De autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Fiquei numa noite solitário,

Depois que todos se foram;

Me senti um ser perdido,

De gosto amargo ardido,

Sem querer ver o dia clarear,

Só vontade de chorar.

 

Nem mais sabia quem sou;

Adormeci naquela mesa de bar,

E o garçom depois me acordou,

Com a conta para pagar.

 

Sai tropeçando por aí,

Em minha frente só o mar;

Meus pensamentos,

O vento levou pelo ar,

Foi então que vi

Aquela morena a me acenar.

Nem achei que fosse para mim

Naquela angústia sem fim.

 

Um carro veloz, como algoz,

Como um perdido na noite,

Me pegou na contramão,

E me levaram para o hospital,

Sem mais mente e coração.

 

Entrei em coma por dez anos,

Intubado cheio de canos,

E quando acordei

Sem início, fim e meio,

No Brasil estava tudo igual,

A corrupção era geral.

 

Não senti mais bater o amor;

Havia passado toda dor,

Andei a vagar, perdido na noite,

De dia, o sol batia nas vitrines,

Preferia viver nas esquinas, sem cor

Do que lembrar,

Daquela noite de terror.