4 DE NOVEMBRO: 48 ANOS DO ASSASSINATO DE CARLOS MARIGHELLA
Por Alexandre Aguiar
Ao contrário do que muitos dizem sobre a vida e obra de Marighella, no meu entendimento, penso que a principal contribuição do baiano seja “Considerações sobre a renda da terra!” em 1958, ele cultivou a paz, mas desde a primeira até a última prisão sofrida, por motivos políticos, ele foi obrigado a ir para a clandestinidade e para a luta armada em razão da supressão dos direitos fundamentais, da liberdade e da própria opressão, que na época de Marighella se traduzia e ainda hoje se traduz na chamada violência de Estado no Brasil.
Marighella foi preso a primeira vez pelo interventor Juracy Magalhães, na Bahia, em razão de ter feito uma poesia. Depois foi preso por tentar organizar partidos e movimentos sociais nos anos 30, sendo que a certa altura foi encarcerado e levado para a prisão da Ilha de Fernando de Noronha, onde após anos de cárcere, com o fim da Ditadura do Estado Novo, foi anistiado.
Uma vez candidato a Deputado Federal pela Bahia, foi eleito através do voto popular pelo PCB – antigo partidão, ao lado de Fernando Santana e Jorge Amado, estes três parlamentares baianos foram decisivos no Congresso Nacional, para aprovação do texto da Constituição de 1946, na sequência em 1947, foi mais uma vez suprimido direitos políticos de Marighella com a cassação da legenda do Partido Comunista, tendo os comunistas sido perseguidos e levados à clandestinidade do final da década 40 até um pouco adiante da metade dos anos 1950.
Restaurada a democracia, no Governo João Goulart abrandou-se as distensões contra Marighella, porém com o início da Ditadura Civil-Militar de 1964, salvo engano, em meados de 1965, Marighella foi baleado e preso quando saía de uma sessão de cinema, não recordo se em São Paulo ou no Rio de Janeiro, e adiante, ele escreveu o livro “Por que Resisti a Prisão!”. Marighella sempre era levado preso ou vivia tangido, foi criminalizado por ser poeta e político.
Em 1967 ele discordou da direção burocrática do Partido Comunista e só aí ele foi para Guerrilha, contra os Atos Instrucionais e aí passou a fazer teses e estratégias programáticas de resistência à ditadura civil-militar. Portanto, foi devido à incapacidade da sociedade brasileira e do Estado em conviver com opiniões e posições diferentes pacificamente, que Marighella se rebelou e combateu por meio da Guerrilha Urbana.
Marighella foi um incompreendido e sem alternativas, sem garantia da liberdade e dos direitos políticos, depois de muito labutar, resolveu usar a força física e lutar, era Engenheiro Civil e deixou filho!
Marighella fez pelo menos 180 pronunciamentos no Congresso Nacional durante a Constituinte que aprovou a Constituição de 1946 e naquela ocasião, garantiu entre outras conquistas a liberdade de crença e culto religioso, instaurando o respeito às religiões e até ao direito de não ter religião, em todas as suas formas.
Uma curiosidade é que ao longo de sua trajetória Marighella foi à Rússia, então União das Repúblicas Soviéticas, foi à China e também esteve em Cuba. Não concordo com a luta armada como alternativa de um povo, por isso carrego essa divergência final com Marighella, mas tenho pela história dele profundo respeito e penso que o Brasil deve sempre aproveitar o exemplo da trajetória dele para construção da paz, do respeito comum entre nós brasileiros e conciliar as contradições entre ricos e não ricos, para superar as diferenças de oportunidades e garantir a emancipação da gente pelo caminho da conciliação entre trabalhadores e não trabalhadores.
Prefiro sempre ressaltar os aspectos favoráveis da trajetória de Marighella e nunca os momentos de confronto. Sim, Marighella era um homem inteligente e sensível.
A minha poesia predileta de Marighella é “Canto para Atabaque”, onde o baiano faz uma menção tristonha à trajetória do líder Congolês Pretrice Lumuba, Primeiro Ministro escolhido pelo voto popular, deposto e assinado em 1960, na República do Congo, em razão do seu perfil político pan-africanista.
Canto para Atabaque
Ei bum!
Qui bum-rum!
Qui bum-rum!
Bum! Bumba!
Ei lu!
Qui lu-lu!
Qui lu-lu!
Lumumba!
Ei Brasil!
Ei bumba meu-boi!
“Mansu, manseba,
traz a navalheta
pra fazer a barba
deste maganeta.”
Lá vem beberrão,
lá vem Bastião,
tocando bexiga
em tudo que é gente.
O engenheiro medindo,
empata-samba empatando,
cavalo-marinho
dançando, dançando.
O boi requebrando,
o boi está morrendo,
o boi levantando…
Ei Brasil-africano!
Minha avó era nega haussá,
ela veio foi da África,
num navio negreiro.
Meu pai veio foi da Itália,
operário imigrante.
O Brasil é mestiço,
mistura de índio, de negro, de branco.
Bum! Qui bum-rum! Qui bum-rum! Bum-bum!
Quem fez o Brasil
foi trabalho de negro,
de escravo, de escrava,
com banzo, sem banzo,
mas lá na senzala,
o filão do Brasil
veio de lá foi da África.
Ei bum!
Qui bum-rum!
Qui bum-rum!
Bum! Bumba!
Ei lu!
Qui lu-lu!
Qui lu-lu!
Lumumba!
Penso que as palavras negro, índio, branco, pobre, favelado, rico, mulher, homem, criança, adulto, idoso, comunista, socialista, capitalista, cristão, judeu, árabe, indiano, brasileiro, americano, africano, gay, lésbicas, trans, etc… deveriam todas ser substituídas apenas por pessoa humana.
Pessoas Humanas, sem distinção, sem competição, com o respeito ao o “eu e ao outro”, sobretudo “ao outro”, em todas as suas singularidades, sendo que o x da questão no Mundo está na adequada proporção do direito de propriedade, para superação de quaisquer diferenças ou estranhamentos entre pessoas humanas.
Defendo constitucionalismo e humanidade a todas, por todas e para todas as pessoas humanas. Queria viver em um Mundo feliz e sem medos. Em 1950 Marighella escreveu manifesto com duras críticas a construção da bomba atômica e pela manutenção da paz entre os povos no Mundo. PAZ!
Alexandre Aguiar é um conquistense radicado na Chapada Diamantina e advogado, sendo que dedicou estas palavras ao seu conterrâneo, amigo e colega, o humanista, Dimitri Sales, que reside no Estado de São Paulo, por ocasião da lembrança dos 48 anos do assassinato do baiano Carlos Marighella.











