenas da questão militar que é apenas um apêndice da estrutura anacrônica dos poderes executivo, judiciário e legislativo do Estado que viola a cada dia nossos direitos, despreza a opinião pública e subestima nossa inteligência.

É muito simples a mídia condenar de vândalos grupos de manifestantes que partem para agressões e quebra-quebra, sem fazer uma reflexão mais profunda desse sistema excludente que aí está escancarado como um câncer a corroer a sociedade como um todo.

Ai entra a minha pergunta do título: Quem Criou o Vandalismo? Quem criou o vandalismo foi o próprio sistema. As pessoas não nasceram inclinadas e predispostas à violência. A política ficou tão desacreditada que os bons quando entram nela são vistos no mesmo nível da banda suja. Então, de quem é a culpa? Do povo ou das regras que aí estão? É o caso do dito popular de que o feitiço quando é mal feito volta contra o feiticeiro.

 Li dia desses um articulista na imprensa se dizer horrorizado com o que viu nas redes sociais em referência à morte repentina do candidato a presidente da República, Eduardo Campos, quando internautas comentaram que era menos um a roubar que explodia. Sobre pichações em monumentos, destruições de propagandas eleitorais partidárias e em equipamentos públicos alguém apontou logo ser próprio de um povo sem educação.

É fácil detonar essa gente de simplesmente violentos, sem fazer uma análise do passado atrasado que se arrasta há longos anos, sem sinais de mudanças politicas e sociais para mudar o quadro que aí está. Se essa população não tem educação é porque o Estado tem sido negligente e tudo é feito em nome do poder para que o sistema se perpetue o mesmo de sempre, beneficiando as elites. É só olhar o esquema eleitoral imposto.

Só para citar alguns fatos mais recentes, um candidato a governador prometeu que se eleito vai criar o Batalhão de Operações Especiais, o temido Bope, para enfrentar o crime. Na ótica dele, violência se combate com mais violência. Não é mais preciso decretar por lei a pena de morte no Brasil. Ela já existe há muitos anos.  Mais uma vez a pergunta: Quem Criou o Vandalismo?

São os gestos egocêntricos e caolhos dos poderes constituídos que têm cada vez mais provocado a ira e a revolta no povo ao ponto de generalizar a violência e desumanizar a vida. Há pouco tempo, o novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski veio a público defender aumento nos salários dos juízes, alegando que 25 mil por mês é pouco. Só que ele deveria enxergar a realidade brasileira a partir de um mínimo de pouco mais de 700 reais.

Agora os magistrados estão paparicando Lewandowski (também pudera!), ao contrário do ex-ministro Joaquim Barbosa que criticava a existência de um conluio com foco de corrupção na categoria. O seu substituto argumentou que os juízes precisam de um salário digno para que possam exercer bem suas funções. Estamos cansados de ouvir isso. Não é o salário que vai fazer uma Justiça mais célere e menos corrupta. É o sistema montado que aí está que é a causa de todas as mazelas.

A candidata ao senado na Bahia, Eliana Calmon, anunciou na mídia que não vai mais fazer campanha eleitoral corpo a corpo porque se sentiu envergonhada com o que ouviu do povo numa feira em Salvador. Uma senhora se queixou que seu irmão estava morrendo por falta de atendimento hospitalar enquanto os políticos estavam nas ruas fazendo campanhas.

Só para fechar, a polícia que temos ainda segue o Regimento Disciplinar do Exército, um resquício da ditadura civil-militar onde o inimigo é o povo. Muitos já disseram que esta concepção precisa ser revista através da desmilitarização, mas nada muda porque não há disposição política.

Há 20 anos a dita esquerda batia firme em defesa da desmilitarização. Agora só se fala em militarização da polícia, com criação de batalhões, mais armas, mais equipamentos e mais homens fardados. A polícia é o tempo todo instruída para o combate e não para ser cidadã.