Autoria do jornalista e escritor Jeremias Macário

Por que os poetas,

Não mais protestam

Contra a injustiça social,

O depravado capital,

Só querem falar de amor,

De sofrência e flor,

Acham que agruras,

São palavras feias,

Como em minhas ceias.

 

Em minhas ceias,

Consome-se a fome,

Tem pirão d´ água,

Feijão aguado,

Paçoca de Ouricuri

Carne seca e mocotó,

Com farofa de morotó.

 

Minhas ceias,

São feitas de teias,

Do sangue da guerra,

Do fogo que sai,

Das entranhas dessa terra,

Sem cheiro de alecrim,

Nem lírio e jasmim.

 

Nas ceias desses poetas,

Só ouço o canto do Bem-te-Vi,

Toda vida é doce e bela.

Como se fosse uma aquarela.

 

Minhas ceias são diferentes,

Falo dessas gentes,

Das luas cheias e minguantes,

Dos pobres retirantes,

Que vivem nas correntes

Como se fossem dementes.

 

Minhas ceias

Têm lágrimas

De penitenciárias e cadeias.

 

Minhas ceias

Nascem do sertão forte,

Da luta e da morte;

Brotam das minhas veias,

Minhas ceias,

Não existem sereias,

Saindo do mar

Tem poluição do ar.