A notícia de que um jogo amistoso entre Real Madrid e Manchester United, sem os seus principais astros, realizado há poucos dias em Michigan, nos Estados Unidos, reuniu mais de 105 mil espectadores, causando inveja aos  dirigentes do futebol brasileiro. Após a vergonhosa derrota do time da CBF na Copa do Mundo, a média de público do Campeonato Brasileiro caiu para 15 mil torcedores, levando a Rede Globo, principal fonte de financiamento dos clubes da série “A”, a convocá-los para uma reunião, a fim de pedir explicações para o baixo nível técnico dos jogos, fato que tem provocado uma queda de audiência da emissora, nas tardes de domingos e nas noites de quartas-feiras.

A Globo mostrou aos “cartolas” que em 2013 foram injetados, em seus clubes, a título de direito de arena, 33% de tudo o que eles arrecadaram, superando bilheteria, patrocínios e venda de jogadores. Os que mais receberam: Flamengo, R$110,9 milhões, e Corinthians, R$102,5 milhões. A revelação dos números provocou protestos dos clubes de torcidas modestas.

Alicerçados num calendário bem elaborado, os clubes europeus, após o Mundial, passaram a jogar amistosos, principalmente nos Estados Unidos, onde o futebol já detém a 4ª posição em público nos estádios, alguns deles improvisados, ficando abaixo apenas de Alemanha, Inglaterra e Espanha – o Brasil é o 13º. Por aqui, o Brasileiro, nas quatro séries, foi retomado, com o torcedor saturado e os times praticando um futebolzinho medíocre, de passes laterais, sem um destaque individual, exceção feita a dois argentinos,  Conca, do Fluminense, e D’Alesandro, do Internacional. Ambos teriam vagas na seleção do seu país, vice-campeã do mundo.

Enquanto a bola rola pachorrenta nos gramados das arenas superfaturadas, com metade dos assentos vazios, os clubes tentam aprovar no Congresso, neste período pré-eleitoral, a Lei de Responsabilidade Fiscal, que concederá aos devedores um prazo, definido pelo governo, de 20 anos, para saldar seus compromissos financeiros. Como os deputados estão mais interessados em visitar os seus “currais”, em busca dos votos para a reeleição no dia 5 de outubro, dificilmente a lei será aprovada este ano.

Até lá, o choro dos endividados vai aumentar. O Corinthians deve mais de R$1,5 bilhão ao BNDES – será que a dívida não será perdoada por Lula, seu torcedor número um? -, dinheiro empregado na construção do Itaquerão; o Botafogo do Rio está com quatro meses de salários atrasados e, de acordo com a lei, seus jogadores estão livres para mudar de emprego; o Bahia, dono de uma das maiores torcidas do país, se viu, pela primeira vez, inferiorizado numericamente em seus domínios, na partida da última quarta-feira, contra o Corinthians, pela Copa Brasil, na Fonte Nova.

Depois de fazer um pequeno relato das agruras vividas pós-Copa pelos “animais” de grande porte do futebol brasileiro, vou dedicar algumas linhas ao nosso simpático “Bode”, representante de Vitória da Conquista no Campeonato Brasileiro da série “D”. Fundado em janeiro de 2005, o Esporte Clube Primeiros Passos de Vitória da Conquista nasceu com a proposta de levantar o futebol da região mais desenvolvida da Bahia, e sepultar os erros acumulados desde a década de 80, por Humaitá, Serrano e Conquista.

O CCPP conseguiu a proeza de ser inscrito na série “D” deste ano, ao lado dos campeões de São Paulo e Paraná, respectivamente, Ituano e Londrina. Acumulando pontos perdidos e dívidas, o representante conquistense manda seus jogos num estádio que não condiz com o progresso da cidade; é ignorado pelos meios de comunicação; e não tem a simpatia dos desportistas locais, que preferem trocar o verde-branco pelas cores dos clubes do Rio e São Paulo.

Com um ponto ganho em três jogos, o Vitória da Conquista é o último colocado em seu grupo, necessitando ganhar, pelo menos, quatro das cinco partidas que lhe faltam, para passar à segunda fase da competição. Os jogos são os seguintes: dia 17, em Caruaru (PE), contra o Porto; dia 30, no Lomantão, contra o time pernambucano; dia 7 de setembro, em Itabaiana (SE), contra o Confiança; dia 13, contra Globo (RN), no Lomantão; dia 21, em Ipatinga (MG), diante do Betim.

O presidente Ederlane Amorim viajou nesta quinta-feira para o Rio, a fim de participar das discussões em torno da Lei de Responsabilidade Fiscal. No primeiro jogo disputado em casa contra o Betim o CCPP arrecadou R$ 7.410,00, produto da venda de 763 ingressos, mas as despesas somaram R$ 9.749,59, incluindo R$ 350,00 de lanche do policiamento. O clube teve que desembolsar R$2.339,59. No segundo jogo diante do Confiança o desembolso foi maior – R$ 2.402,71. Líder de sua chave, a Jacuipense, de Riachão do Jacuípe, teve no seu único jogo em casa (Feira de Santana), um rombo de R$ 4.873,00.

A CBF, única instituição no contexto do futebol brasileiro que está nadando em dinheiro, acaba de divulgar o calendário de 2015. Se conseguirem driblar a crise até lá, Vitória da Conquista e Jacuipense só voltarão aos gramados em fevereiro.   O desemprego será uma dolorosa realidade para mais de 5.000 “profissionais” da bola.