CARNAVAL DAS DIVISÕES
A dicotomia entre preto e branco ficou bem escancarada no carnaval das divisões de classes de Salvador (carne nada vale). As castas são bem visíveis e separadas como as dos camarotes, blocos de trios e as do asfalto das pipocas pulando como nos fornos de micro-ondas.
Cada um dispara sua metralhadora (olha aí gente, o tra-tra-tra!) racista carregada de ódio e intolerância. Confesso que não consigo assimilar o comportamento fascista de certos movimentos negros quando dizem, textualmente, que, em relação ao branco (aqui incluído o moreno e o pardo), o preto pode praticar racismo porque não se trata de uma camada hegemônica.
Peguei alguns lances de uma entrevista do Vovô, do Ilê Aiyê, que considera não ser atitude racista o bloco negro que rejeita a entrada de branco no seu grupo, e justifica que é uma forma de firmar sua identidade, no sentido de manutenção de suas tradições culturais.
Ora, comunidade ou país nenhum cresce e se desenvolve na base do isolamento em guetos. Isso é pura segregação e fonte alimentadora da raiva entre cores de peles. Basta analisar os casos da Albânia e da Coréia do Norte!
Não me venham argumentar que os blocos de riquinhos fazem limpeza étnica, preferindo a beleza estética e, por isso, agem do mesmo jeito. Um erro não justifica outro em questão nenhuma
Outro absurdo é dizer que não aceita branco em suas agremiações porque o branco resiste em não ser comandado ou dirigido por um negro. Vovô declarou que só é racismo quando o branco decide não cadastrar o negro em seu bloco, mas se for o contrário, pode. Em minha opinião, se assim procedem, ambos são racistas e passíveis de punição.
“A CORTE DO CZAR VERMELHO” (PARTE I)
Li há pouco tempo o livro “A Corte do Czar Vermelho”, do escritor Simon Sebag Montefiore, e muitos relatos me fizeram lembrar o ex-presidente Lula e sua corte, a começar pelo ex-ministro José Dirceu, envolvida em negociações duvidosas, para não dizer apropriações indébitas no estilo rapinagens das grandes. A corte que morava no Kremlin recebeu a alcunha de “os magnatas”.
O Triplex de Guarujá (edifício Solaris) e o sítio Santa Bárbara em Atibaia, (São Paulo), investigados pelo Ministério Público Federal como bens de Lula através de “doações” da construtora OAS, lembram as datchas (eram dezenas) de Stálin e sua gente na época em que comandou a União Soviética, de 1924 a 1953. José Dirceu pode ser comparado ao ministro do exterior, Mólotov, que foi abandonado pelo líder russo no final de sua vida.
As relações podem até ser absurdas, principalmente em termos de nações e regimes diferenciados que levaram dezenas ao fuzilamento, mas tanto lá como aqui, muitos camaradas da corte foram presos. Bem, não vou fazer mais analogias, mesmo porque meu propósito é comentar algumas curiosidades da corte de Stálin, um mandatário que tinha sede de execuções, embora tenha sido um intelectual devorador de livros.
Para subir ao poder e derrubar Trotsky logo que Lênin faleceu em 21 de janeiro de1924 (infarto fatal), Stálin se aliou à direita de Rikov, Kamenev, Bukharin e Zinoviev e depois destruiu seus camaradas. Kamenev propôs que Stálin permanecesse como secretário, mas não imaginava que ele fosse ficar 30 anos no poder.
Simon Sebag, em dois livros, fez uma pesquisa minuciosa e cuidadosa sobre a vida do grande chefe, desde jovem até sua morte. As obras têm uma dinâmica acelerada, cheia de fatos inéditos, que faz o leitor não parar no meio do caminho. Conta que certa vez (início da década de 30) Stálin atravessava a rua ao lado de Mólotov quando um mendigo estendeu a mão pedindo uma esmola. O líder deu uma moeda, mas não satisfeito, o velho o chamou de capitalista usurário.
CARNAVAL CULTURAL DE CONQUISTA
Todos os anos neste período de carnaval, a cidade de Vitória da Conquista se transforma num feriadão com pouca gente nas ruas. Boa parte da população viaja para Ilhéus, Salvador e Rio de Contas na Chapada Diamantina. Para quem fica, a Prefeitura Municipal promove o carnaval cultural de três dias onde as famílias se divertem.
Neste ano, o evento foi realizado na praça conhecida como Pau da Bandeira no, centro da cidade, com a participação de cerca de duas a três mil pessoas por dia. A estrutura bem que atende a demanda, mas a folia começa sempre atrasada, por volta das 15 às 16 horas, deixando muita gente na espera da entrada das bandas.
Para quem tem condições de viajar e gosta de apreciar as batucadas do carnaval, a melhor pedida é Rio de Contas onde a festa é tradicional com desfile de mascarados e outras apresentações folclóricas da terra. De dia os visitantes vão às cachoeiras, rios e trilhas e, à noite, a curtição acontece na praça da antiga cadeia. É muito bom e tudo ocorre na maior tranquilidade.
Não se pode dizer o mesmo de Salvador, cujo o carnaval, agora de oito dias de disputa eleitoral entre ACM Neto e o governador Ruy Costa, foi descaracterizado pelo barulho ensurdecedor de trios elétricos com “música” de péssima qualidade. O que mais se destaca são as bundas das mulheres e os corpos sarados e marombados dos puxadores, com gritos e macaquices de “tira o pé do chão” e “sai do chão”.
Oh que saudades daqueles tempos quando, como repórter, cobria o carnaval nos anos 70 e 80 onde a participação era bem mais igualitária com músicas que tinham letras! Hoje existe a concorrência do pior, e a separação de classe entre o asfalto e os camarotes é bem mais visível.
Mesmo com crise e aperto fiscal, os governos municipal e estadual investiram quase 100 milhões de reais tirados dos cofres públicos para beneficiar uma minoria já enriquecida com a festa (cantores, donos de blocos e trios, camarotes, empresários da rede hoteleira e das agências de viagens). Os barraqueiros e ambulantes ficam com as migalhas.
O próprio Governo do Estado alardeia com orgulho que está investindo 69 milhões, enquanto afirma que não vai dar aumento para os servidores. O carnaval é o circo sem pão. Oh quanto paradoxo! Ao tentar imitar os ricos e os que têm maior poder aquisitivo, o pobre entra na gandaia e, ao término da festa, descobre que está mais pobre ainda. Vai de ônibus lotados e depois de um dia sofre para retornar para casa, com fome e sem dinheiro para pegar um taxi.
Os turistas de outros países acham que aqui é um paraíso de felicidade e não vê nenhuma crise econômica e política. Todos entram na farra e os governantes se esbaldam na disputa pelo voto. Quem faz mais festa leva a melhor.
Todos ficam contentes e realizados, porque, afinal de contas, todos merecem entrar na orgia insensata dos oito dias. O cantor Gilberto Gil pede um mês de carnaval e todos aplaudem. Enquanto isso, continuamos atolados na corrupção. Sem problemas!
Quem aponta as contradições e contrastes do nosso povo é visto como um fora do contexto que não sabe viver a vida como ela é. Pelo menos, com o circo superamos por oito dias nosso complexo de vira lata e somos o povo mais feliz do mundo. Somos a Roma antiga, só que lá era um império.
TRÊS SÉCULOS
Blog Refletor TAL-Televisión América Latina
http://refletor.tal.tv/ponto-de-vista/orlando-senna-tres-seculos
Indicação de Itamar Aguiar
Orlando Senna
Tenho a sensação e o espanto de que vivi os séculos 19 e 20 e estou vivendo este surpreendente e perigoso século 21. Essa suposta mágica do tempo não tem nada a ver com longevidade, com os mitos bíblicos de Matusalém e Noé (tenho apenas 75 anos), mas sim com circunstâncias históricas e geográficas. Na infância minha vida transcorreu em um mundo rural: em uma fazenda e em uma pequena cidade do interior baiano. As atividades da fazenda eram criatório de gado bovino e pequenas manufaturas. Não havia eletricidade, rádio, automóveis, nada dessas “modernidades” que já estavam em uso em outros lugares. A locomoção era feita em cavalos, carroças e carros de boi e o pensamento e comportamento se remetiam a 50 anos atrás. Era, em tudo e por tudo, uma extensão do século 19.
A pequena cidade, que tinha conhecido um esplendor econômico no passado com extração de diamantes, estava decadente, debilitada, sem rumo e sem futuro nas décadas 1940 e 1950 devido a uma severa diminuição das pedras preciosas em seu solo e subsolo. Uma comunidade isolada, esquecida pelo resto do mundo. Ou seja, parecia que também estava parada no tempo, com suas lembranças, suas saudades da monarquia e da escravidão, seus costumes ultrapassados, os tabus impedindo o desenvolvimento mental dos jovens, meu avô abismado com as garrafas de água mineral: “comprar água é o começo do fim do mundo”. Só parecia, pura aparência porque dois elementos básicos do século 20 já estavam presentes: eletricidade e cinema.
A eletricidade graças a um pequeno gerador movido a água, alimentado por um tanque, que fornecia luz elétrica para as ruas e metade das casas das seis da tarde às dez da noite, quando os rádios funcionavam. Luz amarela e fraca, luminosidade semelhante aos candeeiros domésticos. E o cinema graças à visão empreendedora de um empresário local, que também abriu outras salas de exibição nas cidades vizinhas, os filmes eram transportados entre elas em lombo de burro. E também havia uns poucos automóveis e caminhões, tão poucos que a criançada e os cachorros corriam gritando e latindo atrás deles quando algum aparecia. Entre as famílias de classe média a referência cultural era a França, mesmo depois da Segunda Guerra e com os filmes dos Estados Unidos sendo exibidos no cinema.
OS CONTRASTES DO RIO COM A CIDADE
Fora as belezas do rio São Francisco que desfila sereno e imponente quando recebe águas das chuvas como agora, exibindo suas correntezas e um pôr-do-sol sumindo nas curvas das paisagens, a cidade de Juazeiro, na qual estive visitando na semana passada, está abandonada com muito lixo nas ruas e pontos visíveis de criadouros do mosquito aedes aegypti.
Fiquei estarrecido com o que vi, principalmente se tratando de uma cidade turística por natureza e destaque como maior produtora de frutas do Vale do São Francisco. Por mais que a situação econômica esteja crítica, o poder público não pode deixar que estes contrastes entre cidade e o rio passem uma imagem negativa aos olhos dos moradores e visitantes.
Além do lixo e sujeira da principal avenida da orla que abriga bares, restaurantes e lojas, o que mais me chamou a atenção foi a Praça da Matriz onde um chafariz abandonado tem muita água empoçada, fonte mais que ideal para a proliferação do mosquito que tomou conta do Brasil, mais por negligência e incompetência dos governos do que culpa dos brasileiros.
A primeira impressão que se tem é que a praça foi entregue à própria sorte por falta de manutenção. Cachorros e outros animais perambulam na área enquanto moradores de rua dormem debaixo dos bancos. Com pouca iluminação, a praça se tornou passagem perigosa quando escurece. Fui logo avisado que tivesse cuidado à noite porque ali são registrados furtos e até assaltos.
No local, crianças e adolescentes aproveitam para fumar cigarros e maconha entre umas barraquinhas feiosas que ficam abertas até a madrugada e, muitas vezes, por 24 horas. Um porteiro de um hotel disse que a policia passa e faz de conta que nada vê. Será que também o prefeito Isaac Carvalho, do PC do B, também nada sabe?
Pelo centro da cidade que tanto curti em tempos passados com amigos em memoráveis farras, fotografei vários pontos de esgotos a céu aberto com mau cheiro insuportável, locais apropriados para mosquitos, moscas e muriçocas que tomam conta da cidade.
O lado da Bahia é assim horrível com sujeiras e buraqueiras nas ruas, como a deplorável saída que dá acesso a Sobradinho, mas é só atravessar a ponte Getúlio Vargas e você cai em Petrolina (PE), uma cidade limpa, bem estruturada e aprazível. Não é sem motivo que muitos, em forma de deboche e crítica, apelidaram Juazeiro de “Isaquistão” e Petrolina de Bruxelas brasileira.
Esse contraste entre o desarrumado (Juazeiro) e a arrumada (Petrolina) sempre existiu. O visitante sente logo esta diferença no meio da ponte. A parte pernambucana é larga e a baiana é estreita com entradas apertadas de paredões de concreto para se chegar ao centro.
O único quesito que Juazeiro consegue ser mais atrativo que Petrolina é quando se trata de festa e muito barulho. Tem também o rio do lado baiano que oferece muitas opções de lazer, como passeios agradáveis de caíques e, como já comentei, o pôr-do-sol.
Naveguei num deles até a Ilha do Fogo e outros locais como em volta da ponte e adorei as paisagens, mas as margens do Velho Chico continuam sujas e degradadas, mesmo com o maior volume de água que recebeu das chuvas de janeiro. Lamentável é que com as novas águas, por muito tempo vão deixar de falar em revitalização do rio. Sem gestão e planejamento, quase tudo neste país fica a depender de Deus e São Pedro.
A INDÚSTRIA DO CARNAVAL
| Albán González – jornalistaUma indústria bem administrada, alimentada por empresários, cervejarias, instituições financeiras, políticos, poder público, artistas, compositores e, naturalmente, carnavalescos, descobriu no começo dos anos 90, com a criação do circuito Dodô (Barra-Ondina), que poderia ganhar muito dinheiro com o que eles chamam de “maior festa do planeta”. E pensaram em oferecer, não somente no período dedicado a Momo, mas em todos os 365 dias do ano, um show mambembe, com música de péssima qualidade e apelativa, a uma minoria da população de Salvador e a grupos de turistas mochileiros.
Não há um só dia em Salvador, a cidade mais festeira do Brasil, que não haja uma apresentação de shows, que levam os mais variados nomes, como ensaios, saraus, bênçãos, bailes, marchas com Jesus e desfiles de segmentos da sociedade que se acham discriminados. Com exceção dos artistas que já estão na estrada há muito tempo, diariamente surge uma nova banda de axé, pagode, falso sertanejo ou funk, lançando no cenário musical dezenas de carreiristas. Alguns deles, envolvidos com drogas, têm sido impedidos pelos órgãos de fiscalização do cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, de se apresentarem em festinhas infantis. O que não falta é patrocínio para manter de pé a lona do “circo”. Se o apoio vem do campo empresarial, o cidadão que zela pela cultura desta terra só tem a lamentar. Mas, quando a ajuda vem de órgãos e empresas públicos, como estamos assistindo nos festejos momescos de um ano eleitoral, o sentimento é de revolta. Por que blocos, vocalistas, trios elétricos e camarotes têm que ser subvencionadas por instituições governamentais? Há poucos dias, o médico Djalma Duarte divulgou nas redes sociais carta aberta ao governador baiano Ruy Costa, condenando o descaso com o Hospital Geral do Estado, onde há falta de profissionais e de equipamentos cirúrgicos, mostrando que os R$ 840 mil que serão pagos pelo governo aos cantores Bel Marques e Ivete Sangalo, nas apresentações para os foliões “pipocas”, dariam para contratar um plantonista por 20 anos. O dr. Costa desabafou depois de ter dado um plantão de 12 horas no HGE, ao lado de um colega e de seis enfermeiros, cuidando de dezenas de pacientes entre a vida e a morte, enquanto políticos em véspera de eleições e foliões desfilavam na Lavagem do Bonfim. Esta semana os jornais noticiaram que a prefeitura de Salvador gastará R$ 15 milhões com o Carnaval, independente do patrocínio de uma cervejaria e de um banco; que a Caixa Econômica Federal distribuirá R$ 900 mil entre os blocos Ilê Aiyê, Filhos de Gandhi e Timbalada. No meu tempo de folião – não se trata de saudosismo – as entidades carnavalescas se mantinham com as mensalidades dos seus sócios – “Os Internacionais” chegou a ter uma sede própria na Mouraria, aberta durante todo o ano, – e disputava com “Os Corujas” uma espécie de Ba-VI no circuito Campo Grande – Praça da Sé. Como escrevi acima, o surgimento dos negociantes de abadás e dos proprietários de camarotes , os autênticos foliões rasgaram suas fantasias. A propósito, por anda Rubens Carvalho, o Rubinho dos Carnavais, fundador, com outros jovens do bairro de Santo Antônio Além do Carmo, dos blocos “Fantasmas”, “Os Internacionais” e “Os Corujas”,pioneiros do verdadeiro carnaval de rua baiano.Estou tomando conhecimento da volta dos blocos de rua no Rio e São Paulo, sem cordas, sem violência nem vandalismo, onde se brinca “com dinheiro ou sem dinheiro”, entoando marchinhas do passado. Creio que é mais uma preocupação para os donos da festa baiana, que este ano lamentam a queda nas vendas de abadás e ingressos para os camarotes, dos aluguéis de apartamentos e das reservas em hotéis. No mais, sugiro a quem vai ficar diante da televisão, assistir a passagem da Mangueira na Sapucaí, apresentando o tema “Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá”
|
A ECLUSA QUE NÃO FUNCIONA
Agora que o rio São Francisco está mais encorpado com as águas que caíram em janeiro em toda Bahia e Minas Gerais, é muito prazeroso fazer um tour de barco de Juazeiro até a Barragem do Sobradinho, curtindo as belas paisagens. Mas, o turista não sabe é da raiva que vai passar até alcançar o maior lago artificial da América Latina que com seca reduziu sua capacidade para menos de 10%, com vazão de 800 metros por segundo.
Ao passar na primeira eclusa que se fecha aos poucos enquanto a barragem solta água para que haja um nivelamento, o guia turístico anuncia com estardalhaço para que todos do barco fiquem atentos para o grande feito da engenharia quando em dez minutos se dará o processo de transporte de um lado para o outro.
Acontece que a segunda eclusa, que deveria baixar para a passagem do barco, emperra e as pessoas ficam presas no vão por mais de uma hora (até quando deixei o local) na espera do prometido. Não suportei ver a agonia, no último domingo (dia 31/01), de um único funcionário da Chesf andando de um lado para o outro entre as máquinas, tentando baixar a eclusa.
O empregado, naquele calor do sertão, coçava a cabeça, colocava a mão para aparar o sol, e só dizia que “o negócio tava russo”. Acionava botão ali e acolá e nada funcionava. Alguns comentavam que se fosse na Rússia o problema já teria sido resolvido. De lá de cima da barragem só via o barco apertado no paredão de concreto. O que ainda acalmava os turistas ansiosos era o som do samba e do pagode. Imaginei minha irritação ali dentro, ou o caso de uma pessoa (criança ou idosa) passando mal sem poder ser socorrida.
Também queria ver a eclusa baixar e os barcos (outro já estava preparado para descer o rio) se cruzarem para tirar uma bela foto. Do lado de cá não suportei a espera e segui minha viagem de passeio sem saber o resultado, pensando comigo: Isto é a cara do nosso belo Brasil.
Antes disso, porém, dei um dedo de prosa com seu Valdemar que vendia coco gelado do outro lado e tinha antes me orientado como me posicionar para tirar belas fotos. Ele começou a dizer que aquele problema era constante, quando um amigo lhe avisou que eu era jornalista e era bom não falar muito.
Foi aí que ele abriu o verbo e contou que já havia trabalhado por 30 anos na Chesf, comparando aqueles tempos com os de hoje em decadência. Contou que no meado de janeiro a embaixadora da Venezuela ficou presa por horas no mesmo lugar na espera que a eclusa baixasse para que o barco avançasse lago adentro. Os representantes brasileiros devem ter pedido desculpas à embaixadora e dito que o problema aconteceu pela primeira vez, mas seu Valdemar confirmou que é sempre assim.
Outro fato que me chamou a atenção como visitante foi quando soube que por ali havia passado o engenheiro chefe do setor e foi embora para seu domingo de lazer, sem dar a mínima para a aflição do funcionário que continuava tentando baixar a eclusa, sem sucesso. Segundo seu Valdemar, ele apenas olhou, e referindo-se à Chesf disse: “Não é assim que eles querem”?
Ao embarcarem em Juazeiro para a viagem até a Barragem do Sobradinho, os turistas são comunicados do tempo de ida e volta, com previsão de retorno, mas não sabem que a eclusa sempre está com defeito. Simplesmente são iludidos com a propaganda enganosa. É por estas e outras que o turismo na Bahia só faz cair cada vez mais.
Entre uma conversa e outra, seu Valdemar, que todos os dias está ali vendendo seu coco e acompanha tudo de perto, adiantou ainda que, por questão de doença, o funcionário que estava tentando baixar a eclusa nem podia estar trabalhando naquela função. Nem ele entende o que está se passando com a Chesf.
APROVEITADORES E IMBECIS
Vivemos numa sociedade de idiotas, imbecis e de aproveitadores onde o levar vantagem em tudo se tornou máxima cultural. Engana quem pensa que a corrupção só está entre os políticos cafajestes que assaltam diariamente o erário e viram as costas para a população.
Nas ruas, principalmente nas metrópoles, a astúcia dos “sabichões” e a falta de respeito para com os outros estão escancaradas nos furadores de filas, nos motoristas panacas de miolo mole que estacionam em lugares errados, cortam e costuram o trânsito e no sujeito ou sujeita que joga o lixo nos passeios e em locais inapropriados.
Os aproveitadores da liberdade do seu “semelhante” estão por toda parte como pragas do Egito, e a grande maioria se diz, hipocritamente, religiosa. Mesmo de forma ilícita, quando conseguem algo como tirar um documento ou se livrar de um processo na base da propina, eles sempre agradecem a Deus por estar “presente” em suas vidas. Até quando roubam, os “mocinhos” fazem orações e se acham vencedores eleitos pelo Divino.
Nas estradas eles avançam nos acostamentos quando existem paradas de serviços da empresa concessionária (o absurdo e a violência dos pedágios). Ultrapassam em locais indevidos e jogam plásticos e cocos no asfalto. São estes que em rodas de amigos nas praias, bares e restaurantes esculhambam com os políticos ladrões e aproveitadores da ignorância e da indolência do povo brasileiro.
Não dá muito para distinguir o imbecil do aproveitador, mas tem uma categoria que subjuga e escraviza a outra. Esta sociedade de idiotas é muito imitadora das culturas capitalistas mais desenvolvidas economicamente.
Nisto os brasileiros são exímios seguidores (papagaios) e agem como manadas. No Brasil colônia importava-se todos os costumes e hábitos da França e da Inglaterra. A partir do século XX, os norte-americanos passaram a ditar suas imbecilidades consumistas.
PONTO DE VISTA “AESTRADA”
20 ANOS DE ATRASO
Em água encanada e tratamento de esgoto, o Brasil está atrasado 20 anos. Aqui ainda se morre de cólera, diarreia e infestação por parasitas. Todas estas doenças acarretam gastos para a Previdência Social e com tratamentos de saúde da população desamparada desses benefícios que deveriam ser direitos dos brasileiros. Os dados da Confederação Nacional da Indústria indicam ainda que as regiões Norte e Nordeste são as mais afetadas.
TRANSPOR
Em 1875 esteve no Brasil o explorador inglês James Wells, convidado do governo brasileiro, para analisar a união entre as bacias do rio Tocantins com o rio São Francisco. Isto significa que desde o século XIX a intenção mais que acertada era transpor as águas do Tocantins para o Velho Chico que está agonizando. O engenheiro Vasco Neto também teve a mesma ideia, mas os gananciosos preferiram a transposição do Velho Chico para os estados nordestinos. Se as obras tivessem sido concluídas, o rio hoje estaria seco. É, mas agora com as chuvas, o São Francisco vai ser reanimado até vir outra temporada de seca. Aí, os governantes esquecem tudo e voltam a apelar para a “misericórdia” de São Pedro.
AUDITORIA
Nesta semana estava lendo comentários de estudiosos no assunto sobre a necessidade de se fazer uma auditoria na dívida pública brasileira (2,8 trilhões de reais), recursos valiosos extraídos do povo para alimentar o obeso sistema financeiro, o setor que mais lucra com a nossa desgraça, principalmente em tempos de crise. Eles citaram, inclusive, uma auditora da Receita Federal, especialista na área e que já fez auditorias nas dívidas da Grécia e do Equador. De acordo com ela, todo esquema visa escoar dinheiro do orçamento para uma elite bancária. Enquanto isso, existem por aí muitos banqueiros ladrões soltos. A ideia, em forma de projeto, foi apresentada pelo PSOL, mas a presidente Dilma vetou.
BUROCRACIA
Desde 1988, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, foram editados 5,2 milhões de decretos, leis e portarias. Tudo isto significa 750 normas por dia. Gasta-se por ano, com a Justiça, 1,8% do PIB (Produto Interno Brasileiro), o maior custo burocrático do mundo. Quem mais sofrem são as empresas de menor porte e todos os cidadãos brasileiros.
MALDIÇÃO ZAP-ZAP
Ninguém mais olha “olho no olho”, nem um aperto de mão e nem muito menos um abraço caloroso como antes. É a maldição chamada Zap-zap (WhatsApp) que afastou as pessoas do convívio humano. Pelo menos não faço parte dessa praga que, cada vez mais, desumaniza. Por favor, não me venham com pedidos para acessar a rede porque não sou peixe e ainda me restam uns neurônios para pensar. Até no banheiro, na hora das necessidades fisiológicas “nego” está lá no Zap-zap. Por causa dele muita gente se bate nas ruas, tropeça nas calçadas e bebe até creolina nos bares e restaurantes onde não mais se conversa. Essa gente já se comunica através de sinais como os primitivos. Logo mais as crianças vão nascer com dedos automáticos.
LÁ SE VÃO OS ANÉIS E OS DEDOS!
Os ladrões dividiram a Petrobrás entre si e agora, cinicamente, querem vender o resto de seus ativos. Quem diria! Logo o PT que tanto malhou seus adversários políticos de que eles iriam privatizar a estatal! Estão no olho do furacão a Brasquem (petroquímica), a BR Distribuidora e agora a Transpetro, subsidiária de transporte de petróleo que opera uma frota de 54 navios e a malha brasileira de dutos e terminais. Os sindicatos e as centrais dos trabalhadores pouco se manifestam sobre o assunto. Cooptados, nada de barulho contra o governo. Os trabalhadores que se danem! Lá se vão os anéis e os dedos!
LÁ SE VAI A PETROBRÁS!
Nas campanhas eleitorais de 2006, 2010 e 2014, de Lula e de Dilma, o PT apontou o dedo por várias vezes para seus adversários políticos de que se eles ganhassem as eleições iriam privatizar a estatal Petrobrás, a menina dos olhos de todos os governos desde Getúlio Vargas, menos do povo.
Os anos se passaram e a Petrobrás, construída com suor e lágrimas pelos brasileiros, foi dilapidada e roubada para manter um poder político. Agora, para reconstruir este valioso patrimônio nacional, a empresa está aos poucos torrando seus ativos no mercado na forma de uma lenta e dolorosa privatização. Não parece uma ironia!
Do ano passado para cá, a mídia vem anunciando uma provável venda da BR Distribuidora que até há pouco tempo tinha como “dono” o ex-presidente Fernando Collor de Mello que se tornou o mandachuva a troco da sua coligação com o próprio PT. Durma com um barulho deste!
Nesta semana, a imprensa traz extensa matéria onde destaca a determinação da Petrobrás em vender sua fatia de 36% (R$5,4 bilhões) da petroquímica Braskem para fazer caixa. A candidata natural na transação seria a Odebrecht que tem 38% das ações, mas está toda enrolada com as denúncias da Operação Lava Jato.
Isto aconteceu um dia após a estatal anunciar cortes de R$32 bilhões nos seus investimentos nos próximos três anos. De pedaço em pedaço, lá se vai a Petrobrás. Cooptados pelo governo, os sindicatos e as centrais sindicais dos trabalhadores praticamente ficam calados. Cadê os bilhões das refinarias do Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e Maranhão, cujas obras estão inacabadas? Quem são os responsáveis?
























