É correto você catequizar uma criança para uma determinada religião? É certo as escolas darem aulas específicas de religião, ou apenas estabelecerem uma disciplina sobre história geral das religiões? E o ensino religioso confessional nas escolas públicas foi a decisão acertada do Supremo Tribunal Federal (STF)? Pelo resultado, a laicidade do Estado no Brasil não passa mesmo de uma retórica.

Para o espírita e fundador da “Cidade da Luz”, José Medrado, foi lamentável o voto do STF. Para ele, o professor poderá ensinar a sua própria religião. Na minha modesta leitura, foi um retrocesso e mais lenha na fogueira da intolerância.

Não vou citar atos de agressão religiosa por parte de fanáticos porque são muitos. Segundo Medrado, o Brasil está caminhando em marcha ré para perdas de conquistas individuais e coletivas por todos os lados. O que presenciamos é extremismo em tudo, não só de ideologia – afirmou.

Desde menino fui catequizado pela Igreja Católica e digo mais que sofri lavagem cerebral no meu tempo de adolescência no Seminário. Não vou aqui discutir questão de formação do conhecimento e aprendizagem escolar. Quem passou por isso sabe o que sente, e até hoje carrega consigo marcas, medos e conceitos conservadores difíceis de serem apagados. Confesso que hoje não sigo nenhuma religião e condeno expressamente o fanatismo.

No ensino religioso confessional, de acordo com o último parecer do Supremo, o aluno faz sua opção pela disciplina, ou seja, é uma matéria optativa na escola. Apesar da Religião Católica ser a mais disseminada por tradição cultural desde a formação do país, a Evangélica é a que tem hoje maior visibilidade e expansão.

Hoje não existe apenas uma bancada evangélica no Congresso Nacional, mas também nas escolas públicas. Para se ter uma ideia, quase 100% dos conselheiros titulares da criança e do adolescente de Salvador são evangélicos. As escolas privadas adotam o catolicismo cristão apenas como símbolo, sobrando apenas as unidades de determinadas irmandades ou ordens (Jesuítas, Maristas, Salesianos, Sacramentinas e outras) que são diretamente ligadas à Igreja Católica.

Na verdade, a decisão do Supremo vai sobrar para os pobres, mais presentes hoje nas religiões evangélicas. Nesse caso, os pais vão querer que seus filhos escolham a versão evangélica como disciplina optativa. Estudar a história das religiões no mundo de um modo geral é uma coisa, a outra é o ensino confessional votado pelo Supremo (11 membros) com o desempate da presidente da Corte, Carmen Lúcia.

É fato que a criança não tem o poder de discernimento do que é certo e errado e, para isso, foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente para protegê-la. No entanto, pais fanáticos incutem suas religiões desde cedo nos pequenos, como um torcedor fanático de futebol que coloca em seu filho ainda no berço uma camisa do seu time e fica ao redor do bebê berrando como um brucutu primata.

Como tudo neste Brasil, que se diz laico, vivemos num território cheio de paradoxos, contradições e insensatezes que deveriam ser corrigidos. À criança não deveria ser introduzida conceitos de religião, mas a formação dos bons costumes da moral e da ética. Só depois de crescida, na fase do conhecimento, a pessoa optaria seguir ou não uma religião.

Como uma religião que introduzida ainda na infância fica impregnada na cabeça do ser para sempre, assim é o nome dado pelos pais ao filho, muitas vezes horrível que serve de chacotas. Deveria existir um projeto de lei onde todo nome de criança seria provisório até a faixa dos 16 aos 18 anos. A partir desta idade, a pessoa poderia ir ao cartório e, de forma bem simples e rápida, daria ela mesma seu nome definitivo, isto para quem estivesse insatisfeita e se sentindo incomodada com seu nome esquisito.

Voltando aos paradoxos, no nosso país de profundas desigualdades sociais de doer, é proibido o menor trabalhar, mesmo em serviços leves e acompanhado dos pais. Só que a proibição só funciona para os pobres porque os filhos de ricos, artistas, famosos e celebridades trabalham ganhando dinheiro ainda crianças, exibindo suas imagens na televisão, palcos, shows musicais, chegando a fazer papéis incoerentes e ridículos em relação à s suas idades.

A sociedade hipócrita acha tudo lindo, virtuoso e maravilhoso. A Justiça faz de conta que nada vê por temer uma reação contrária da opinião pública que não aceita o filho do pobre fazer o mesmo. Na religião, a criança é logo cedo submetida a uma lavagem cerebral, o que considero um absurdo. Entendo que deveria respeitar esta fase ainda inocente e deixar que o jovem depois faça sua escolha, se quer ou não seguir a religião dos pais,